sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

UM POEMA INÉDITO DE CLAUDIO DANIEL

















2019
Para Bao Dei

Caminho
de um escuro
a outra treva
no esqueleto da noite.
Palavras são corvos invisíveis.
Tudo é silêncio
num tempo de desaparições.
Apenas no mercado negro
da memória
revisito as cenas
da triste comédia.
O relógio é mudo
as horas abolidas.
Vem, cavalo negro
da insanidade.
Borra o mapa de mim mesmo.
Listas negras
silêncio imposto
execuções nos campos
execuções nas ruas.
Jornais mentem como juízes.
Esta é a rosa dos corvos
companheiro Bao Dei.
Este é o reflexo sujo
da faca nas águas do rio.
Que venham os carrascos.
Que venham os açougueiros.
Nunca deixarei de rebelar-me
nem que seja neste poema
pesado como um navio.
Nunca deixarei de amar o meu amor.
Nesta noite imensa como um sanatório
soldados removem seus rostos
e mostram-se nadas de nada.

2018



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

RECITAL DA CAIXA PRETA













O RECITAL DA CAIXA PRETA é um evento organizado pelo poeta Claudio Daniel que acontecerá no dia 14 de dezembro, sexta-feira, às 19h, no Centro Cultural São Paulo, localizado na rua Vergueiro, n. 1.000, próximo à estação de metrô Vergueiro. Na ocasião, haverá leituras poéticas com a participação de Ademir Assunção, Frederico Barbosa, Luiz Augusto Borgess, Marcelo Ariel, Ruy Proença, Alfredo Fressia, Vanderley Mendonça, Rubens Jardim, Elson Fróes, Scheila D. Sodré, Andréa Catrópa, Assis de Mello, Marcia Tigani, Maria Marta Nardi de Godoy, Andréia Carvalho Gavita, Valério de Oliveira, Sílvia Nogueira, Luiz Ariston Dantas, Paulo de Toledo, Marcia Barbieri IIi, Diana Junkes e Bruno Kaze

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

BRASIL CHOCOU O OVO DA SERPENTE



















Desde o golpe de estado de 2016, que derrubou a presidenta legítima do Brasil, Dilma Rousseff, eleita com 54 milhões de votos, por um movimento de direita liderado pela grande imprensa – sobretudo a Rede Globo de Televisão – e pelo Judiciário, teve início a implantação de um regime autoritário no Brasil, sustentado por grandes empresários, proprietários rurais, banqueiros, militares, pastores neoevangélicos e setores da classe média alta. A prisão sem provas do ex-presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e a  vitória de Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército, defensor da tortura praticada na ditadura militar, nas eleições presidenciais de 2018, deram a esse regime autoritário uma coloração semifascista. 

É possível verificarmos várias afinidades entre os métodos violentos e o discurso de ódio de Jair Bolsonaro com os de Franco, Hitler ou Mussolini, mas há também diferenças importantes. Se a ideologia é similar – negação da diversidade sexual e dos direitos sociais, anticomunismo, antifeminismo, irracionalismo, afirmação da supremacia masculina, branca, cristã e heterossexual, defesa de valores tradicionais em relação à família e à religião, “nacionalismo” (ainda que caricatural) – e também as práticas de intimidação violenta, o projeto econômico do líder autoritário brasileiro é muito diferente. 


Os regimes fascistas clássicos europeus estavam baseados no modelo do estado nacional forte, para fazer frente ao hegemonismo anglo-americano nos campos econômico, político, cultural e militar; havia intervenção estatal direta na economia e algumas concessões foram feitas aos trabalhadores, como a Carta del Lavoro, na Itália, em nome de uma unidade de classes em defesa da “raça” e da “nação” contra a “ameaça comunista”.  


Já o modelo bolsonazista vai em outra direção: defensor do “estado mínimo” neoliberal, pretende extinguir os direitos trabalhistas e previdenciários, permitir que as empresas privadas explorem os trabalhadores sem qualquer tipo de proteção legal aos assalariados, eliminar qualquer barreira protecionista, abrir o mercado brasileiro para o grande capital internacional, privatizar bancos públicos (responsáveis por programas sociais e projetos de desenvolvimento), entregar nossas riquezas naturais – como a Amazônia e as reservas de pré-sal – a investidores estrangeiros, cortar drasticamente os investimentos públicos em educação, saúde, ciência, tecnologia, esportes, além, é claro, de golpear fortemente os sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda, até colocá-los na ilegalidade, utilizando para isso a bizarra lei antiterrorismo e a força policial-militar, incluindo os métodos da tortura e do assassinato de opositores. 


O obscurantismo do novo regime, cujo principal ideoleógo, o radialista e astrólogo Olavo de Carvalho (que se apresenta como “escritor” e “filósofo”), acredita que a terra é plana – inclui ainda a retomada das terras de índios e quilombolas para a atividade econômica, a legalização da posse de armas e da prática da caça, o desrespeito ao meio ambiente, a restrição xenofóbica à entrada de imigrantes no Brasil e a retirada do país de acordos internacionais em relação ao meio ambiente e ao clima (questões consideradas pelos novos detentores do poder como formas de “marxismo cultural”). No campo da educação, o novo regime defende a redução orçamentária, a privatização de universidades públicas, o fim das cotas para afrodescendentes, o ensino à distância desde o fundamental e ainda a extinção de cursos de humanidades, a censura  aos professores, o fim da aplicação do método Paulo Freire, o controle ideológico da bibliografia educacional, a concessão de bolsas de mestrado e doutorado de acordo com o perfil político de cada estudante, entre outras práticas ditadoriais. A implementação desse projeto, evidentemente, só será possível pela destruição do estado democrático de direito e sua substituição por uma ditadura militar-policial. 


Claro, tudo com as bênçãos dos pastores neoevangélicos do chamado “sionismo cristão”, que colaboram com a disseminação de preconceitos contra negros, mulheres, gays, índios e outros setores sociais e fazem o proselitismo político direto pró-Bolsonaro em seus “templos” e emissoras de rádio e televisão. A brutalidade neofascista (ou semifascista) brasileira está a serviço de um neoliberalismo radical, com vestimenta messiânica, que abre mão da soberania do país, inclusive oferendo nosso território para bases militares dos Estados Unidos, para atender aos interesses da grande burguesia imperialista. Neste sentido, o que se passa no Brasil está mais próximo do que ocorre no Leste Europeu, e em particular a Ucrânia, após a queda do bloco socialista e sua substituição por regimes autoritários de direita. Com os Estados Unidos liderados por um gorila como Donald Trump, Israel por Netanyahu, o Brasil por Bolsonaro e a possível vitória da Frente Nacional na França, o mundo viverá um longo período de trevas.  


Claudio Daniel





Links com exemplos da violência praticada no país pelos adeptos de Bolsonaro:

nvio, abaixo, CAPOEIRISTA é morto com 12 facadas por eleitor de bolsonaro: https://bit.ly/2y4nMTm

PROFESSOR é ameaçado de morte por eleitores de bolsonaro: https://glo.bo/2INUOvi

GAY é morto em Curitiba por eleitor de bolsonaro: https://bit.ly/2y2Thxd

JORNALISTA é agredida e ameaçada de estupro, por eleitores de bolsonaro: https://glo.bo/2ykZUu4

ELEITORES de bolsonaro postam fotos com armas nas urnas: https://bit.ly/2yqQBIY

IRMÃ DE MARIELLE É AGREDIDA, COM A FILHA, por eleitores de bolsonaro: https://bit.ly/2pGhlkQ

JOVEM É AGREDIDO por estar vestindo vermelho, por eleitores de bolsonaro: https://bit.ly/2C1ZEDM

MILITANTE é agredida por eleitor de bolsonaro: https://bit.ly/2IHKViu

FUNCIONÁRIA da campanha de Boulos é amaçada com arma por simpatizantes de bolsonaro: https://glo.bo/2MAXod0

CACHORRO é morto em carretata, por eleitores de bolsonaro: https://bit.ly/2QuTxfe

JOVENS SÃO EXPULSOS de condomínio por eleitores de bolsonaro: https://bit.ly/2zYEViO


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

DOIS POEMAS INÉDITOS DE CLAUDIO DANIEL
















FATA MORGANA

A estranha irmã viaja em púrpura
pincela céu de sóis tatuados.
Galhos amorfos; rumor de lagartos;
fungos e olhos espectrais.
Com a espátula-tiara de relâmpagos,
remove o rosto pálido das horas.
Desfaz a pedra e o grilo.
Afunda em jade negro pétala e pégaso,
páramo e pássaro, piano e (púbis) pústula.
Até o limoso escárnio do Insaciado,
unívoco, unívoro, uníssono.


ESCARAVELHOS

Escuro é o caminho onde nos encantamos.
Fragmentados em cenários evasivos,
acreditando em impossibilidades,
lapidamos escamas de serpente albina,
seara difratada onde todo amor coagula.
Somos lunares, aquosos, imprecisos;
ocorre que a música da pele incita ao jogo
de escaravelhos, à pureza do ácido
e da cicatriz.


Dois poemas escritos em 2007, que foram excluídos do livro Fera bifronte e permaneceram inéditos até agora, por motivos que desconheço.  





segunda-feira, 17 de setembro de 2018

TEMPOS SOMBRIOS NA CASA DAS ROSAS

















POR CENSURA POLÍTICA IMPOSTA PELA EMPRESA PRIVADA POIÉSIS, que administra a Casa das Rosas e a Casa Guilherme de Almeida, em São Paulo, não poderei mais realizar atividades culturais nesses espaços. por ter uma posição contrária ao desgoverno do fuhrer Geraldo Alckmin, ao P$DB e ao golpe de estado no Brasil. Para mim, é uma honra ser censurado, senhor diretor Marcelo Tápia -- poeta medíocre cuja obra, para ser ruim, ainda precisa melhorar muito. Poderei apresentar em minha biografia o fato de não ter ficado calado durante a nova ditadura que você, como um cãozinho amestrado, servilmente bajula e apoia, em troca de alguns ossos. Estarei em paz com a minha consciência, minha família e minha história de vida,  e você?


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

UM POEMA DE AGOSTINHO NETO















O CAMINHO DAS ESTRELAS 



Seguindo
           o  caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
sobre a onda sobre a nuvem
com as asas primaveris da amizade

Simples nota musical
Indispensável átomo da harmonia
partícula
germe
cor
na combinação múltipla do humano

Preciso e inevitável
como o inevitável passado escrevo
através das consciências
como o presente

Não abstracto
incolor
    entre ideias sem cor
sem ritmo
    entre as arritmias do irreal
inodoro
     entre as selvas desaromatizadas
     de troncos sem raiz


Mas concreto
vestido do verde
do cheiro novo das florestas depois da chuva

da seiva do raio do trovão
as mãos amparando a germinação do riso
sobre os campos da esperança

A liberdade nos olhos
o som nos ouvidos,
     das mãos ávidas sobre a pele do tambor
num acelerado e claro ritmo
de Zaires Calaáris montanhas luz
vermelha de fogueiras infinitas nos capinzais
      violentados
harmonia espiritual de vozes tam-tam
num ritmo claro de África

Assim
       o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
para a harmonia do mundo. 

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ZUNÁI, REVISTA DE POESIA & DEBATES




AGOSTO / 2018


Entrevista com Ademir Assunção


Traduções: Wallace Stevens, R. H. Blyth, Cecília Vicuña, Joan Navarro, Charles Bukovski, Maya Angalou,

Poemas: Adolfo Montejo Navas (Espanha), Albano Martins (Portugal), Charles Perrone (EUA), Eduardo Espina (Uruguai), Fernando José Karl, Sávio de Araújo, Rosana  Piccolo, Renan Porto


Prosa de Claudio Rodrigues


Galeria: telas de Alex Flemming


Especiais: Da VideoPoesia, ensaio-depoimento de E. M. de Melo e Castro

A poesia como performance, por Fernando Aguiar


Ensaios:



Opinião:

CADERNOS DA PALESTINA


Zunái, Revista de Poesia & Debates, www. zunai.com.br

Preço: Inconcebível. Inefável.

Onde encontrar: no ciberespaço, essa “gran cualquierparte” (Vallejo).

quinta-feira, 28 de junho de 2018

O ECLIPSE DA DEMOCRACIA


















Claudio Daniel

Domenico Losurdo, em sua recente visita a São Paulo, realizou palestra no Sindicato dos Engenheiros sobre o centenário da revolução russa. Losurdo, professor de História da Filosofia na Universidade de Urbino, na Itália, e um dos mais conceituados intelectuais marxistas da atualidade, com vários livros publicados no Brasil (entre eles, Fuga da história?), apresentou a ideia, para alguns controversa, de que a democracia, tal como a conhecemos no Ocidente, não seria possível sem o comunismo.  Como assim, perguntará, perplexo, o coxinha brasileiro? A democracia não é obra do capitalismo? Não exatamente, responderia\ o autor italiano. Quando Marx e Engels publicaram o Manifesto Comunista, em 1848, a grande maioria da população, na Europa e nos Estados Unidos, não desfrutava de nenhum dos direitos civis e políticos básicos que, hoje em dia, identificamos com a democracia: as mulheres, os negros e os trabalhadores assalariados não tinham o direito de voto, que era masculino, branco e censitário. A grande maioria da população, portanto, estava excluída de qualquer tipo de participação política institucional, era submetida a jornadas de trabalho extenuantes, sem direitos trabalhistas, e praticamente não gozava do acesso a serviços públicos de qualidade em educação e saúde.
Os negros norte-americanos eram proibidos de casar ou ter relações sexuais com mulheres brancas, conforme uma legislação que recordava, em muitos aspectos, as Leis de Nuremberg, do III Reich nazista, não participavam das eleições, recebiam salários menores que os trabalhadores brancos, não tinham acesso à universidade e eram vítimas frequentes de linchamentos, que nos EUA tinham o caráter de atração pública: a tortura e assassinato de negros eram vistos por centenas de pessoas, inclusive mulheres e crianças, como se fosse um programa de entretenimento de televisão dos dias de hoje. Conforme escreve Losurdo no artigo Revolução de outubro e democracia no mundo, publicado no livro 100 anos de revolução russa: legados e lições (São Paulo: Anita Garibaldi, 2017): “Para assistirem ao linchamento, as crianças podiam gozar de um dia livre nas escolas. O espetáculo podia incluir a castração, o escalpelamento, as queimaduras, o enforcamento, os disparos de armas de fogo. Os souvenirs para os adquirentes podiam incluir os dedos das mãos e dos pés, os dentes, os ossos e até os órgãos genitais das vítimas, assim como postais coloridos do evento”. Em meados da década de 1960, os negros norte-americanos ainda estavam confinados a um regime de segregação racial similar ao do apartheid na África do Sul, sentavam-se em um lado do ônibus só para eles, afastados dos bancos reservados aos brancos, usavam banheiros diferentes e eram vítimas frequentes de ataques terroristas da organização  Ku Klux Klan. Até hoje, os negros norte-americanos não conquistaram a plena igualdade de condições em relação aos brancos, sendo o grupo social mais atingido pela miséria e pela violência policial nas cidades norte-americanas e ocupam a maior porcentagem entre os presos nos EUA, estimada em 2,5 milhões de pessoas (a maior população carcerária do mundo, dez vezes maior que a da Coreia do Norte, de acordo informe divulgado pela ONU).

Na periferia dos países capitalistas hegemônicos, por outro lado – na Ásia, África e América Latina – as populações locais sofreram, ao longo do século XIX (quando foi publicado o Manifesto Comunista) até metade do século XX,  todos os horrores da ocupação colonial ou semicolonial: saque das fontes de matérias-primas e outras riquezas naturais como o petróleo, gás, ouro, pedras preciosas, carvão vegetal etc. --, exploração brutal da mão-de-obra nativa, ausência de qualquer resquício de soberania ou autodeterminação nacional, discriminação racial, genocídio (como o praticado pelo rei Leopoldo II da Bélgica no Congo ou pelo governo britânico chefiado por Winston Churchill na Índia).

Esta situação se manteve praticamente inalterada até 1917, quando acontece a Revolução de Outubro, na velha Rússia czarista, liderada pelo Partido Bolchevique de Lênin, que provoca a maior mudança política, econômica, social e cultural do século XX. Já nos primeiros anos do poder soviético, as mulheres conquistam o direito ao sufrágio universal, participam do mercado de trabalho em igualdade de condições e de direitos com os homens, ingressam nas universidades, conquistam o casamento civil, o direito ao divórcio e ao aborto e participam ativamente da administração pública: a primeira mulher a exercer o cargo de ministra no mundo foi a soviética Alessandra Kolontai, no governo de Lênin. Os trabalhadores não apenas conquistam o direito ao sufrágio universal, sem nenhuma restrição de gênero, escolaridade ou de renda (algo inédito na Europa até então), como passam a eleger os diretores de fábricas e fazendas e a controlar a administração das empresas, por meio das equipes do Controle Operário, que tinham autonomia para examinar todos os documentos de uma empresa, para fiscalizar a gestão. O governo soviético promulgou uma nova Constituição em 1936, durante o governo de Stalin, que garantia  a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres, brancos e negros,  vetando qualquer prática racista, antissemita ou xenofóbica. Os direitos conquistados pelas mulheres, trabalhadores e comunidades étnicas na União Soviética só foram estendidos aos países da Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guerra Mundial, ou seja, trinta anos após a Revolução de Outubro, e, em alguns casos, como nos Estados Unidos, os negros só obtiveram plenos direitos civis a partir do final da década de 1960. A conquista de direitos democráticos no Ocidente não aconteceu de forma tranquila, pacífica, mas foi o resultado de greves, manifestações e lutas políticas, muitas delas lideradas pelos comunistas. O estado de “bem estar social” europeu, por sua vez, surgiu também no segundo pós-guerra, como resultado dos investimentos do Plano Marshall para a reconstrução dos países europeus e sobretudo do medo capitalista da insatisfação popular e do possível avanço da revolução socialista na Europa Ocidental, após o seu êxito na metade oriental do continente: tratava-se de ceder os anéis para não se perder os dedos.

A democracia burguesa e o “estado de bem estar social”, portanto, são fatos recentes na história ocidental, têm pouco mais de 70 anos e nada indica que sobrevivam por muito mais tempo: hoje, a democracia, tal como a conhecemos, começa a ser um entrave para os interesses do grande capital financeiro, não apenas no Brasil e na América Latina, mas também na Europa e nos EUA. Se antes a democracia era condição para o desenvolvimento e estabilidade do sistema capitalista, agora ela deixa de ser imprescindível a esse mesmo desenvolvimento, pelas crescentes reivindicações da maioria da população, incompatíveis com a desejada concentração de renda pelos grandes grupos erconômicos . É possível que surjam novos sistemas autoritários, como acontece na Ucrânia, em que os interesses do capital se sobreponham a direitos sociais históricos da juventude, dos trabalhadores, mulheres, negros e outras camadas populares. Não será um retorno ao fascismo clássico, da década de 1930, mas um novo fascismo high tech, baseado no modelo de economia neoliberal, na incorporação de novas tecnologias, na destruição das políticas públicas, na remoção dos últimos vestígios keynesianos e social-democratas, no crescimento da desigualdade e da exclusão social e na redução crescente dos direitos sociais, em nome do combate ao terrorismo ou a qualquer outro “vilão” criado pelo discurso único da mídia hegemônica, que fortalece o preconceito racista e xenofóbico contra as comunidades muçulmanas para justificar as guerras de rapina no Oriente Médio e a ocupação ilegal da Palestina pelas forças sionistas. Sinais preocupantes nesse sentido podem ser registrados desde a queda da União Soviética e do bloco socialista europeu, entre 1989 e início da década de 1990: nós assistimos a uma escalada contínua de agressões imperialistas – no Iraque, Afeganistão, Iugoslávia, Somália, Líbia, Síria, para citarmos poucos países --, golpes de estado, como aconteceram no Paraguai, Honduras, Ucrânia, Brasil, e a uma onda conservadora que se aproxima, cada vez mais, do novo fascismo, como podemos verificar nas recentes eleições nos Estados Unidos, França e Alemanha. O mundo unipolar, regido pela lógica de mercado e pelo discurso único da mídia, é um lugar cada vez mais perigoso e o século XXI promete ser um período de acirramento da luta de classes, com consequências totalmente imprevisíveis.