sábado, 30 de julho de 2022

 







URUTAU

 

Para o Carvalho Junior

 

ave da noite

olho da noite

em nãos

de nunca mais

olho amarelo

nos fumos da noite

lua amarela

em nuncas

de nada mais

emenda-toco

de unhas curvas

uruvati, urutaguá

canta os pedaços de mim.

 

 

dito kuá kuá

dito pássaro-

princesa

canto de arame

e arranha-tripa

se acaso

se entremostrasse

no último infinito

do fim

esfumado

entre agapantos

e alamandras

entre os pedaços de mim.

 

 

uruvati

come-morcegos

urutaguá

come-lagartos

onde está

o meu eu

oh mãe-da-lua?

onde está

a minha ela

oh pássaro-

fantasma?

no último

fim de mim?

 

 

O que canta

no galho

transforma-se

em galho

o que canta

no tronco

transforma-se

em tronco

canto tonto

nos entornos

do sem fim

repercorre ângulos

no mais rascante de mim.

 

(Poema de meu livro Cantigas do Luaréu, publicado neste ano pela editora Arribaçã)

 

 

 

 

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