sábado, 7 de maio de 2011

RELENDO MOI-MÊME


SANGUE

Azul,
o que dói;
dentro, tua face,
diz a teu sangue.
Suplica, grita;
fala é menos que
gesto. Tempo
de sutura,
diz ao vermelho.
Olhe (dentro)
da carne animal:
só o avesso.
Fala, corte branco,
sol no espelho
da faca. Voz:
ruído de metal,
cascata de ecos,
ouve o teu silêncio.
Não a flor, nem
a hóstia; só o seco
esterco, estrume,
resíduo da fome.
Eis o tempo, soa
a hora. Dizer,
é o de menos: abre
a veia, e então
cauteriza, pacifica
o teu vermelho.

1999

(Do livro A Sombra do Leopardo. Segunda edição: Rio de Janeiro: ed. Multifoco – Selo Orpheu, 2010.)

Um comentário:

  1. Um dos seus maiores momentos, Cláudio. E A Sombra do Leopardo é um dos grandes momentos da literatura nacional.

    Forte abraço!

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