terça-feira, 10 de maio de 2011

RELENDO MOI-MÊME (III)


AKMA

é
o sílex-
lírio-marfil-cimitarra,
gárgula
do incompreensível
silêncio:
é
a nãoverbena, o nãodiamante, o nãopolifemo
o não
anão
(sombra infracta)
o não
(sim!)
a sós

1990


OS CÂNONES DA DOR

unhas nos sulcos
da pele, em todos
os poros da dor:

a dor que é pedra
no limiar da fala
que verte em suor.

o som do inaudível
uivo — uivo ósseo,
uivo epidérmico —

instila, inflama
todas as suturas
e corre, abissal

em verdes glóbulos
de sonora náusea
e dolorosa repulsa.

1991


AS DÁDIVAS


os dons
da água e do vento
silêncio de tigres
— o branco
areais
a areia sem tempo
— o branco
primícias
da sublime desmemória:
vôo de borboletas

1991

KNAAT

heléboro
— mandrágoras —
ecos
de grous, hienas, texugos, zibelinas, anfisbenas
o gris
cinza-esbranquiçado da concha musgo-turmalina
e
o canto
oblíquo
do gafanhoto

tudo isso
— e nada disso —
é o Knaat


2ª versão, 1989

(Poemas de meu livrfo de estreia, Sutra, publicado em 1992, em edição do autor. Poemas desse livro foram republicados em minha antologia pessoal Figuras Metálicas, que saiu pela Perspectiva, em 2005,)

Um comentário:

  1. Anônimo10.5.11

    QUE POEMAS LINDOS, NÃO CONHECIA.VIDA LONGA.ABR.VINICIUS.

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