O ÚLTIMO OLHAR DE CHE
inabalável em seus propósitos
para além do corpo caído inerte
aquele olhar se eleva pujante
alcança as mais vívidas estrelas
como nova e eterna morada
da coragem sempre vibrante
busca paisagens de outras eras
e retorna convicto da inspiração
com o brilho certo e incessante
desanuviando os temores daqueles
que têm a humanidade como pátria
para seguirem sempre adiante.
NOSSAS NOITES
A chuva murmurosa
que cai esta noite
desliza pelos telhados
lisos da memória
Em meus devaneios
conhecidos contornos
de teus encarnados
lúdicos lábios
Sempre molhados
das tantas outras
de nossas noites
chuvosas a dois.
ESTILHAÇOS URBANOS
A palavra concretada a frio
ouvida de passagem nas calçadas
espalha-se,
sorrateira, insinuante
como estilhaços insolventes.
Distraídos, engolimos a seco
pretensões reversas em papel picado
que se alojam na corrente sanguínea
entre dutos, tuneis e fibra ótica.
Entopem o bueiro das ideias
e deixam marcas incuráveis na pele.
Desfere.
Descasca.
Desengana.
A cidade é um alto-falante:
canhão giratório em sentido único
onde o corpo é sempre o alvo
limite de todos os infortúnios;
amálgama a ser combalido
até que nada mais reste além
de ossos descarnados.
Bravo! Sandro Silva é um dos meus poetas preferidos. Poética que fala comigo
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