OSVALDÃO
Ele é vento;
pedra e vento
cobra e vento;
rio de tigres
ocelos de tigres
garras de tigres
invisíveis.
Ele é pássaro
canto de pássaro
tigre-pássaro
mais veloz
do que o vento
tigre-que-voa-
no vento.
Ele é preto,
assum-preto,
pássaro-tigre
mais preto
do que o vento.
Ele é chispa-
faísca que voa
no meio do mato;
voa-revoa no mato
no fundo do mato
pra longe dos longes
dos fundos do mato
como porco do mato.
Quem poderia
segurá-lo?
Quem poderia
prendê-lo?
Ninguém podia.
Ele é água
do rio;
ele é nuvem,
arco-íris,
dizem os ribeirinhos
em Xambioá.
Ele é santo?
Ele é demônio?
O negro forte
que dava conta
de vinte soldados
em cada mão;
ele é mágico?
Ele é Oxóssi,
atirador cuja flecha
sempre acerta
o alvo? Não.
Ele morreu, morreu?
Ele se encantou?
Ele esteve, está?
Ele foi um negro
pobre, como tantos
negros, tantos pobres;
ele foi um brasileiro,
um comunista;
seu nome,
era o terror
de seus inimigos:
ele se chamava
Osvaldo, Osvaldão
do Araguaia.
2022
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