quarta-feira, 26 de outubro de 2011

UM POEMA DE ANTÔNIO RAMOS ROSA


A PALAVRA

A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estremece em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
... que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais.

2 comentários:

  1. Grande poeta! Merece o Prêmio Nobel!

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  2. Cláudio,

    como bem disse Adélia Prado, "a palavra é disfarce de uma coisa mais grave".

    Quanto a não ficarmos inertes diante da barbárie, concordo inteiramente que esse deve ser um leito em nosso rio corra. O poeta, com seus instrumentos possíveis, tem que ser - e pode muito bem ser! - um fator de mudanças.

    Abraços!

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