Caro Jorge, é preciso lembrar que uma coisa é o que está definido no Corão, que protege os direitos das mulheres, e outra coisa são os costumes tribais pré-islâmicos que se mantiveram em algumas culturas, como a infibulação e o uso da burca, que não são práticas islâmicas. Também é interessante lembrar que a situação da mulher muçulmana não é idêntica na Síria, no Líbano, no Irã, no Afeganistão e na Arábia Saudita, para citar apenas alguns países. No Líbano e na Síria, por exemplo, as mulheres vestem-se à moda ocidental e usam os cabelos soltos (apenas as mais religiosas usam o véu). No Irã, as mulheres estudam em universidades, são deputadas, ministras, apresentadoras de TV, trabalham, dirigem carros. Na Arábia Saudita, não podem fazer nada disso, nem mesmo andar na rua sem a companhia do pai, irmão ou marido. As realidades locais são diferentes. O que eu quis apontar neste post é que o direito islâmico garante às mulheres desde o século VII aquilo que no Ocidente surgiu apenas no século XX.
Vale a pena recordar também que a situação das mulheres nos países muçulmanos é usada politicamente pela mídia golpista como justificativa para as agressões imperialistas dos Estados Unidos no Iraque, na Líbia, no Afeganistão e em outros países. Os EUA não têm nenhuma moral para acusar outros povos, já que mantiveram um sistema racista similar ao apartheid até meados da década de 1960, além de assassinar milhões de mulheres coreanas, vietnamitas, árabes, latino-americanas e africanas. Os Estados Unidos são a maior organização terrorista do mundo.
Caro Daniel, estou ciente disso tudo, das diferentes formas como o Corão é reinterpretado (ou reescrito, se quiser, e tratando-se de teocracias mais fundamentalistas ) um pouco por todo o globo. Mas a questão que o Claudio coloca (do paradoxo que se verifica entre o Verbo e a sua praxis) é quase tão gritante como a velha questão do Comunismo, por exemplo. Não foi o Comunismo, na sua génese, uma das mais brilhantes ideias que o espírito humano já concebeu? E, no entanto, entre a sua idealização e a sua aplicação prática algo falhou miseravelmente. Dir-me-á o Claudio que foi o Homem que se meteu de permeio, e eu dar-lhe-ei toda a razão. Com o Corão (e atenho-me a esta religião porque é dela que aqui se fala) passa-se o mesmo. O ónus, uma vez mais, não recaí sobre a ideia mas sobre os ministros que a advogam.
Caro Jorge, minha intenção aqui foi chamar a atenção para o fato de que muitos direitos conquistados pelas mulheres no século VII com o Islã só foram obtidos no século XX, e ainda apontar para o preconceito alimentado pela mídia em relação às mulheres muçulmanas como parte de uma ofensiva ideológica para justificar a agressão imperialista. Certamente, em todas as doutrinas religiosas e políticas, incluindo aqui o cristianismo (que gerou a Inquisição e as Cruzadas), a democracia liberal (que não hesitou em utilizar armas químicas e biológicas no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão) há diferenças entre a teoria e a prática ao longo da história. O Comunismo, ou Socialismo Real, com todos os erros que possa ter cometido, ainda me parece a melhor solução para a humanidade (claro, com a repetição de seus acertos, não de seus erros).
Caro Claudio, não podia estar mais de acordo com as suas palavras e, já agora, com os seus votos no que a uma digna aplicação do Socialismo Real diz respeito.
Claudio Daniel é poeta, romancista, crítico literário e professor de literatura. Nasceu em 1962, na cidade de São Paulo (SP). Cursou o mestrado e o doutorado em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). Realizou o pós-doutoramento em Teoria Literária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É praticante de artes marciais japonesas -- Kenjutsu (a arte da espada samurai), Bojutsu (a arte do bastão longo) e Karatê.Foi diretor adjunto da Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, curador de Literatura no Centro Cultural São Paulo e colunista da revista CULT. Atualmente, Claudio Daniel é editor da revista impressa GROU Cultura e Arte e ministra aulas online de criação literária no Laboratório de Criação Poética. Publicou diversos livros de poesia, ensaio e ficção, entre eles Cadernos bestiais: breviário da tragédia brasileira, Portão 7, Marabô Obatalá, Sete olhos e outros poemas e Dialeto açafrão (sob a lua de Gaza), todos de poesia, o livro de contos Romanceiro de Dona Virgo e os romances Mojubá e A casa das encantadas.
Não é uma questão de julgar mas de constatar: e alguma coisa se perdeu pelo caminho, não?
ResponderExcluirCaro Jorge, é preciso lembrar que uma coisa é o que está definido no Corão, que protege os direitos das mulheres, e outra coisa são os costumes tribais pré-islâmicos que se mantiveram em algumas culturas, como a infibulação e o uso da burca, que não são práticas islâmicas. Também é interessante lembrar que a situação da mulher muçulmana não é idêntica na Síria, no Líbano, no Irã, no Afeganistão e na Arábia Saudita, para citar apenas alguns países. No Líbano e na Síria, por exemplo, as mulheres vestem-se à moda ocidental e usam os cabelos soltos (apenas as mais religiosas usam o véu). No Irã, as mulheres estudam em universidades, são deputadas, ministras, apresentadoras de TV, trabalham, dirigem carros. Na Arábia Saudita, não podem fazer nada disso, nem mesmo andar na rua sem a companhia do pai, irmão ou marido. As realidades locais são diferentes. O que eu quis apontar neste post é que o direito islâmico garante às mulheres desde o século VII aquilo que no Ocidente surgiu apenas no século XX.
ResponderExcluirVale a pena recordar também que a situação das mulheres nos países muçulmanos é usada politicamente pela mídia golpista como justificativa para as agressões imperialistas dos Estados Unidos no Iraque, na Líbia, no Afeganistão e em outros países. Os EUA não têm nenhuma moral para acusar outros povos, já que mantiveram um sistema racista similar ao apartheid até meados da década de 1960, além de assassinar milhões de mulheres coreanas, vietnamitas, árabes, latino-americanas e africanas. Os Estados Unidos são a maior organização terrorista do mundo.
ResponderExcluirCaro Daniel, estou ciente disso tudo, das diferentes formas como o Corão é reinterpretado (ou reescrito, se quiser, e tratando-se de teocracias mais fundamentalistas ) um pouco por todo o globo. Mas a questão que o Claudio coloca (do paradoxo que se verifica entre o Verbo e a sua praxis) é quase tão gritante como a velha questão do Comunismo, por exemplo. Não foi o Comunismo, na sua génese, uma das mais brilhantes ideias que o espírito humano já concebeu? E, no entanto, entre a sua idealização e a sua aplicação prática algo falhou miseravelmente. Dir-me-á o Claudio que foi o Homem que se meteu de permeio, e eu dar-lhe-ei toda a razão. Com o Corão (e atenho-me a esta religião porque é dela que aqui se fala) passa-se o mesmo. O ónus, uma vez mais, não recaí sobre a ideia mas sobre os ministros que a advogam.
ResponderExcluirQuanto aos Estados Unidos e á sua cultura do medo essa é uma outra questão. E aí subscrevo a sua visão na íntegra.
ResponderExcluirCaro Jorge, minha intenção aqui foi chamar a atenção para o fato de que muitos direitos conquistados pelas mulheres no século VII com o Islã só foram obtidos no século XX, e ainda apontar para o preconceito alimentado pela mídia em relação às mulheres muçulmanas como parte de uma ofensiva ideológica para justificar a agressão imperialista. Certamente, em todas as doutrinas religiosas e políticas, incluindo aqui o cristianismo (que gerou a Inquisição e as Cruzadas), a democracia liberal (que não hesitou em utilizar armas químicas e biológicas no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão) há diferenças entre a teoria e a prática ao longo da história. O Comunismo, ou Socialismo Real, com todos os erros que possa ter cometido, ainda me parece a melhor solução para a humanidade (claro, com a repetição de seus acertos, não de seus erros).
ResponderExcluirCaro Claudio, não podia estar mais de acordo com as suas palavras e, já agora, com os seus votos no que a uma digna aplicação do Socialismo Real diz respeito.
ResponderExcluir