It was the begginning of time
Laura Riding
O que dizer sobre o esqueleto da noite?
Dizer o enquanto
da tíbia, fíbula,
fêmur, no quase
sempre da
escápula
a sombra do crânio te assombra
te esmurra com o cutelo
das mãos
esmigalha teu sexo morto como zumbi
por isso o úmero
o esterno o frontal
de tua mente perturbada
úmida iriando occipitais
na última luz de pedrarias persas
mas você tem medo
do canto, enquanto,
entretanto
da palavra óssea que te soca
no final turvo
de uma rua
escura
você morre de medo
de um homem-réptil
que é você
sua face escamosa
seu peito escamoso
suas mãos seus pés
escamosos
você monstro escamoso
tem medo da gigante
iguana verde
do pesadelo
você tem medo de sua cabeça
nervurada
de seus pés ao contrário
você sonha e tem medo
da sanha
da criança medonha
que te assopra
no ouvido
palavras sujas
teu medo de hoje
de ontem
dura-máter de anteontem
no entressonho
dos entornos
pode ser a mão morta
de tua mãe atrás da porta
pode ser a lua nova
que zomba de ti
em tua cova
talvez o medo seja
uma mulher louca e preta
com pentelhos pretos
na buceta
mas você não sabe
o que dizer sobre o esqueleto da noite
rótula, sacro, clavícula
em lugarejos
de quando
se você estiver indo
eu estarei voltando
se você estiver sorrindo
eu estarei morrendo
e a lua nova flor de tântalo
apenas te cospe
após a longa noite estrelada
na dura e solene
madrugada
em que você se levanta
da cama
para viver mais um dia
do mais profundo horror.
Claudio Daniel, 2021
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