O resultado do segundo turno das eleições municipais de 2020 nas capitais brasileiras aponta para a crise do bolsonarismo, mas também da esquerda institucional brasileira. Este fato merece reflexão. Bolsonaro já cumpriu a missão histórica oferecida a ele pelas elites brasileiras, em especial aquelas ligadas ao oligopólio da mídia, ao latifúndio, à grande indústria e ao capital financeiro: destruir direitos trabalhistas e previdenciários, precarizar as relações de trabalho, reduzir os investimentos públicos em educação e saúde, retomar a pauta privatista de Collor e FHC, conduzir uma contrarreforma agrária, ampliando as garras do agronegócio em áreas ambientais, reservas indígenas e quilombolas, sem o menor respeito a políticas ambientais, golpear os sindicatos e estigmatizar a esquerda, que assistiu a toda essa tragédia impotente e perplexa, para não dizer acovardada.
No plano internacional, Bolsonaro submeteu o Brasil aos interesses políticos e econômicos dos Estados Unidos, reduzindo nosso país à condição de semicolônia, ao mesmo tempo que se aproximou dos governos mais reacionários do mundo, como Hungria, Ucrânia, Arábia Saudita e Israel, com quem compartilha as pautas misóginas, homofóbicas, racistas e o fundamentalismo religioso. Agora, Bolsonaro não é mais útil: após cumprir o seu papel e destruir o legado de treze anos de governos democrático-populares de Lula e Dilma, sua figura caricata já não é necessária: ele afasta investidores internacionais, cria tensões desnecessárias com o novo governo norte-americano e com a China e faz do Brasil motivo de piada mundial. A burguesia colocou em curso, nessas eleições, fortemente influenciadas pela mídia, a transição de poder da extrema-direita para a direita: Bolsonaro perdeu em quase todas as capitais, ao passo que partidos burgueses como o MDB, PSDB, DEM, PDT e PSB ganharam poder e capital político para as eleições presidenciais de 2022, em que figuras apresentadas como "liberais” ou “moderadas”, como Luciano Huck, poderão conduzir um bolsonarismo econômico sem Bolsonaro.
A esquerda, por sua vez, sofreu uma derrota histórica, fragmentou-se ainda mais e dificilmente estará unida nas próximas eleições. O PCdoB, que perdeu as eleições em Porto Alegre, aposta todas as suas fichas na aliança com partidos burgueses como o PDT e o PSB, sobretudo nos estados do Nordeste, contentando-se com cargos de segundo e terceiro escalão, em nome de uma suposta “frente popular e democrática”, que provavelmente lançará a candidatura do oportunista Ciro Gomes em 2022; o PSOL, apesar de ter marchado junto com o PT em Belém, deve aumentar o seu antipetismo, motivado pelo bom desempenho de Guilherme Boulos em São Paulo, acreditando que dessa forma poderá substituir o PT como principal partido de esquerda no país – política cega e sectária que apenas levará mais água para o moinho da direita; e o PT, embora continue a ser o maior partido político do país em número de filiados, teve a sua influência política seriamente golpeada e se encontra cada vez mais isolado, sobretudo pela forte campanha midiática dirigida contra esse partido desde as falsas acusações do “mensalão” até o golpe de estado de 2016 e a prisão de Lula. O partido precisa se reinventar, a partir das lutas sociais, para voltar a ocupar o seu papel de protagonista no cenário político.
A perspectiva de curto e médio prazo parece ser a de
fortalecimento das políticas neoliberais e aprofundamento da miséria e da
destruição da democracia e dos direitos sociais no Brasil. Neste quadro sombrio
em que vivemos, uma tarefa é imprescindível: a reconstrução do Partido
Comunista, sob a hegemonia do marxismo-leninismo revolucionário.