sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

BREVE BALANÇO DO ANO

 












O Brasil viveu o período mais macabro de sua história nos últimos seis anos; em 2022, retomamos a esperança, com a eleição de Lula para presidente.

Apenas este fato já valeu por todo o ano.

Na América Latina, tivemos vitórias eleitorais da esquerda e centro-esquerda no Chile, Colômbia e outros países,  mas sofremos um golpe de estado no Peru e a condenação lavajatista da companheira Cristina Kirchner na Argentina.

A América Latina está polarizada e os conflitos, não apenas eleitorais, devem se agravar nos próximos anos.

Na Europa, os Estados Unidos e a OTAN movem uma guerra por procuração contra a Rússia no território ucraniano, enquanto na Ásia e no Oriente Médio crescem as provocações militares contra a China, a Coreia do Norte e o Irã.

Os EUA tentam, desesperadamente, impor a sua hegemonia em todo o planeta,  mas o rápido crescimento econômico e militar da China e o fortalecimento dos Brics, com o retorno do Brasil ao campo multipolar, indicam a inevitável decadência e queda do Império nos próximos anos e décadas.  

Perdemos Gal Costa, uma das maiores cantoras brasileiras de todos  os tempos, e o que há de melhor na música popular brasileira ainda são os artistas da geração dos anos 1960 – Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Maria Bethânia, todos na faixa dos 80 anos de idade.

No plano pessoal, algumas conquistas e perdas: recebi o grau de shodan (faixa-preta) em Kenbu Tenshin-ryu, uma das modalidades da arte da espada japonesa;  abandonei o curso de instrutores de Tai Chi Chuan, por discordar do bolsonarismo atuante na Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan; voltei a praticar Bojutsu, a arte do bastão longo japonês, com o sensei Rubens Espinoza, iniciai a prática do Kinomichi, arte corporal derivada do Aikidô, e retornei às sessões de zazen, a meditação zen-budista, no Templo Busshinji, da Comunidade Budista Soto zenshu, na Liberdade.

Publiquei dois livros de poesia, Sete olhos & Outros poemas, pela editora Córrego, e Cantigas do Luaréu, pela Arribaçã; iniciei o meu terceiro romance, Janaína, e escrevi alguns poucos poemas novos.  Prefaciei – e participei, com dois poemas – da antologia Uma festa de pão e rosas, dedicada ao centenário do Partido Comunista do Brasil, e publiquei, na Zunái, textos relativos aos 100 anos da Semana de Arte Moderna, duas datas importantes neste ano em que também recordamos o centenário da publicação do Ulisses, de James Joyce, da Terra devastada, de T. S. Eliot, de Trilce, de Vallejo, e de outras obras capitais da literatura universal.

Criei o Banquete – Jornal de Resenhas e Crítica Literária;  publiquei poemas na revista Bric a Brac e em algumas outras revistas nacionais e estrangeiras. E continuo ministrando cursos online no Laboratório de Criação Poética, o que me permite um rico diálogo com meus alunos e alunas, que considero meus amigos e parceiros nesse crime chamado Poesia.  

Em casa, todos bem; adotamos a gatinha Lilith, no início do ano, para fazer companhia ao Simon; Bibi fez 16 anos e completou o ensino médio; e Scheila continua a ser a mulher mais maravilhosa do mundo, companheira para a vida inteira. Acho que é tudo o que tenho a dizer.             

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A POESIA QUE FAZ SENTIDO

 

A POESIA BRASILEIRA QUE FAZ SENTIDO HOJE é quase clandestina. Apresenta um elaborado trabalho de linguagem, tanto no campo da semântica quanto no da sintaxe, no da estrutura e dos códigos, utiliza todos os recursos disponíveis, desde as metáforas, aliterações e assonâncias até recursos sonoros e visuais das mídias eletrônicas, de maneira radical, sem fazer concessões e sem incomodar-se com a acusação de hermetismo ou "incomunicabilidade". É ignorada pelas grandes editoras -- e dá as costas para elas; não é comentada pelo que sobrou da crítica literária e pouco se importa com essa crítica. Está ausente de premiações e festivais literários. Circula em pequenos grupos de leitores cultos, também poetas, na maioria, vide publicações em redes sociais, revistas, blogues, plaquetes ou livros de tiragem reduzida. É uma poesia crítica, não apenas da realidade, mas também da própria poesia -- da facilidade cada vez mais intolerável da "literatura de mercado", que privilegia o que há de mais banal, até infantil, na produção poética contemporânea. Ela será ignorada pelas antologias e pelos construtores de cânones, como algo "maldito", "elitista" ou "inacessível", e permanecerá silenciada por anos ou décadas. Os poetas sérios farão pouco caso disso e seguirão cada vez mais radicais, ousando escrever a poesia mais original e consistente de nossa época.