BOSQUE DE RADHARANI
“flor
com mil olhos de água”
Hilda Hilst
manhã de neblina
(cachoeira-branco-
azul-do-céu):
pés cruzam ponte de madeira
molhada pela chuva
até o campo
de pétalas
açafroadas.
Barro, pedras
galhos, formigas
que carregam
farelos, folhas e flores.
No bosque de Radharani
-- moça com olhos de lótus
tudo canta-encanta:
olhos-de-água
cantam-encantam
flores brancas
cantam-encantam
borboleta negro-azul
canta-encanta
até as pedras cobertas de musgo
cantam-encantam.
Nada existe além do aroma úmido
e dos ruídos do rio.
(Todos os rios oram por Ela
que se banha à meia-noite).
(Todos os rios oram por Ela
que dança com os pés
pintados de vermelho.)
Nada existe além
das árvores
de troncos
inclinados
pinhas queimadas
folhas e gravetos.
Porque tudo o que existe vem Dele,
vem Dela, vem do Ele-Ela
em mil danças de amor dançarino.
Pergunte às árvores.
Pergunte aos rios.
No bosque de Radharani
-- Aquela que encanta o encantador
o encantado encantável
Govinda-de-face-azul-lótus-negrume --
tudo é canto-encanto.
Claudio Daniel
(em Nova Gokula, 2024)
Belíssimo!!
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