quinta-feira, 26 de agosto de 2021
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
TRÊS POEMAS DE SANDRO SILVA
O ÚLTIMO OLHAR DE CHE
inabalável em seus propósitos
para além do corpo caído inerte
aquele olhar se eleva pujante
alcança as mais vívidas estrelas
como nova e eterna morada
da coragem sempre vibrante
busca paisagens de outras eras
e retorna convicto da inspiração
com o brilho certo e incessante
desanuviando os temores daqueles
que têm a humanidade como pátria
para seguirem sempre adiante.
NOSSAS NOITES
A chuva murmurosa
que cai esta noite
desliza pelos telhados
lisos da memória
Em meus devaneios
conhecidos contornos
de teus encarnados
lúdicos lábios
Sempre molhados
das tantas outras
de nossas noites
chuvosas a dois.
ESTILHAÇOS URBANOS
A palavra concretada a frio
ouvida de passagem nas calçadas
espalha-se,
sorrateira, insinuante
como estilhaços insolventes.
Distraídos, engolimos a seco
pretensões reversas em papel picado
que se alojam na corrente sanguínea
entre dutos, tuneis e fibra ótica.
Entopem o bueiro das ideias
e deixam marcas incuráveis na pele.
Desfere.
Descasca.
Desengana.
A cidade é um alto-falante:
canhão giratório em sentido único
onde o corpo é sempre o alvo
limite de todos os infortúnios;
amálgama a ser combalido
até que nada mais reste além
de ossos descarnados.
BRASIL: QUE PAÍS É ESTE?
A partir do dia 09 de agosto,
no curso Brasil: que país é este? estudaremos o Brasil desde o ciclo da cana de
açúcar e o escravismo colonial até os dias de hoje, a partir de textos de Caio
Prado Jr., Darci Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e outros
autores. As aulas serão às segundas-feiras, das 20h às 21h30. Quem tiver
interesse em participar, entre em contato comigo pelo e-mail
claudio.dan@gmail.com ou pelo Whatsapp: (11) 9 4878-2488.
terça-feira, 3 de agosto de 2021
ATÉ QUE VIERAM OS BÁRBAROS
Para Edir Pina de Barros
mulheres banham-se nas águas do rio
elas lavam os cabelos
e cantam
elas lavam os cabelos
e cantam
mulheres banham-se nas águas do rio
depois voltam para casa
e saúdam o espírito
do gavião
depois voltam para casa
e saúdam o espírito
do gavião
mulheres sovam mandioca
no pilão
dizem bom dia
aos lagartos
dizem boa noite
às formigas
mulheres dormem com seus maridos
nas redes
feitas de palhas, cordas e tucum
e fazem amor com eles
sob a luz de Jaci
mulheres dormem com seus maridos
nas redes
feitas de palhas, cordas e tucum
e fazem amor com eles
sob a luz de Jaci
cada dia, a cigarra vermelha
canta o canto do deslumbre
e tudo é deslumbre
cada dia, a cigarra vermelha
canta o canto do deslumbre
e tudo é deslumbre
até o dia
em que vieram os bárbaros
Poema de Claudio Daniel, agosto / 2021
domingo, 1 de agosto de 2021
NOVOS CURSOS EM AGOSTO
Querid@s, no mês de agosto, teremos dois novos cursos:
PROGRAMAÇÃO DO LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO POÉTICA DE 09 A 14 DE AGOSTO
QUATRO POEMAS DE DIRCE CARNEIRO
A
PELE QUE HABITO
Invólucro da matéria
embrulha meus ossos
músculos, nervos
a carne do ser
A pele que me habita
poros do mundo
absorve a matéria
em todos os sentidos
dias cheios de opostos
A pele que me habita
envolve tempos
incertos
VIDA
E MORTE
Exorcizo o medo
voo sobre a cidade
vidas desconfiadas vagam
emudecidas
a fala é ponte ao perigo
Dar as mãos é proibido
o andar é solitário
viver ou morrer, aleatório
mesmo tendo feito opção
Despedidas tristes
humanos vão
sozinhos daqui
do inferno –
para onde?
Recolho as asas
pouso na janela
último olhar
lá fora
Já confundo
o imaginário projetado
na tela cibernética
no livro aberto
as notícias planetárias
com o mundo após a janela
TAÇA INGLÓRIA
A noite entrou
não há lua nem estrelas
os símbolos
as letras
o canto
são meros bibelôs.
Sonhos repousam num barco
no fundo do mar.
águas turvas agitam o mar
há vermelho borbulhando
e não é o néctar vital
nas veias do oceano
é o sangue das artérias
do corpo desfeito
das palavras surdas
é o sangue
da insensatez
da vileza
Casacas brindam
o luto cravado
nos corações de muitos
são loucos
tolos
Nada a celebrar
não há ganho
perdeu-se o elã
do mapa desenhado
Não pode haver brinde
quando a conquista é vil
quando se cravou
um punhal na crença
Lá fora...aqui dentro...
não há regozijo
os que brindam
olham para as masmorras
para as correntes
para o corpo infantil prostituído,
para corpos aviltados
para os que dormem na sarjeta,
para o nosso ouro que se foi
e que ainda irá
Não há ganhos.
Quando se é um
a vitória é de todos...
e a derrota também.
Que será?
EM
CÓDIGOS DESCE O VÉU
contorno a penumbra da noite
véu de chuva esmaece o dia
som de trovões acorda de sonhos
raios lampejam, só tênue chama
sugestão da névoa em riscos molhados
toda vida envolta nas incertezas
unir pontos de chuva em labirinto
a saída, molhar-se, enlamear-se
lavar-se nas mesmas gotas de barro
tornear-se nas mãos umedecidas
pés no pedal, novo em formatação
atenção nas filigranas, detalhes
o diabo mora nos sutilezas
preencher frestas com dedo certeiro
por à unha, inscrição do mais secreto
cravar com sangue o Sol que se avizinha
OPERETA
Maneirismo,
batuque na mesa.
mesóclise à la Jânio,
olha para trás.
Avisa:
é duro,
dedo em riste
vai e vem,
ligeiro,
golpe certeiro.
Aviso aos bandidos:
conheço-os bem,
vadios,
cercam-me,
sirvam–me
fiéis.
Sei o cheiro da traição,
de longe.
Pois eu sou.
Somos.
Pares da mesma dança
Acorrentados.
Peito a peito,
cuspe de um
é o de outro.
lambe o chão
que seu rei pisa.
Deposita no painel
o voto da vergonha.