sábado, 30 de outubro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
AGORA É DILMA!
Quando o Brasil vivia sob a ditadura militar, algumas pessoas fugiram. Outras ficaram e lutaram. Muitos anos depois, algumas pessoas mudaram de lado, e se tornaram aliadas da extrema-direita. Outras, continuaram lutando por mudanças sociais no Brasil. São essas pessoas que fazem toda a diferença. No dia 31, diga NÃO ao retrocesso, vote em Dilma!
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
ARTIMANHAS POÉTICAS 2010
A segunda edição do festival literário Artimanhas Poéticas será realizada nos dias 13 e 14 de novembro (sábado e domingo) no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro (RJ), com curadoria dos poetas Claudio Daniel e Gabriela Marcondes. O evento contará com a participação de críticos literários como Heloísa Buarque de Hollanda, poetas como Claudia Roquette-Pinto, Arnaldo Antunes, Frederico Barbosa, André Vallias, entre outros. O festival incluirá palestras, debates, recitais, apresentação de poesia visual e videopoesia, lançamentos e performances. Confira a programação em http://artimanhaspoticas2010.blogspot.com/
terça-feira, 26 de outubro de 2010
ZUNÁI, REVISTA DE POESIA E DEBATES
A escrita plural. Uma conversa com Arnaldo Antunes.
Filosofia e poesia em Roberto Piva, ensaio de Chiu Yi Chih.
“Feliz daquele que ao ver o relâmpago não diz: a vida é breve”. Três contos inéditos de Wilson Bueno.
Galeria: exposição virtual de Leda Catunda e Adriana Peliano.
Debate: A crítica literária sociológica consegue compreender a poesia contemporânea?
Grandes Sermões: Vieira e Haroldo de Campos, ensaio de Tide Carvalho.
Desafios da tradução criativa: invenção, “transfingimento” e cruzamentos culturais, ensaio de Maria Esther Maciel.
O crítico e o poeta: silêncio de Barthes sobre Francis Ponge, ensaio de Leda Tenório da Mota.
O Evangelho segundo Jesus Cristo e O Evangelho segundo Judas, ensaio de Aurora Bernardini.
Poemas de Ana Marques Gastão (Portugal), Fernanda Dias (Macau), Jorge Arrimar (Angola), Alfredo Fressia (Uruguai), Andréa Catrópa (Brasil), Leonardo Gandolfi (Brasil).
Traduções de Paul Verlaine, Arthur Rimbaud, George Trakl, Henri Michaux, Rainer Maria Rilke, John Keats, Philip Larkin.
Matérias especiais: Festival Tordesilhas, Poetas de Língua Portuguesa.
Zunái, Revista de Poesia & Debates: http://www.revistazunai.com/.
Preço: Inefável; inconcebível.
Onde encontrar: no ciberespaço, essa “Gran Cualquierparte” (Vallejo).
Filosofia e poesia em Roberto Piva, ensaio de Chiu Yi Chih.
“Feliz daquele que ao ver o relâmpago não diz: a vida é breve”. Três contos inéditos de Wilson Bueno.
Galeria: exposição virtual de Leda Catunda e Adriana Peliano.
Debate: A crítica literária sociológica consegue compreender a poesia contemporânea?
Grandes Sermões: Vieira e Haroldo de Campos, ensaio de Tide Carvalho.
Desafios da tradução criativa: invenção, “transfingimento” e cruzamentos culturais, ensaio de Maria Esther Maciel.
O crítico e o poeta: silêncio de Barthes sobre Francis Ponge, ensaio de Leda Tenório da Mota.
O Evangelho segundo Jesus Cristo e O Evangelho segundo Judas, ensaio de Aurora Bernardini.
Poemas de Ana Marques Gastão (Portugal), Fernanda Dias (Macau), Jorge Arrimar (Angola), Alfredo Fressia (Uruguai), Andréa Catrópa (Brasil), Leonardo Gandolfi (Brasil).
Traduções de Paul Verlaine, Arthur Rimbaud, George Trakl, Henri Michaux, Rainer Maria Rilke, John Keats, Philip Larkin.
Matérias especiais: Festival Tordesilhas, Poetas de Língua Portuguesa.
Zunái, Revista de Poesia & Debates: http://www.revistazunai.com/.
Preço: Inefável; inconcebível.
Onde encontrar: no ciberespaço, essa “Gran Cualquierparte” (Vallejo).
MAIS KOZER
A MORTE SE VESTE DE CORAL
Desce dois degraus de cimento.
E logo outros dois degraus de limo.
Refulge em redor seu dente de ouro.
Por um motete antigo, sei que é ruiva.
Senta-se em seu trono de cipó, pousa a planta dos pés em uma esteira de palma-real.
É imutável o trono, indestrutível a palma-real.
Exige as Vésperas marianas de Monteverdi, solícitos executam-nas.
Aplaude, aplaude bêbada, golpeia-se nas coxas, pó de ossos derramam.
Majestosa, ajusta a peruca ruiva em um espelho oval de brilho impenetrável.
Ei-la aí, toda de coral, na verdade do azougue.
A MORTE SE REVOLVE EM SUA POCILGA DE OSTEOPOROSE
Em cada omoplata o ideograma que a prefigura.
No púbis uma rosácea de ouro em fibra de vidro.
No fêmur a rotação (mocho) das duas veletas.
Gema de ovo as falanges, tendões, rótulas.
O úmero puro padecimento do peixe boquiaberto
ao sol: chuva de estrelas meteoritos a coluna
vertebral ao se estrelarem as duas pupilas atônitas
contra a muralha do bastião: o grito cravado
de Ícaro na queda: parietal esfenóides arco
zigomático e vômer de súbito na pá de lixo.
Um escapulário. Um crucifixo. Hissope e cíngulo.
Mitra de cálcio e fósforo; capa fluvial de magnésio.
Útero de alumínio, tabela periódica o coração.
Num piscar de olhos com vaselina nos penetra (com)
seu vocabulário (exíguo) e uma ou outra frase-feita:
utópico, ilusório; esquece o tango e canta bolero.
O quadro, viva efeméride, é completado por um cavalo
matungo: anca que exibe o Santo Graal, anca que
exibe o selo chamejante do Averno: e justo no
meio o Unigênito ginete da foice.
A MORTE RETIRA A MÁSCARA, A CARA,
O CRÂNIO, O NADA, E SURGE O BOM DEUS
Entrego-lhe
a moeda
de cobre
que trago
debaixo da
língua.
O Bom
Deus
põe-se
a rir e
me tira
a folharada
que tenho
na cabeça,
umas lianas
no olhar,
um resto
de barro
na fronte,
o esterno,
e dos
mamilos
aos lábios.
Traduções: Claudio Daniel e Luiz Roberto Guedes
Desce dois degraus de cimento.
E logo outros dois degraus de limo.
Refulge em redor seu dente de ouro.
Por um motete antigo, sei que é ruiva.
Senta-se em seu trono de cipó, pousa a planta dos pés em uma esteira de palma-real.
É imutável o trono, indestrutível a palma-real.
Exige as Vésperas marianas de Monteverdi, solícitos executam-nas.
Aplaude, aplaude bêbada, golpeia-se nas coxas, pó de ossos derramam.
Majestosa, ajusta a peruca ruiva em um espelho oval de brilho impenetrável.
Ei-la aí, toda de coral, na verdade do azougue.
A MORTE SE REVOLVE EM SUA POCILGA DE OSTEOPOROSE
Em cada omoplata o ideograma que a prefigura.
No púbis uma rosácea de ouro em fibra de vidro.
No fêmur a rotação (mocho) das duas veletas.
Gema de ovo as falanges, tendões, rótulas.
O úmero puro padecimento do peixe boquiaberto
ao sol: chuva de estrelas meteoritos a coluna
vertebral ao se estrelarem as duas pupilas atônitas
contra a muralha do bastião: o grito cravado
de Ícaro na queda: parietal esfenóides arco
zigomático e vômer de súbito na pá de lixo.
Um escapulário. Um crucifixo. Hissope e cíngulo.
Mitra de cálcio e fósforo; capa fluvial de magnésio.
Útero de alumínio, tabela periódica o coração.
Num piscar de olhos com vaselina nos penetra (com)
seu vocabulário (exíguo) e uma ou outra frase-feita:
utópico, ilusório; esquece o tango e canta bolero.
O quadro, viva efeméride, é completado por um cavalo
matungo: anca que exibe o Santo Graal, anca que
exibe o selo chamejante do Averno: e justo no
meio o Unigênito ginete da foice.
A MORTE RETIRA A MÁSCARA, A CARA,
O CRÂNIO, O NADA, E SURGE O BOM DEUS
Entrego-lhe
a moeda
de cobre
que trago
debaixo da
língua.
O Bom
Deus
põe-se
a rir e
me tira
a folharada
que tenho
na cabeça,
umas lianas
no olhar,
um resto
de barro
na fronte,
o esterno,
e dos
mamilos
aos lábios.
Traduções: Claudio Daniel e Luiz Roberto Guedes
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
UM POEMA DE JOSÉ KOZER
A MORTE SE DISFARÇA DE MORTE
É hipotética. Provável que não existam nem seu disfarce nem sua figura. Nunca nasceu. Outra de
tantas configurações do desconhecimento: com o
traje de bailarina as pernas longas (dois
caniços) de fuligem; gira e gira sua inexistência
desfazendo inexistência ao redor: vede, duas gotas
de piche (duas pupilas) no cenário. Vede-a,
com seu lenço de erva (beldroega) de nada; seu
chapéu de areia (guirlanda de fuligem) fará crescer uma
planta espessa no meio do nada. Artifício. Biombo.
Colo desnudo; gira, libélulas ósseas. Gira, panegíricos
ao ósseo microorganismo. A letra do desconhecimento
atrás da qual um orifício azul conduz a uma porta
inexistente de azuis desmoronados que se abre a um
corredor gris de pêndulos entrechocando, chispa, brasa,
sujeira (nada) do rastro de uma poeira que
aspira a ser (gris): vede, oráculo da cinza o Disfarce.
Vede, a farinha do outro saco, cinza; o proceloso mar
dos poetas, brasa onde se extingue a inexistência
da noctiluca encharcada em seu nada: velha parelha a
água estagnada e a morte; velho disfarce do fogo essa
velha parelha. Provável que não exista o cravo de papel
da China que adorna sua lapela, a nuvenzinha (fuligem) do
olho mais que provável que não exista: seu olho desatento,
olho da Desouvinte. Clama, e verás. Implora, e o que ouves?
Tira-o da manga de sua túnica com jarreteiras de urina
e verá cair escória de vermes fornicando no meio do
ar sua inexistência: Generala, seu nome. Úvula; ouve seu
silêncio. Parturiente, vede brotar dela por partenogênese
o fio extremo de uma saliva semeada de cinza: boa a
floração (verás). Levanta a cabeça, tira a máscara, rasgue
a teia do olhar, o véu que recobre o órgão real da
visão, e verás: mata o olfato tapa os ouvidos guarda
essas mãos nos bolsos (se não pode contê-las, corte-as):
e o olho só o olho então fixo a olhar (vejas) (e verás)
in extremis, atrás do ícone, a idéia do ícone, e atrás da idéia a
mistura da cinza. Desce à gruta, tua gota com a língua
raspando, deposita: seiva tornada saliva retornada por ação já
atenuada do fogo um alvor de cinza retornado por elaboração
do nada outra poeira de inexistência, verás brotar. Já a vês?
Com seu disfarce de idade inexistente, vestígio indeterminado da
lâmina de relva, fosso para o corpúsculo esvaziado de seu nada, migalha
semeando migalhas de inexistência. Aparece, pijama listrado,
a barba de três dias, o soro gotejando outra obstrução de
urina, outra gama de nada desaparece.
Tradução: Claudio Daniel
É hipotética. Provável que não existam nem seu disfarce nem sua figura. Nunca nasceu. Outra de
tantas configurações do desconhecimento: com o
traje de bailarina as pernas longas (dois
caniços) de fuligem; gira e gira sua inexistência
desfazendo inexistência ao redor: vede, duas gotas
de piche (duas pupilas) no cenário. Vede-a,
com seu lenço de erva (beldroega) de nada; seu
chapéu de areia (guirlanda de fuligem) fará crescer uma
planta espessa no meio do nada. Artifício. Biombo.
Colo desnudo; gira, libélulas ósseas. Gira, panegíricos
ao ósseo microorganismo. A letra do desconhecimento
atrás da qual um orifício azul conduz a uma porta
inexistente de azuis desmoronados que se abre a um
corredor gris de pêndulos entrechocando, chispa, brasa,
sujeira (nada) do rastro de uma poeira que
aspira a ser (gris): vede, oráculo da cinza o Disfarce.
Vede, a farinha do outro saco, cinza; o proceloso mar
dos poetas, brasa onde se extingue a inexistência
da noctiluca encharcada em seu nada: velha parelha a
água estagnada e a morte; velho disfarce do fogo essa
velha parelha. Provável que não exista o cravo de papel
da China que adorna sua lapela, a nuvenzinha (fuligem) do
olho mais que provável que não exista: seu olho desatento,
olho da Desouvinte. Clama, e verás. Implora, e o que ouves?
Tira-o da manga de sua túnica com jarreteiras de urina
e verá cair escória de vermes fornicando no meio do
ar sua inexistência: Generala, seu nome. Úvula; ouve seu
silêncio. Parturiente, vede brotar dela por partenogênese
o fio extremo de uma saliva semeada de cinza: boa a
floração (verás). Levanta a cabeça, tira a máscara, rasgue
a teia do olhar, o véu que recobre o órgão real da
visão, e verás: mata o olfato tapa os ouvidos guarda
essas mãos nos bolsos (se não pode contê-las, corte-as):
e o olho só o olho então fixo a olhar (vejas) (e verás)
in extremis, atrás do ícone, a idéia do ícone, e atrás da idéia a
mistura da cinza. Desce à gruta, tua gota com a língua
raspando, deposita: seiva tornada saliva retornada por ação já
atenuada do fogo um alvor de cinza retornado por elaboração
do nada outra poeira de inexistência, verás brotar. Já a vês?
Com seu disfarce de idade inexistente, vestígio indeterminado da
lâmina de relva, fosso para o corpúsculo esvaziado de seu nada, migalha
semeando migalhas de inexistência. Aparece, pijama listrado,
a barba de três dias, o soro gotejando outra obstrução de
urina, outra gama de nada desaparece.
Tradução: Claudio Daniel
domingo, 24 de outubro de 2010
UM POEMA DE REMY DE GOURMONT
LITANIES DE LA ROSE
A Henry de Groux
Fleur hypocrite,
Fleur du silence.
Rose couleur de cuivre, plus frauduleuse que nos joies,
rose couleur de cuivre, embaume-nous dans tes men-
songes, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose au visage peint comme une fille d'amour, rose au
coeur prostitue, rose au visage peint, fais semblant d'etre
pitoyable, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose a la joue puerile, 6 vierges des futures trahisons,
rose a la joue puerile, innocente et rouge, ouvre les rets
de tes yeux clairs, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose aux yeux noirs, miroir de ton neant, rose aux
yeux noirs, fais-nous croire au mystere, fleur hypocrite,
fleur du silence.
Rose couleur d'or pur, 6 coffre-fort de 1'ideal, rose
couleur d'or pur, donne-nous la clef de ton ventre, fleur
hypocrite, fleur du silence.
Rose couleur d'argent, 'encensoir de nos reves, rose
couleur d'argent prends notre coeur et fais-en de la
fumee, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose au regard saphique, plus pale que les lys, rose au
regard saphique, offre-nous le parfum de ton illusoire
virginite, fleur hypocrite, fleur du silence.
A Henry de Groux
Fleur hypocrite,
Fleur du silence.
Rose couleur de cuivre, plus frauduleuse que nos joies,
rose couleur de cuivre, embaume-nous dans tes men-
songes, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose au visage peint comme une fille d'amour, rose au
coeur prostitue, rose au visage peint, fais semblant d'etre
pitoyable, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose a la joue puerile, 6 vierges des futures trahisons,
rose a la joue puerile, innocente et rouge, ouvre les rets
de tes yeux clairs, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose aux yeux noirs, miroir de ton neant, rose aux
yeux noirs, fais-nous croire au mystere, fleur hypocrite,
fleur du silence.
Rose couleur d'or pur, 6 coffre-fort de 1'ideal, rose
couleur d'or pur, donne-nous la clef de ton ventre, fleur
hypocrite, fleur du silence.
Rose couleur d'argent, 'encensoir de nos reves, rose
couleur d'argent prends notre coeur et fais-en de la
fumee, fleur hypocrite, fleur du silence.
Rose au regard saphique, plus pale que les lys, rose au
regard saphique, offre-nous le parfum de ton illusoire
virginite, fleur hypocrite, fleur du silence.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
MINHA ESTANTE (IV)
Caros, gostaria de recomendar a vocês a leitura do livro Sobre a Crítica Literária Brasileira no Último Meio Século, de Leda Tenório da Motta, que saiu pela editora Imago, em 2002. Leda faz uma avaliação brilhante das duas principais tendências de nossa crítica, a sociológica, de Antonio Candido, e a sincrônica, de Haroldo de Campos, buscando seus antecessores históricos e fazendo uma avaliação de seus pressupostos, escolhas e formas de atuação. In my opinion, é leitura obrigatória para se entender o que ocorre, ainda hoje, na crítica literária e nas discussões teóricas sobre poesia e literatura, dentro e fora do âmbito universitário.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
MINHA ESTANTE (III)
O Cinema Enciclopédico de Peter Greenaway, coletânea de ensaios organizada por Maria Esther Maciel (São Paulo: Unimarco Editora, 2004), traz textos de estudiosos da obra do cineasta inglês, que dirigiu filmes como O Livro de cabeceira, O Bebê Santo de Macon e A Última Tempestade. O livro inclui um ensaio polêmico do próprio Greenaway intitulado Cinema: 105 anos de texto ilustrado. Livro MUITO INTERESSANTE.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
ZUNÁI, URGENTE
Caros, a revista Zunái está fora do ar, momentaneamente, por motivos técnicos, mas até o final da semana estará on line novamente. A edição de outubro terá a bordo Arnaldo Antunes, Leda Catunda, Aurora Bernardini, Horácio Costa, Leda Tenório da Mota, inéditos de Wilson Bueno e muita coisa mais, aguardem...
MINHA ESTANTE (II)
Ideograma: Lógica, Poesia e Linguagem, livro organizado por Haroldo de Campos (São Paulo: Edusp, 2000), reúne ensaios de Ernst Fenollosa (Os caracteres da escrita chinesa como instrumento para a poesia, texto essencial para as formulações teóricas de Ezra Pound), Sergei Eisenstein (O princípio cinematográfico e o ideograma), de Chang Tung-Sun (A teoria do conhecimento de um filósofo chinês) e do próprio Haroldo de Campos. É um livro indispensável para quem deseja estudar a estrutura do ideograma e suas relações com a poesia e o cinema.
MINHA ESTANTE
Artesanatos de Poesia, de Mário Faustino (São Paulo: Companhia das Letras, 2004), traz ensaios preciosos sobre Edgar Allan Poe, Baudelaire, Rimbaud, Yeats, Corbière, Laforgue e outros poetas, além de ótimas traduções desses autores, feitas pelo próprio Faustino. Estes textos foram publicados originalmente no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, na página Poesia-Experiência, entre 1956 e 1959. Faustino foi um de nossos melhores poetas-críticos. Um ensaio fundamental desse volume é o dedicado a Ezra Pound, com quase cem páginas. O melhor trabalho sobre Pound escrito por um autor brasileiro, em minha opinião.
domingo, 17 de outubro de 2010
PORTAL SIETE
(fragmentos)
* * *
Con la brutalidad
de una calavera cantante.
Con un muerto en cada línea,
y una rosa para cada muerto,
ella pregunta a sus lagartos:
¿qué existe más allá de la piel?
Ningún misterio más allá del verde césped numerable hasta el infinito.
* * *
Números delinean las esquinas de la eternidad.
Muertos beben de los pulsos
de nuestras manos.
* * *
Ninguna lengua es la mía;
éste es el motivo de mi desprecio
a los que simulan sinceridad.
* * *
Serpiente cambia de piel con el pez transmutado en gallo,
en sueño, en sombra, en nada.
(Poema em processo de Claudio Daniel, traduzido ao espanhol por Joan Navarro.)
* * *
Con la brutalidad
de una calavera cantante.
Con un muerto en cada línea,
y una rosa para cada muerto,
ella pregunta a sus lagartos:
¿qué existe más allá de la piel?
Ningún misterio más allá del verde césped numerable hasta el infinito.
* * *
Números delinean las esquinas de la eternidad.
Muertos beben de los pulsos
de nuestras manos.
* * *
Ninguna lengua es la mía;
éste es el motivo de mi desprecio
a los que simulan sinceridad.
* * *
Serpiente cambia de piel con el pez transmutado en gallo,
en sueño, en sombra, en nada.
(Poema em processo de Claudio Daniel, traduzido ao espanhol por Joan Navarro.)
sábado, 16 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
QUATRO HAICAIS
Ervas de Verão!
Eis o que resta do sonho
dos guerreiros mortos.
(Bashô)
As folhas da ameixeira
sob a chuva de verão
têm a cor do vento
(Saimaro)
A fêmea do grilo
comido pelo gato
canta o seu lamento.
(Kikaku)
A sombra das árvores!
Também a minha se move
sob o luar de inverno.
(Shiki)
Traduções: Casimiro de Brito.
Eis o que resta do sonho
dos guerreiros mortos.
(Bashô)
As folhas da ameixeira
sob a chuva de verão
têm a cor do vento
(Saimaro)
A fêmea do grilo
comido pelo gato
canta o seu lamento.
(Kikaku)
A sombra das árvores!
Também a minha se move
sob o luar de inverno.
(Shiki)
Traduções: Casimiro de Brito.
DOIS TANKAS
Na minha terra natal
As flores ainda cheiram
Como antigamente
Nada porém sabemos
Do coração dos homens.
(Anônimo)
Na palma da minha mão
Um pouco de água onde a lua,
Breve, se refletiu.
Terá sido mesmo a lua?
Assim passei por este mundo.
(Ki No Tsurayuki)
Traduções: Casimiro de Brito
As flores ainda cheiram
Como antigamente
Nada porém sabemos
Do coração dos homens.
(Anônimo)
Na palma da minha mão
Um pouco de água onde a lua,
Breve, se refletiu.
Terá sido mesmo a lua?
Assim passei por este mundo.
(Ki No Tsurayuki)
Traduções: Casimiro de Brito
terça-feira, 12 de outubro de 2010
BUSHIDO, O CÓDIGO DE HONRA DOS SAMURAIS
Eu não tenho pais,
Faço do céu e da terra meus pais.
Eu não tenho casa,
Faço do mundo minha casa.
Eu não tenho poder divino,
Faço da honestidade meu poder divino.
Eu não tenho pretensões,
Faço da minha disciplina minha pretensão.
Eu não tenho poder mágico,
Faço da personalidade meu poder mágico.
Eu não tenho vida ou morte,
Faço das duas uma, tenho vida e morte.
Eu não tenho visão,
Faço da luz do relâmpago a minha visão.
Eu não tenho ouvidos,
Faço da sensibilidade meus ouvidos.
Eu não tenho língua,
Faço da prontidão minha língua.
Eu não tenho leis,
Faço da autodefesa minha lei.
Eu não tenho estratégia,
Faço da liberdade de matar e ressucitar minha estratégia.
Eu não tenho projetos,
Faço do apego às oportunidades meus projetos.
Eu não tenho princípios,
Faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio.
Eu não tenho táticas,
Faço da escassez e da abundância minha tática.
Eu não tenho talento,
Faço da minha imaginação meu talento.
Eu não tenho amigos,
Faço da minha mente minha única amiga.
Eu não tenho inimigos,
Faço da distração meu inimigo.
Eu não tenho armadura,
Faço da benevolência minha armadura.
Eu não tenho castelo,
Faço do caráter meu castelo.
Eu não tenho espada,
Faço da perseverança minha espada.
Faço do céu e da terra meus pais.
Eu não tenho casa,
Faço do mundo minha casa.
Eu não tenho poder divino,
Faço da honestidade meu poder divino.
Eu não tenho pretensões,
Faço da minha disciplina minha pretensão.
Eu não tenho poder mágico,
Faço da personalidade meu poder mágico.
Eu não tenho vida ou morte,
Faço das duas uma, tenho vida e morte.
Eu não tenho visão,
Faço da luz do relâmpago a minha visão.
Eu não tenho ouvidos,
Faço da sensibilidade meus ouvidos.
Eu não tenho língua,
Faço da prontidão minha língua.
Eu não tenho leis,
Faço da autodefesa minha lei.
Eu não tenho estratégia,
Faço da liberdade de matar e ressucitar minha estratégia.
Eu não tenho projetos,
Faço do apego às oportunidades meus projetos.
Eu não tenho princípios,
Faço da adaptação a todas as circunstâncias meu princípio.
Eu não tenho táticas,
Faço da escassez e da abundância minha tática.
Eu não tenho talento,
Faço da minha imaginação meu talento.
Eu não tenho amigos,
Faço da minha mente minha única amiga.
Eu não tenho inimigos,
Faço da distração meu inimigo.
Eu não tenho armadura,
Faço da benevolência minha armadura.
Eu não tenho castelo,
Faço do caráter meu castelo.
Eu não tenho espada,
Faço da perseverança minha espada.
domingo, 10 de outubro de 2010
O bastão curto, ou jô, faz parte das técnicas de armas do Aikidô, assim como a espada de madeira (bokken), a espada de metal (kataná) e a faca de madeira (tanto). O treino com armas ajuda a entender melhor os movimentos a mãos nuas (taijutsu), além de trabalhar muito com a concentração, a percepção, a intuição, a sensibilidade, as noções de espaço e tempo e o fluxo de energia a nossa volta. São armas para o autoconhecimento, para a busca da harmonia interna e do equilíbrio, apesar de sua origem nas artes da guerra (bujutsu).
O QUE ESTOU LENDO...
Um livro muito interessante que estou lendo é A Filosofia do Aikidô, de John Stevens (São Paulo: Cultrix, 2001). Não se trata de um trabalho sobre o treino da arte marcial ou de suas técnicas, mas de sua sabedoria, que descende da tradição cultural, religiosa e filosófica japonesa (xintoísmo, zen-budismo, bujutsu etc.). Morihei Ueshiba, o criador do Aikidô, tinha um pensamento pacifista, ecológico e holístico, opunha-se à política nacionalista e militarista, à destruição do meio ambiente, à exploração dos trabalhadores pelo capitalismo e tinha uma visão ao mesmo tempo mística, social e política. Ele mudou a concepção tradicional do bushidô: o importante, agora, para o guerreiro, não deveria ser o ideal da morte gloriosa, mas a afirmação da vida e a proteção da comunidade. O Sensei acreditava que o Aikidô é uma arte para todos os povos e países, sem distinção de sexo, raça ou religião. Morihei Ueshiba foi também poeta, e muitos de seus ensinamentos foram transmitidos na forma de poemas.
sábado, 9 de outubro de 2010
NÓS ESTAMOS COM A DILMA
“É preciso transformar a vida para cantá-la em seguida”
— Vladimir Maiakovski
O Brasil tem hoje a oportunidade histórica de escolher entre dois caminhos.
O primeiro é o do crescimento econômico aliado a políticas de participação social, com distribuição de renda, respeito às minorias, aos jovens, às mulheres, ao meio ambiente, aos direitos humanos e à cultura. Um caminho de soberania e independência nacional em que a justiça social está colocada em primeiro lugar.
O segundo é o caminho da exclusão, de uma política econômica voltada às privatizações, à extinção de direitos trabalhistas, à defesa dos privilégios dos grandes grupos empresariais, enfim, um caminho de concentração de riqueza e de menosprezo às demandas das classes trabalhadoras.
Nós, poetas e escritores, acreditamos que o Brasil está passando por um profundo processo de mudança desde a eleição de Lula para a presidência da república e queremos a continuidade dessa jornada.
Por essa razão, estamos com Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), que representa um compromisso de luta e a continuidade da esperança.
(Confiram os nomes dos escritores que já assinaram este manifesto em apoio à candidatura de Dilma Rousseff na página http://dilma13brasil.blogspot.com/)
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
MAIS VALLEJO
EPÍSTOLA AOS TRANSEUNTES
Recomeço meu dia de coelho,
minha noite de elefante em repouso.
E, para mim, digo:
esta é minha imensidade em bruto, a cântaros,
este meu grato peso, que me buscara abaixo para pássaro;
este é meu braço
que por sua conta recusou ser asa,
estas são minhas sagradas escrituras,
estes meus alarmados testículos.
Lúgubre ilha me iluminará continental
enquanto o capitólio se apóie em minha íntima derrocada
e a assembléia em lanças clausure meu desfile.
Porém quando eu morrer
de vida e não de tempo
quando forem duas minhas duas maletas,
este há de ser meu estômago em que coube minha lâmpada
em pedaços,
esta aquela cabeça que expiou os tormentos do círculo
em meus passos,
estes esses vermes que o coração contou por unidades,
este há de ser meu corpo solidário
pelo qual vela a alma individual; este há de ser
meu umbigo em que matei meus piolhos natos,
esta minha coisa coisa, minha coisa tremebunda.
Enquanto isso, convulsiva, asperamente,
convalesce meu freio,
sofrendo como sofro da linguagem direta do leão;
e, posto que existi entre duas potestades de tijolo,
convalesço eu mesmo, sorrindo de meus lábios.
Tradução: José Arnaldo Villar
Recomeço meu dia de coelho,
minha noite de elefante em repouso.
E, para mim, digo:
esta é minha imensidade em bruto, a cântaros,
este meu grato peso, que me buscara abaixo para pássaro;
este é meu braço
que por sua conta recusou ser asa,
estas são minhas sagradas escrituras,
estes meus alarmados testículos.
Lúgubre ilha me iluminará continental
enquanto o capitólio se apóie em minha íntima derrocada
e a assembléia em lanças clausure meu desfile.
Porém quando eu morrer
de vida e não de tempo
quando forem duas minhas duas maletas,
este há de ser meu estômago em que coube minha lâmpada
em pedaços,
esta aquela cabeça que expiou os tormentos do círculo
em meus passos,
estes esses vermes que o coração contou por unidades,
este há de ser meu corpo solidário
pelo qual vela a alma individual; este há de ser
meu umbigo em que matei meus piolhos natos,
esta minha coisa coisa, minha coisa tremebunda.
Enquanto isso, convulsiva, asperamente,
convalesce meu freio,
sofrendo como sofro da linguagem direta do leão;
e, posto que existi entre duas potestades de tijolo,
convalesço eu mesmo, sorrindo de meus lábios.
Tradução: José Arnaldo Villar
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
LIBERDADE DE IMPRENSA?
Liberdade de imprensa, no Brasil, é a liberdade dos donos dos jornais, que impõem a sua versão dos fatos como sendo a "verdade". Quando um jornalista ousa desafiar essa versão e escreve algo que contraria a opinião de seus patrões, é censurado ou demitido, como aconteceu agora com Maria Rita Kehl, dispensada do jornal O Estado de S. Paulo por causa do artigo que segue abaixo. Esta é a "democracia" dos tucanos e da mídia.
DOIS PESOS...
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
UM POEMA DE CÉSAR VALLEJO
TRILCE, LX
Es de madera mi paciência,
sorda, vegetal.
Día que has sido puro, niño, inútil,
que naciste desnudo, las léguas
de tu marcha, van corriendo sobre
tus doce extremidades, ese doblez ceñudo
que después deshiláchase
en no se sabe qué últimos pañales.
Constelado de hemisférios de grumo,
bajo eternas américas inéditas, tu gran plumaje,
te partes y me dejas, sin tu emoción ambígua,
sin tu nudo de sueños, domingo.
Y se apolilla mi paciência,
y me vuelvo a exclamar: ¡Cuándo vendrá
el domingo bocón y mudo del sepulcro;
cuándo vendrá a cargar este sábado
de harapos, esta horrible sutura
del placer que nos engendra sin querer,
y el placer que nos DestieRRA!
TRILCE, LX
É de madeira minha paciência,
surda, vegetal.
Dia que tens sido puro, infantil, inútil
que nasceste nu, as léguas
de tua marcha, vão correndo sobre
tuas doze extremidades, esse vinco cenhoso
que depois desfia-se
em não se sabe que últimas fraldas.
Constelado de hemisférios de grumo,
sob eternas américas inéditas, tua grande plumagem,
te partes e me deixas, sem tua emoção ambígua,
sem teu nó de sonhos, domingo.
E se rói minha paciência,
e eu volto a exclamar: Quando virá
o domingo falastrão e mudo do sepulcro;
quando virá levar este sábado
de farrapos, esta horrível sutura
do prazer que nos engendra sem querer,
e o prazer que nos DesteRRA!
Tradução: Claudio Daniel
Es de madera mi paciência,
sorda, vegetal.
Día que has sido puro, niño, inútil,
que naciste desnudo, las léguas
de tu marcha, van corriendo sobre
tus doce extremidades, ese doblez ceñudo
que después deshiláchase
en no se sabe qué últimos pañales.
Constelado de hemisférios de grumo,
bajo eternas américas inéditas, tu gran plumaje,
te partes y me dejas, sin tu emoción ambígua,
sin tu nudo de sueños, domingo.
Y se apolilla mi paciência,
y me vuelvo a exclamar: ¡Cuándo vendrá
el domingo bocón y mudo del sepulcro;
cuándo vendrá a cargar este sábado
de harapos, esta horrible sutura
del placer que nos engendra sin querer,
y el placer que nos DestieRRA!
TRILCE, LX
É de madeira minha paciência,
surda, vegetal.
Dia que tens sido puro, infantil, inútil
que nasceste nu, as léguas
de tua marcha, vão correndo sobre
tuas doze extremidades, esse vinco cenhoso
que depois desfia-se
em não se sabe que últimas fraldas.
Constelado de hemisférios de grumo,
sob eternas américas inéditas, tua grande plumagem,
te partes e me deixas, sem tua emoção ambígua,
sem teu nó de sonhos, domingo.
E se rói minha paciência,
e eu volto a exclamar: Quando virá
o domingo falastrão e mudo do sepulcro;
quando virá levar este sábado
de farrapos, esta horrível sutura
do prazer que nos engendra sem querer,
e o prazer que nos DesteRRA!
Tradução: Claudio Daniel
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
FESTIVAL ARTIMANHAS POÉTICAS 2010
A segunda edição do festival literário Artimanhas Poéticas será realizada nos dias 13 e 14 de novembro (sábado e domingo) no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro (RJ), com curadoria dos poetas Claudio Daniel e Gabriela Marcondes. O evento contará com a participação de críticos literários como Heloísa Buarque de Hollanda, poetas como Claudia Roquette-Pinto, Arnaldo Antunes, Frederico Barbosa, André Vallias e os portugueses Jorge Melícias e Luís Serguilha, entre outros. O festival incluirá palestras, debates, recitais, apresentação de poesia visual e videopoesia, lançamentos e performances.
Programação:
Dia 13 de novembro
14h
Debate: A poesia escrita em outras esferas. Com Heloísa Buarque de Hollanda, Gabriela Marcondes e André Vallias.
Mediação: Claudio Daniel.
15h
Programação:
Dia 13 de novembro
14h
Debate: A poesia escrita em outras esferas. Com Heloísa Buarque de Hollanda, Gabriela Marcondes e André Vallias.
Mediação: Claudio Daniel.
15h
Recital/performance: Gabriela Marcondes, André Vallias, Victor Paes, Alice Santana, Domingos Guimarães, Valeska de Aguirre e Ana Costa Ribeiro.
Projeção: poemas visuais e poemas-objeto de Arnaldo Antunes, Elson Fróes, Gabriela Marcondes, André Vallias, Marcelo Sahea e Paulo de Toledo.
16h
Debate: O diálogo poético entre o Brasil e Portugal: conquistas e desafios. Com Luís Serguilha, Jorge Melícias, Claudio Daniel e Marcus Mota.
Mediação: Leonardo Gandolfi.
Lançamento: livros dos selos Arqueria, Multifoco, Azougue e Lumme Editor.
18h
Recital: Claudia Roquette-Pinto, Claudio Daniel, Casé Lontra Marques, Camila Vardarac, Frederico Barbosa, Marcelo Tápia, Donny Correia, Lígia Dabul, Jorge Melícias.
Dia 14 de novembro:
14h
Palestra: A poesia brasileira hoje. Com Frederico Barbosa.
Lançamento: livros dos selos Arqueria, Multifoco, Azougue e Lumme Editor.
16h
Debate: A importância das organizações sociais para a para a gestão da cultura. Com Marcelo Tápia e Donny Correia.
Mediação: Frederico Barbosa.
18h
Exibição do filme Cidade Resposta, de Márcio-André.
18h15
Recital: Lígia Dabul, Sylvio Back, Thiago Ponce de Moraes, Pablo Araújo, Flávio Castro, Masé Lemos, Dado Amaral, Anderson Fonseca.
Local: Centro Cultural da Justiça Federal, Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro (RJ). CEP 20040-009.
Apoio: Centro Cultural da Justiça Federal, Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Confraria do Vento, Portal Literal e Zunái, Revista de Poesia e Debates.
Confira a edição de 2009 do evento na página http://artimamhas.blogspot.com/
18h
Exibição do filme Cidade Resposta, de Márcio-André.
18h15
Recital: Lígia Dabul, Sylvio Back, Thiago Ponce de Moraes, Pablo Araújo, Flávio Castro, Masé Lemos, Dado Amaral, Anderson Fonseca.
Local: Centro Cultural da Justiça Federal, Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro (RJ). CEP 20040-009.
Apoio: Centro Cultural da Justiça Federal, Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Confraria do Vento, Portal Literal e Zunái, Revista de Poesia e Debates.
Confira a edição de 2009 do evento na página http://artimamhas.blogspot.com/
sábado, 2 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
UM POEMA DE JOHN KEATS
ODE A UMA URNA HELÁDICA
Vós ainda indeliciada noiva da quietude,
vós, afilhada do Silêncio e do Tempo lentíssimo,
historiadora silvática, que assim podeis expressar
um flóreo relato melhor do que nossa rima:
qual por folhas bordada lenda sobrevoa forma
vossa, por deidades ou mortais, ou ambos,
em Tempe ou ravinas da Arcádia? Que homens
ou deuses são estes? quais relutantes donzelas?
Qual perseguição louca? Qual luta por escapar-se?
Quais tubas e címbalos? Qual êxtase selvagem?
Melodias ouvidas são doces, mas as que não o foram
mais doces ainda; assim, vós, tubas macias, tocais;
não à sensual oitiva, porém, mais encarecidamente,
ao espírito silvidos sem som: bela jovem
sob as árvores, não podeis emitir sequer um tom
nem jamais serão tais árvores decíduas;
franco Amante, nunca, nunca podereis beijá-la,
ainda que perto de seu bem -mas não vos aborreceis:
ela não pode desaparecer, mesmo que não a atingirdes,
pois para sempre a amareis, e ela sempre bela!
Ah felizes, felizes cachos! que não podeis estender
vossos racimos, nem acenar adeuses à Primavera;
e, feliz, feliz melodista, despreocupado,
para sempre a assoprar sempre novas músicas;
Mais amor feliz! e mais, amor mais feliz!
para sempre cálido e ainda por ser gozado,
para sempre pulsante e para sempre jovem;
todos respirando a humana paixão no mais alto,
que edulcora ao máximo o coração dolente,
e faz-nos chamejar a fronte, e a língua em pergaminho.
Quem são estes que vieram ao sacrifício?
a qual verde altar, Oh sacerdote misterioso,
dirigistes essas vitelas que se encolhem aos céus,
com flancos sedosos e cobertos por grinaldas?
Qual vilarejo à margem de rio ou litoral,
ou ereto na montanha ao pé de cidadela,
ter-se-á esvaziado de suas gentes, na manhã pia?
E, vilarejo, tuas ruas para todo o sempre
serão silentes; e vivalma haverá, que diga
por que desolado estás, que venha a ti retornar.
Ó forma ática! formosa atitude! com rendilhados
de homens e damiselas de mármore entremeados,
com troncos de bosques e sementes pisadas;
Vós, forma silenciosa! aguçais nosso pensar
para a eternidade. Pastoral fria!
Quando a velhice devastar esta geração,
permanecereis, em meio a cuitas outras
que as nossas, amiga do homem, a quem dizeis:
"O veraz é belo e o belo, veraz, -- isto é tudo
por saber na terra, e o que deveis saber".
Tradução: Horácio Costa
(Leia outras traduções de Keats na edição de outubro da Zunái.)
Vós ainda indeliciada noiva da quietude,
vós, afilhada do Silêncio e do Tempo lentíssimo,
historiadora silvática, que assim podeis expressar
um flóreo relato melhor do que nossa rima:
qual por folhas bordada lenda sobrevoa forma
vossa, por deidades ou mortais, ou ambos,
em Tempe ou ravinas da Arcádia? Que homens
ou deuses são estes? quais relutantes donzelas?
Qual perseguição louca? Qual luta por escapar-se?
Quais tubas e címbalos? Qual êxtase selvagem?
Melodias ouvidas são doces, mas as que não o foram
mais doces ainda; assim, vós, tubas macias, tocais;
não à sensual oitiva, porém, mais encarecidamente,
ao espírito silvidos sem som: bela jovem
sob as árvores, não podeis emitir sequer um tom
nem jamais serão tais árvores decíduas;
franco Amante, nunca, nunca podereis beijá-la,
ainda que perto de seu bem -mas não vos aborreceis:
ela não pode desaparecer, mesmo que não a atingirdes,
pois para sempre a amareis, e ela sempre bela!
Ah felizes, felizes cachos! que não podeis estender
vossos racimos, nem acenar adeuses à Primavera;
e, feliz, feliz melodista, despreocupado,
para sempre a assoprar sempre novas músicas;
Mais amor feliz! e mais, amor mais feliz!
para sempre cálido e ainda por ser gozado,
para sempre pulsante e para sempre jovem;
todos respirando a humana paixão no mais alto,
que edulcora ao máximo o coração dolente,
e faz-nos chamejar a fronte, e a língua em pergaminho.
Quem são estes que vieram ao sacrifício?
a qual verde altar, Oh sacerdote misterioso,
dirigistes essas vitelas que se encolhem aos céus,
com flancos sedosos e cobertos por grinaldas?
Qual vilarejo à margem de rio ou litoral,
ou ereto na montanha ao pé de cidadela,
ter-se-á esvaziado de suas gentes, na manhã pia?
E, vilarejo, tuas ruas para todo o sempre
serão silentes; e vivalma haverá, que diga
por que desolado estás, que venha a ti retornar.
Ó forma ática! formosa atitude! com rendilhados
de homens e damiselas de mármore entremeados,
com troncos de bosques e sementes pisadas;
Vós, forma silenciosa! aguçais nosso pensar
para a eternidade. Pastoral fria!
Quando a velhice devastar esta geração,
permanecereis, em meio a cuitas outras
que as nossas, amiga do homem, a quem dizeis:
"O veraz é belo e o belo, veraz, -- isto é tudo
por saber na terra, e o que deveis saber".
Tradução: Horácio Costa
(Leia outras traduções de Keats na edição de outubro da Zunái.)