terça-feira, 11 de janeiro de 2022

UM POEMA DE LAURA RIDING


 









ELEGIA NUMA TEIA DE ARANHA

O que dizer enquanto a aranha 

Dizer enquanto a aranha o que 

Enquanto a aranha a aranha o que 

A aranha faz que o que 

Faz que faz que morre não faz 

Não vive e então não 

Pernas pernas e então nenhuma 

Enquanto a aranha faz morre 

Morte aranha morte 

Ou não a aranha ou 

O que dizer enquanto 

Dizer sempre 

Morte sempre 

O morrer de sempre 

Ou viva ou morta 

O que dizer enquanto eu 

Enquanto eu ou a aranha 

Não eu e eu o que 

Faz o que faz morre 

Não enquanto a aranha morre 

Morte aranha morte 

Morte sempre eu 

Morte antes do sempre 

Morte depois do sempre 

Morta ou viva 

Agora e sempre 

O que dizer agora 

Agora e sempre 

O que dizer agora 

Agora enquanto a aranha 

O que faz a aranha 

A aranha o que morre 

Morre enquanto então enquanto 

Então sempre morte sempre 

O morrer de sempre 

Sempre agora eu 

O que dizer enquanto eu

Enquanto eu o que 

Enquanto eu digo 

Enquanto a aranha 

Enquanto eu sempre 

Morte sempre 

Enquanto morte o que 

Morte eu digo diga 

Morta aranha não importa 

Que meticulosa morte 

Viva ou morta 

Morta não importa 

Que meticulosa eu 

O que dizer enquanto 

Enquanto quem enquanto a aranha 

Enquanto a vida enquanto o espaço 

O morrer de oh que pena 

Pobre quão meticulosa morre 

Realidade não importa 

Morte sempre 

O que dizer 

Enquanto quem 

Morte sempre 

Enquanto a morte enquanto a aranha 

Enquanto eu quem eu 

O que dizer enquanto 

Agora antes depois sempre 

Quando então a aranha o que 

Dizer o que enquanto agora 

Pernas pernas então nenhuma 

Enquanto a aranha 

Morte aranha morte 

A gênia que não consegue parar de saber 

O que dizer enquanto a aranha 

Enquanto eu disser 

Enquanto eu ou a aranha 

Viva ou morta o morrer de 

Quem não consegue parar de saber 

Quem morte quem eu 

A aranha quem enquanto 

O que dizer enquanto 

Quem não consegue parar 

Quem não pode 

Não pode parar 

Parar 

Não pode 

A aranha 

Morte 

Eu 

Nós 

Os gênios 

Saber 

O que dizer enquanto a 

Quem não pode 

Enquanto a aranha o que 

O que faz morre 

Morte aranha morte 

Quem não pode 

Morte parar morte 

Para saber dizer o que 

Ou não a aranha 

Ou se eu disser 

Ou se eu não disser

Quem não pode parar de saber 

Quem conhecem os gênios.

Quem diz o eu

Quem ele nós não podemos

Morte parar morte

Para saber dizer eu

Oh pena pobre belezinha

Que meticulosos vida amor

Não importa espaço aranha

Que hórrida realidade

O que dizer enquanto

O que enquanto

Quem não pode

Como parar

O saber do sempre

Quem estes este espaço

Antes depois aqui

Vida agora minha cara

A cara amor a

As pernas reais enquanto

Que hora morte sempre

O que dizer então

Que hora a aranha

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

sábado, 1 de janeiro de 2022

PRIMEIRO POEMA DE 2022

 








OSVALDÃO

 

Ele é vento;

pedra e vento

cobra e vento;

rio de tigres

ocelos de tigres

garras de tigres

invisíveis.

Ele é pássaro

canto de pássaro

tigre-pássaro

mais veloz

do que o vento

tigre-que-voa-

no vento.

Ele é preto,

assum-preto,

pássaro-tigre

mais preto

do que o vento.

Ele é chispa-

faísca que voa

no meio do mato;

voa-revoa no mato

no fundo do mato

pra longe dos longes

dos fundos do mato

como porco do mato.

Quem poderia

segurá-lo?

Quem poderia

prendê-lo?

Ninguém podia.

Ele é água

do rio;

ele é nuvem,

arco-íris,

dizem os ribeirinhos

em Xambioá.

Ele é santo?

Ele é demônio?

O negro forte

que dava conta

de vinte soldados

em cada mão;

ele é mágico?

Ele é Oxóssi,

atirador cuja flecha

sempre acerta

o alvo? Não.

Ele morreu, morreu?

Ele se encantou?

Ele esteve, está?

Ele foi um negro

pobre, como tantos

negros, tantos pobres;

ele foi um brasileiro, 

um comunista;

seu nome,

era o terror

de seus inimigos:

ele se chamava

Osvaldo, Osvaldão

do Araguaia.

 

2022