quarta-feira, 3 de novembro de 2010

POEMAS EM PROSA (III)

FRAGMENTOS DE IGITUR

(INTRODUÇÃO)

Antigo Estudo

Quando os sopros de seus ancestrais querem soprar a vela, (graças à qual, talvez, ainda perduram os caracteres do livro de magia) – ele diz “Ainda não!”

Ele mesmo, no fim, quando os ruídos terão sumido, comprovará a evidência de algo grandioso (nenhum astro? o acaso anulado?) do simples fato de poder ocasionar a sombra, soprando sobre a luz.

Depois – como ele terá falado conforme o absoluto – que nega a imortalidade, o absoluto existirá fora – lua, acima do tempo: e ele erguerá as cortinas em frente.

(ARGUMENTO)

4 PARTES:

1 – A Meia-Noite
2 – A Escada
3 – O lance de dados
4 – O descanso sobre as cinzas, após a vela apagada

Mais ou menos o que se segue:
Meia Noite soa — a Meia Noite em que devem ser lançados os dados. Igitur desce as escadas, do espírito humano, vai ao fundo das coisas: “absoluto” como está. Túmulos – cinzas (nenhum sentimento, nem espírito), neutralidade. Ele invoca a predição e consuma o gesto. Indiferença. Silvos na escada. “Estavas enganado”, nenhuma emoção. O infinito provém do acaso, que negastes. Vós, matemáticos, expirastes – eu projetando absoluto. Devia findar em Infinito. Simplesmente palavra e gesto. Quanto ao que vos digo, para explicar minha vida. Nada restará de vós – o Infinito, enfim, escapa à família que o suportou – velho espaço – a ausência do acaso. Ela teve razão em o negar – sua vida – para que ele tenha sido o Absoluto. Isto devia ocorrer nas combinações do Infinito frente ao Absoluto. Necessário – extrai a Ideia. Loucura útil. Um dos atos do universo vem de ser cometido. Mais nada, restava o sopro, fim de palavra e gesto unidos – sopra a vela do ser, pelo que tudo existiu. Prova.

(Investigar tudo isso)


ELE SE DEITA NO TÚMULO

Sobre as cinzas dos astros, as indivisas da família, estava o pobre personagem, após haver bebido a gota de nada que falta ao mar. (O frasco vazio, visão, loucura, tudo o que resta do castelo?) O Nada tenho partido, resta o castelo da pureza.


(Stéphane Mallarmé, Igitur ou A loucura de Elbehnon. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Tradução de José Lino Grunewald.)

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