quarta-feira, 2 de abril de 2014

POEMAS DE MARIZE CASTRO

  
já vivi aqui, já morri aqui
estes destroços me reconhecem

belos rapazes sem pátria
dançam em ruínas que se erguem

sou mãe, irmã, mulher de cada um deles
híbridos e tristes, seduzem-se

jamais esquecem:
a morte é logo
ali


* * *

lenta, ela espera
voraz, ultrapassa-se

atravessa linóleos
em céus dissolve-se

espelhos gigantes
observam

percorre o fio sem cair

um jovem vulcão ecoa
entre suas pernas

antiga mulher, qual sua oferta?


* * *

quando retornou estava velha
ao meu redor dançava quase cega

quis tudo que me pertencia

o filho que permanece em mim
o corpo que não libertei
o céu que jamais foi meu

pensei: tão louca e tão bela
qual dor lhe habita?

eu a olhava, ela me invadia
renove, renove
— repetia

(eu tão concha, ela tão éter)

invadida esqueci de qual
mais raro artefato
perdi

muito mais tarde
por amor
entre folhagens
li em distante lápíde:

Gôngula sem rota, falsa esfinge sem asas
sempre em vigília, sempre à margem



(Poemas do livro Habitar teu nome. Natal: Uma, 2013)

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