segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

SEGUNDA LUA

 








It was the begginning of time

Laura Riding

 

O que dizer sobre o esqueleto da noite?

Dizer o enquanto

da tíbia, fíbula,

fêmur, no quase

sempre da

escápula

a sombra do crânio te assombra

te esmurra com o cutelo

das mãos

esmigalha teu sexo morto como zumbi

por isso o úmero

o esterno o frontal

de tua mente perturbada

úmida iriando occipitais

na última luz de pedrarias persas

mas você tem medo

do canto, enquanto,

entretanto

da palavra óssea que te soca

no final turvo

de uma rua

escura

você morre de medo

de um homem-réptil

que é você

sua face escamosa

seu peito escamoso

suas mãos seus pés

escamosos

você monstro escamoso

tem medo da gigante

iguana verde

do pesadelo

você tem medo de sua cabeça

nervurada

de seus pés ao contrário

você sonha e tem medo

da sanha

da criança medonha

que te assopra

no ouvido

palavras sujas

teu medo de hoje

de ontem

dura-máter de anteontem

no entressonho

dos entornos

pode ser a mão morta

de tua mãe atrás da porta

pode ser a lua nova

que zomba de ti

em tua cova

talvez o medo seja

uma mulher louca e preta

com pentelhos pretos

na buceta

mas você não sabe

o que dizer sobre o esqueleto da noite

rótula, sacro, clavícula

em lugarejos

de quando

se você estiver indo

eu estarei voltando

se você estiver sorrindo

eu estarei morrendo

e a lua nova flor de tântalo

apenas te cospe

após a longa noite estrelada

na dura e solene

madrugada

em que você se levanta

da cama

para viver mais um dia

do mais profundo horror.

 

Claudio Daniel, 2021

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário