quarta-feira, 8 de maio de 2024

PRIMEIRO POEMA DE 2024

 











BOSQUE DE RADHARANI

 

“flor com mil olhos de água”

Hilda Hilst

 

manhã de neblina

(cachoeira-branco-

azul-do-céu):

pés cruzam ponte de madeira

molhada pela chuva

até o campo

de pétalas

açafroadas.

Barro, pedras

galhos, formigas 

que carregam

farelos, folhas e flores.

No bosque de Radharani

-- moça com olhos de lótus --

tudo canta-encanta:

olhos-de-água

cantam-encantam

flores brancas

cantam-encantam

borboleta negro-azul

canta-encanta

até as pedras cobertas de musgo

cantam-encantam.

Nada existe além do aroma úmido

e dos ruídos do rio.

(Todos os rios oram por Ela

que se banha à meia-noite).

(Todos os rios oram por Ela

que dança com os pés

pintados de vermelho.)

Nada existe além  das árvores

de  troncos inclinados

pinhas queimadas

folhas e gravetos.

Porque tudo o que existe vem Dele,

vem Dela, vem do Ele-Ela

em mil danças de amor dançarino.

Pergunte às árvores.

Pergunte aos rios.

No bosque de Radharani

-- Aquela que encanta o encantador

o encantado encantável

Govinda-de-face-azul-lótus-negrume --

tudo é canto-encanto.


Claudio Daniel

(em Nova Gokula, 2024)

 

 

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