quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TRÊS POEMAS DE SANDRO SILVA

 












O ÚLTIMO OLHAR DE CHE

inabalável em seus propósitos

para além do corpo caído inerte

aquele olhar se eleva pujante

 

alcança as mais vívidas estrelas

como nova e eterna morada

da coragem sempre vibrante

 

busca paisagens de outras eras

e retorna convicto da inspiração

com o brilho certo e incessante

 

desanuviando os temores daqueles

que têm a humanidade como pátria

para seguirem sempre adiante.

 

 NOSSAS NOITES

 A chuva murmurosa

que cai esta noite

desliza pelos telhados

lisos da memória

 

Em meus devaneios

conhecidos contornos

de teus encarnados

lúdicos lábios

 

Sempre molhados

das tantas outras

de nossas noites

chuvosas a dois.

  

ESTILHAÇOS URBANOS

 

A palavra concretada a frio

ouvida de passagem nas calçadas

espalha-se, sorrateira,  insinuante

como estilhaços insolventes.

 

Distraídos, engolimos a seco

pretensões reversas em papel picado

que se alojam na corrente sanguínea

entre dutos, tuneis e fibra ótica.

 

Entopem o bueiro das ideias

e deixam marcas incuráveis na pele.

 

Desfere.

       Descasca.

                 Desengana.

 

A cidade é um alto-falante:

canhão giratório em sentido único

onde o corpo é sempre o alvo

limite de todos os infortúnios;

 

amálgama a ser combalido

até que nada mais reste além

de ossos descarnados.

Um comentário:

  1. Bravo! Sandro Silva é um dos meus poetas preferidos. Poética que fala comigo

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