terça-feira, 29 de setembro de 2009

POETAS DE MACAU (I)

Depois de o ministro Lin Zexu ter sido queimado
pelo fumo do ópio
os meus antepassados começaram a emigrar
para a Montanha de Ouro
deixando na terra natal
as avós a roer as saudades no mato de sarça
Mas a vergonha de serem vendidos como cules
terá sido registrada por algum arquivo histórico?

A história, sempre pela estrada de sentido único
ladeada pelas águas em que flutuam cadáveres
Há inumeráveis histórias
para anotar esse facto
Sempre que contemplo com os olhos dos antigos o cair da chuva
aparece o ditador na bruma
empurrando a história do Palácio Imperial
para decapitá-la na praça da Tribuna Meridiana

*

A história é uma doença incurável
que contamina o meu sangue moderno
por isso tenho de engolir
uma grande dose de antibióticos de Einstein
Afinal, foi o combate da Ponte Lu Go que
fez içar a bandeira da defesa na fortaleza
Eu parti para longe
rumo à fogosa floresta tropical da Indochina
onde fui contaminado pela peste incurável do Verão pleno

Acabei por regressar nos anos de solidão
com a direita espinha dorsal
a marcar a minha dignidade
O vento persegue o eco dos meus passos
e os gemidos ecoam nos meus ouvidos
desde o passado, desde o presente

junho de 1982

(Dois poemas de Tao Li, traduzidos ao português por Yao Jingming)

2 comentários:

  1. Poemas extraídos da Antologia de Poetas de Macau, organizada por Yao Jingming e Jorge Arrimar e publicada pelo Instituto Cultural de Macau em 1999. Ah, sim: sorry, esse livro eu não vendo, não empresto, não xeroco e não dou. Ah braços,

    CD

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  2. maravilhosos poemas. surpreendente como uma realidade se coloca para além da forma na configuração da beleza de um poema...

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