"E todos os sentidos foram amputados"
-- Luís Carlos Patraquim
entretanto a aranha entretece sua
teia expele os fios de fiandeira gotas de seda convertidas em amarras nos
entornos das paredes uma jornada pela noite manuscrita sem temor ao desengano à
desmesura uma jornada na curvatura do ambíguo até a lenta corrosão de tudo
enquanto buscamos entrestrelas entrevértebras uma saída da insanidade um
escape desse alcácer de ínferos onde bolsonazis esfolam fêmeas e hordas urram
de ira nas ruas turbas das trevas zumbis das telas de plasma espancam negros
espancam travecos espancam putas viaturas expandindo luzes multiplicando
mocambos e mortos expostos em vitrines para as festas tanáticas de hitler para
as festas tanáticas de obama para as festas tanáticas de israel celebram falos
celebram falos com pontas de agulha num desfile carnavalesco da morte caveira
neanderthal essa marcha de insanos leitores do globo esses insanos leitores da veja esses insanos leitores da folha esses insanos leitores do völkischer
beobachter há um céu de pureza eu sei em alguma
dimensão da mente há alguma dimensão de pureza eu sei no sutra no tantra no veda mas aqui legiões de dobermans
saúdam o coronel brilhante ustra descerebrados acumulam-se nas igrejas para
louvarem o santo dólar o santo dízimo a santa estrela de david caveira
neanderthal este espaço tétrico onde queimam gárgulas linhas
retorcidas de um metálico esqueleto talvez um anjo extraterrestre chacinado por
ter seis dedos em cada pé não há saída na viagem noturna do corcunda não há
saída neste circo dark de lesmas
liberais lobotomizadas pela mídia então eu caminho entre a alcateia com um maço
de cigarros no bolso e dez moedas de cinco centavos e sigo e persigo uma rota
que não existe uma rota rota uma trilha para fora dessa cova onde talvez quem
sabe seja possível desescrever-me anular-me excluir-me para sempre dessa
página.
(Poema inédito de Claudio Daniel)