quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

POEMAS DE BERTOLD BRECHT (IV)

ALGUMAS PERGUNTAS A UM HOMEM BOM

Bom. Para quê?
Você não é corrupto,
Mas o raio que destrói a casa
Também não é corrupto.

Você diz: jamais se desdiz.
Mas o que você diz?
Você é de boa fé
Declara a sua opinião
Mas qual opinião?

Você tem coragem
Contra quem?
Você é um artista
Repleto de sabedoria
Pleno de talento
Para quem?

Você não visa o próprio interesse
O interesse de quem, então?
Você é um bom amigo,
De boa gente?

Então, escuta:
Nós sabemos que você é o nosso inimigo.
Por isso vamos te encostar no paredão.
Mas, em consideração aos seus méritos
E às suas boas qualidades,
Num bom paredão.
E te fuzilar com boas balas
Disparadas por bons fuzis
E te enterrar
Com boa pá
Em terra boa.

Tradução: Maria Alice Vergueiro / Catherine Hirsch


CANÇÃO DE SALOMÃO
(fragmento)

O indiscreto Brecht quis saber
Escutem suas canções
Como os ricos têm poder
De acumular tantos milhões
Pobre no exílio foi parar
Brecht xereta
Bisbilhoteiro
E com o tempo a correr
Enfim o mundo percebeu
Fuçar demais foi a sua perdição
Melhor viver na discrição...

Tradução: Roberto Galizia


DISCURSO FINAL

Fundar um banco
É bom pra preto / branco
Se o dinheiro não se herda
Descole, senão merda.
Boas para isso são ações
Melhor que facas, canhões
Só uma coisa é fatal:
Capital inicial.

E se a grana falta?
Donde vem, se não se assalta?

Tradução: Elias Andreatto

Nenhum comentário:

Postar um comentário