terça-feira, 30 de junho de 2009

GALERIA: IMAGENS DO JAPÃO (V)



Bokken, a espada de madeira utilizada em treinos de Kenjutsu e Aikidô.

DOIS POEMAS DE MARIANNE MOORE

A JELLY-FISH

Visible, invisible,
a fluctuating charm
an amber-tinctured amethyst
inhabits it, your arm
approaches and it opens
and it closes; you had meant
to catch it and it quivers;
you abandon your intent.


ÁGUA-VIVA

Visível, invisível,
um encanto flutuante
uma ametista âmbar-viva
a habita, teu braço
se aproxima e ela abre
e fecha; o pensamento
de agarrá-la e ela estremece;
abandonas teu intento.


ARTHUR MITCHELL

Slim dragonfly toorapid for the eye
to cage —
contagious gem of virtuosity —
make visible, mentality.
Your jewels of mobility

reveal
and veil
a peacock-tail
.


ARTHUR MITCHELL

Libélula sutil
rápida demais para o olho
enjaular —
gema contagiosa de virtuosidade —
visibiliza a mentalidade.
Tuas mobilidades de esmeralda

revelam
e velam
pavão e cauda.


Traduções: Augusto de Campos.

(Leiam mais na edição de agosto da Zunái.)

DISTO E DAQUILO


Caros, recebi o livro Lar, de Armando Freitas Filho, recém-publicado pela Companhia das Letras, que estou lendo com satisfação. Ele é um dos poetas que me interessam mais, hoje, pelo sentido construtivo e riqueza de imaginário.

Horácio Costa também publicou dois títulos preciosos: as plaquetes Paisagem II (Demônio Negro) e Quando o meu generoso coração falhar (Arqueria), que reúnem poemas bem recentes, escritos neste ano, e enviados aos amigos por e-mail (incluindo um poema escrito na fila de espera de um hospital de São Paulo).

Horácio, Armando e poucos outros poetas que escrevem hoje são verdadeiros samurais da poesia, que mantêm sempre afiado o fio da espada da linguagem.

Outra coisa: saiu há pouco o n. 19 da revista Coyote, editada por Ademir Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes, com boas surpresas, incluindo uma entrevista inédita com o xogum João Cabral de Melo Neto. Leiam mais informações a respeito no Blog da Zunái (confiram na lista de links aí ao lado).

Por falar em Zunái, estou fechando a edição de agosto da revista, que terá colaborações de samurais como Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Wilson Bueno, Leda Tenório da Mota, Aurora Bernardini e um elenco de poetas jovens de primeira linha, como as nukenins Adriana Versiani e Camila Vardarac. Além de um caderno especial com textos e imagens do Artimanhas Poéticas.

Nas horas vagas, releio o imperador Guimarães Rosa: Magma (seu único livro de poemas), Primeiras estórias, Sagarana, Grande Sertão: Veredas... há muitos anos, Rosa é o único prosador que eu sempre releio, com o mesmo prazer da primeira descoberta. Poucas experiências estéticas são comparáveis a esta.

Continuo dando aulas de criação poética no Ateliê do Centro, dentro das atividades do Laboratório de Criação Poética. Haverá novas vagas em julho, quem quiser se inscrever, é só mandar um e-mail para claudio.dan@gmail.com.

Ufa! Que mais?

No dia 15 de julho, farei o lançamento da Fera Bifronte na Livraria da Vila do Itaim, entre as 16 e as 19h, após o debate sobre Filosofia Oriental e Poesia, com a participação do ninja Claudio Willer.

E em outubro haverá nova edição do Artimanhas Poéticas, dessa vez em Adamantina, no interior de São Paulo.

Bem, por ora é isso.

Banzai,

CD

DO POSFÁCIO DE E. M. DE MELO E CASTRO

“A poesia de Claudio Daniel logo se me impôs como uma poesia da leitura, mais do que uma poesia da escrita, precisamente no espaço de uma dialética do desejo e do jogo que suscita a fruição. Uma poesia que provoca o leitor na sua função de produtor de signos interpretantes, mais do que lhe propondo uma poética da escrita, ao modo da poesia experimental. Escrita predominantemente conotativa, é certo, mas que desvia o leitor da tentação da identificação entre autor e escrita, para privilegiar as relações entre o texto e o leitor, levando-o a ler e reler, até à formação de uma constelação de significados probabilísticos e talvez efêmeros, mas todos de elevada fruição e prazer. (...) O registro estilístico é um registro mínimo, evocando o condensare de um Ezra Pound ou de um Ungaretti, e acirrando a luta entre as “feras” vivas mas ocultas nos poemas (palavras de carbono) e a sua plenitude de uma mítica provável, de que o leitor será também responsável. (...) Qualidades essas que nos poemas de Claudio Daniel nos aparecem numa escrita mínima, em versos de poucas sílabas e de forma visual esguia, em que a condensação é apenas um disfarce fenotextual de uma estrutura subliminar de alcance mítico muito mais complexo.


É o que acontece com os pequenos animais que animam muitos dos poemas de Claudio Daniel, principalmente do livro Pequenas aniquilações, tais como: Formiga, Traça, Pulga, Barata, Piolho. Ou ainda em outros livros, outros animais: Caranguejo, o camelo, o cetáceo, o tigre, o leão, os peixes; ou partes de animais: o olho, a cabeça, a anticabeça, o osso, os seios, e Poros, Cabelos, Unhas, Dentes, Sangue, cuja natureza de feras escritas se comunica a pequenos objetos do quotidiano: Chave de Fenda, Secador de cabelos, Guarda-chuva, Garrafas, Botas de Borracha. Mas também No olho da agulha, ou mesmo na Memória, nas Sex shop, Pet shop e até na Coffee shop… Mas também os lugares referidos (ou feridos?) no livro A Sombra do Leopardo comparecem nos textos dos poemas, não como fatos descritivos mas sim como signos ferozes que remetem o leitor para zonas inesperadas da sua imaginação que poderemos constatar estar contaminada pelo estilema do excesso, característico do Barroco.

Por isso nos vêm à memória os poemas das séries das frutas e das flores de Soror Maria do Céu (1658–1753) notabilíssima poeta do Barroco português e contemporânea da pintora Josefa d’Óbidos, famosa pelas pinturas de frutos e flores que esteticamente correspondem às séries dos poemas de Maria do Céu, tal como foi estudado comparativamente por Ana Hatherly no ensaio As misteriosas portas da ilusão, a propósito do imaginário piedoso em Sóror Maria do Céu Josefa d’Obidos, in Josefa d’Óbidos e o Tempo Barroco, Coordenação de Vítor Serrão, Lisboa, 1993.

A organização de séries temáticas, tais como as já citadas da poesia de Claudio Daniel, mas também as obras com semelhante organização temática, como O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luís Borges, ou As Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino (para só dar dois exemplos do século XX), constituem referências inequívocas do ressurgimento de certos aspectos do Barroco a que hoje se chama de Neobarroco, estética esta que, tendo-se iniciado por volta de 1960, pode ser considerada hoje como o denominador comum das diversas manifestações artísticas inventivas contemporâneas."

(Trecho do posfácio de Fera Bifronte, escrito pelo poeta português E. M. de Melo e Castro.)

UM POEMA DA FERA BIFRONTE


ESCRITO EM OSSO

I

Fósseis argumentos
Esqueléticas grafias
Autofágica página
Inescrita, devoluta.

*
lepra da língua simulando sêmele.
mão-do-caos
olho-de-treva
um corvo azul irrompe
no poema.

*
Extinção de estrela ou
Mudez do mar.

*
falange deslabiada contradição
entre memória e mundo.

*
Fossem falcões de simetria,
Mas apenas figuras

Espiraladas.

*
palavras desventradas
da cadela, sons fecais
em hinos de desmemória.

*
Pois toda história humana
É um volume fechado
De cíclica desleitura.

*
um corvo azul irrompe
no poema.

*
Essa a letra fosca a peripécia
O motejo expandido
Em espelhismo de lacraias.

II

sou espectro de mim.

*
no extravio das hipóteses,
expansão de territórios
fermentando fêmures

(ruínas de um vocabulário;
escura caligrafia
rasurando crânios).

desfoliante na curva do vento,
onde o leão do labirinto
recifra-se em ecos.

(...)

sou alimária de mim.

*
a mente como um focinho
escavando raízes
no aterro da memória

(palavras são despojos,
o sentido fraturado de tudo:
cegueira inventando cores).

precárias percepções
do caos ensimesmado:
nenhuma música aqui.

(...)

sou descosturado de mim.

*
flagelar os chifres do céu,
catarata-capricórnio
esfumada em carbono

(destrinchar o mapa celeste
com cálculos e equações
até o nada absoluto.)

num ponto qualquer
do planeta, órgãos retirados
de corpos sem autópsia.

Para Wilson Bueno, 2006

(Poema do livro Fera Bifronte, de Claudio Daniel, publicado pela Lumme Editor.)

FILOSOFIA ORIENTAL E POESIA

O evento Leituras poéticas contemporâneas: um olhar sobre o Oriente reunirá os poetas Claudio Willer e Claudio Daniel para um debate sobre os diálogos entre a filosofia oriental e a poesia. O encontro acontecerá no dia 15 de julho, das 16 às 19h, na Livraria da Vila (Itaim) em São Paulo (SP), com curadoria do filósofo e poeta Chiu Yi Chih. Na ocasião, haverá o lançamento do livro Fera Bifronte, de Claudio Daniel, publicado pela Lumme Editor.
Local: Livraria da Vila, na rua Dr. Mário Ferraz, 414, Itaim – São Paulo - SP.
Realização e apoio: Livraria da Vila

quarta-feira, 24 de junho de 2009

DOIS POEMAS DE LUIZ ARISTON

TENTANDO JOÃO CABRAL
a Jussara Silveira

1. As gentes têm por invisível
comum, senão seu próprio vício,

haver, suas próprias, as artes
ou ser o próprio malas-artes,

que mesmo o canto, por exemplo,
escultura, vem de entre os dentes,

ao ouvido, é bem mais frágil
que o invisível vidro ao tato.

2. O sem-porquê do compromisso
relativo ao valor do ofício

mostra-se mais, mostra-se noite,
quando um suposto ouvinte afoito,

diante do quebra-cabeça,
elege, feito cabra-cega,

em meio a seus pedaços todos,
o menos importante: o autógrafo.

3. Até se expor (e dar nas vistas?)
autografar-se alienígena,

recanto de um canto em um outro,
transplante de um obscuro órgão

de si para si, mas via alguém,
quesito e réplica através.

Anzol em peixe, aquele canto;
este, uma espinha na garganta.


* * *

se for aquilo que se foi que volta
ao paraíso o pecador que torna
em torno desse próprio posto à prova
sentir o sabor de outra boca à boca
é outro o velho gosto que se arrota
sentir o sabor de outra boca à boca
em torno desse próprio posto à prova
ao paraíso o pecador que torna
se for aquilo que se foi que volta

terça-feira, 23 de junho de 2009

DOIS POEMAS DE FLÁVIO CASTRO


SÍSIFO

Treva aglutina atrofiadas criaturas
Escorço escarradefeca mijadomuro
Sinistra textura nivelada
Concúbinos cubículos
Floralumínia
Ácidas frutopedras
Estrelárvore solitária
Célebres bosques arqueados
Amálgamalma
Câncro verbovícero
Sábiosátiro unicórleão
Oeste galocanta outraurora
Negra palma branca
Vândala nervura autônoma
Sangüíneafumeguenta chamazulada
Euterônimo versificando mesmo verso


CÁRCERES

Plexo fecunda placenta oceânica
Focos feixes fluxos purpúreos
Perpétuas paredes cênicas
Térreo sorvo fúmego
Ferrorretorcidos
Ociosa luz varicosa
Azougue espelho braille
Gráficos becos estrangulados
Películo céu diminuto
Face sôfrega cérebro longe
Cilíndricas siglas labirínticas
Varzeanas nuvens controversas

segunda-feira, 22 de junho de 2009

UM POEMA DE WINNER CHIU


ESTUDO PARA O MAR-HEXAEDRO

QUADRO II

O mar se curva com a crueldade de uma arraia
Cor é quase um feixe de barbatanas sem fios
Cor é uma solidão de arco-de-violino.
Nenhuma escuridão se irriga com as ondas
Nenhuma onda abraça o silêncio.
Os olhos mal distinguem as distâncias.
O triângulo possui lados incalculáveis,
O losango se alonga em frenesi de lontras
O peixe escapa pelos dedos.
Peixe triângulo losango atraem o ímã violeta.
As ilhas em febre.
Os morros são as chamas que cortam a membrana.
Asas e árvores se elevam às alturas do sexo

(Poema de Winner Chiu, do livro inédito Naufrágios)

domingo, 21 de junho de 2009

GALERIA: ESPADA DE TAI CHI


Espada tradicional chinesa, a Jian é utilizada nos treinos de Tai Chi.

EQUILÍBRIO E TRANSFORMAÇÃO

Afastar a grama à procura da serpente, Fênix estende as asas, Vento curva as folhas de lótus, Cavalo celeste galopando no céu, Macaco branco oferece frutas, Vento varre a flor de pessegueiro. Estes são os nomes de alguns dos 54 movimentos da Espada de Tai Chi, arte marcial chinesa que remonta à dinastia Sung (960 – 279 d.C.).

Conforme escreveu o mestre Liu Chih Ming, “a simplicidade de seus movimentos contém uma extrema sutileza e magia. A leveza e a agilidade de seus movimentos resultam num bailado gracioso e belo, no entanto, se utilizados como arte marcial, podem se transformar em movimentos poderosos e firmes. Além disso, a prática da Espada de Tai Chi tem grandes efeitos terapêuticos".

"A Espada de Tai Chi tem sua raiz no Tai Chi Chuan, sendo a espada uma extensão do corpo. Na prática da Espada de Tai Chi, o domínio não se consegue só com a mão, mas sim com todo o corpo. A magia do movimento está no fato de que a extensão guia a energia, e esta por sua vez guia o corpo. Nesta prática pode-se chegar a um estágio elevado onde ocorre a união da espada com o ser; a espada adquire vida e passa a fazer parte do corpo e, por fim, não são os movimentos da espada que acompanham os do corpo, e sim o corpo que acompanha a espada”.

Eu pratico o Tai Chi Chuan há oito anos, e há cerca de um ano e meio comecei a praticar espada com a professora Laís Wollner, discípula do mestre Liu Pai Lin, que introduziu muitas artes taoístas no Brasil, na década de 1970. Confesso que hoje essa prática é essencial em minha vida: o treino da suavidade com firmeza, da agilidade com tranquilidade, da técnica com espontaneidade, do equilíbrio com a capacidade de transformação é algo que procuro incorporar a todas as minhas ações, inclusive a criação poética.

UM POEMA DE LUÍS COSTA

JEAN ARTHUR RIMBAUD

A mim, que inventei histórias e lendas de fantasmas
no tempo em que fui vendedor
de armas na Abissínia,
em que as minha pernas ainda tinham a força de um vulcão,
A mim, que fiz da poesia carne, que fiz de cada palavra
um relâmpago de sangue,
A mim, que fui abandonado pelos remadores,
que, sozinho no barco bêbado, singrei por entre
universos impassíveis, que perdi a chave do antigo palácio
onde guardávamos as jóias
dos nossos antepassados...
A mim, que pintei modelos na tela do luar, no colo das montanhas,
nas asas das borboletas igníferas,
corpos exemplares no granito das minha visões...
A mim, desregrado de todos os sentidos, na crista do dilúvio
de olhos pretos e crinas amarelas,
entre o limite das fronteiras carnais, entre arame farpado
e um paraíso de sonhos possíveis...
A mim... Dizei-me, que badaladas serão estas?
Sinos de bronze na tarde plácida de Alberto
Caeiro? ou pesadas correntes dentro dos aposentos de Nerval?
Já não sei se sou eu quem fala
ou se será a voz de um dos meus filhos, filhos dos áridos
desertos; já não sei se sou eu quem respira sofregamente
ou se será a garganta do meu bisavô,
que sofria de bronquite asmática, no seu leito de morte.
O mar espraia-se, teologicamente, até à soleira da minha porta,
e sem que eu me aperceba entra todo,
todo, de uma só vez, pela fechadura...
Peixes dourados e búzios nunca antes vistos saltam
em volta do meu leito...
Vejo-me ou imagino-me na tela de mim mesmo, mergulhado
na rebentação das ondas,
sem uma perna, os olhos vidrados, vitrais de catedrais,
perpetuados para serem clarões e cometas
no meio da noite do nada, no grito do grande silêncio.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Meio-día: alguna poesía de Fortaleza é uma antologia organizada por Diego Vinhas que reúne 12 poetas contemporâneos que nasceram ou residiram na capital cearense, entre eles Henrique Dídimo, Eduardo Jorge, Ruy Vasconcelos, Júlio Lira e Virna Teixeira, entre outros. O livro é bilíngüe e as traduções para o espanhol foram feitas por Silvia López. A antologia foi publicada pela casa editorial argentina Ediciones Vox / Fundação Senda, e pode ser encomendada pelo e-mail senda@criba.edu.ar.

Confiram notícias sobre concursos literários, revistas, eventos, antologias e lançamentos de livros no Blog da Zunái (ver lista de links, ao lado).

DOIS POEMAS DE GUIMARÃES ROSA

AMARELO

Kuang-Ling,

pintor chinês de máscara de cera,

feliz de ópio, e ébrio de dragões,

molha o pincel na água de ocre

do Huang-Ho,

e, entre lanternas de seda,

pinta e repinta,

durante trinta anos,

sulfúreos e asiáticos girassóis,

na incrível porcelana

de um jarrão

dos Ming...


VERDE

Na lâmina azinhavrada

desta água estagnada,

entre painéis de musgo

e cortinas de avenca,

bolhas espumejam

como opalas ocas

num veio de turmalina:

é uma rã bailarina,

que ao se ver feia, toda ruguenta,

pulou, raivosa, quebrando o espelho,

e foi direta ao fundo,

reenfeitare, com mimo,

suas roupas de limo...

(Do livro Magma, de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997)

UM POEMA DE BRUNO PRADO

A morte, longe —

a carne podre dentre a fúria insaciável,
o esboço do fogo desenhando a noite;
inscrevendo um perfume sobre meu corpo

as máscaras,
visto-as;
o tirso — na mão ante a viagem

a vertigem;
a violência da noite

ofereço o corpo a ti Διώνυσος —
minhas presas de leopardo

o sopro do precipício
o sono precipitado — inatingível

(do pó ao pó)
meu perdão, Manco Capac
na ida voltarei — amém!

em algum canto
serei palavra e fúria

um rascunho, um asco
um espasmo

obscuro

LANÇAMENTO DO LIVRO CARTAS DE ONTEM, DE RICHARD PRICE







Cartas de ontem, do poeta escocês Richard Price, reúne uma seleção de poemas que versam sobre a temática amorosa, com uma dicção contemporânea e ao mesmo tempo lírica, em que o autor dialoga com poetas como Catulo e trafega pelo discurso amoroso barthesiano. O livro, traduzido por Virna Teixeira, foi publicado pela Lumme.

Richard Price nasceu em 1966, na Escócia. Formado em jornalismo, inglês e biblioteconomia, é atualmente responsável pelo setor de coleções modernas britânicas na British Library, em Londres. É poeta, prosador, tradutor e editor da revista literária Painted, Spoken. Tem dois livros publicados pela editora Carcanet Press: Lucky Day (2005) e Green Fields (2007), com boa repercussão de público e crítica e mais um no prelo, que sairá este ano pela mesma editora. Lucky Day foi indicado para o Whitbread Poetry Prize em 2005.

Virna Teixeira é poeta e tradutora. Obteve em 2001 uma bolsa Chevening do British Council para mestrado na University of Edinburgh, Escócia. Publicou mais dois livros de traduções de poesia escocesa: Na Estação Central, de Edwin Morgan (editora UnB, 2006) e a antologia Ovelha Negra (Lumme Editor, 2007), que teve apoio da Cultura Inglesa e Scottish Arts Council.

Recital com Richard Price e lançamento de Cartas de Ontem.
Data: 19 de junho, a partir das 19h30
Local: Sala Cultura Inglesa do CBB. Duke of York Auditorium
Endereço: Rua Tucambira, 163. Pinheiros.

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO

Caros, estou de volta a São Paulo, depois de participar do festival literário Artimanhas Poéticas, que aconteceu nos dias 12 e 13 no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. O evento superou as minhas expectativas. Apesar do frio, da chuva e do feriado prolongado, o público lotou o auditório para ouvir a palestra de Luiz Costa Lima, o debate com Paulo Henriques Britto, os recitais e apresentações de poesia sonora, visual e digital.

Para a minha alegria, estavam na platéia amigos como Armando Freitas Filho, um dos maiores poetas brasileiros, in my opinion, e Charles Perrone, o embaixador de nossa poesia contemporânea nos Estados Unidos. Para quem não sabe, Charles é professor, pesquisador e tradutor, e tem contribuído muito para divulgar as nossas letras no país de Walt Whitman.

Luís Serguilha, nosso embaixador em Portugal, também estava lá, participando das leituras poéticas e dos debates, e ainda o Richard Price, nosso embaixador no Reino Unido, que fez uma leitura de poemas de seu livro Cartas de ontem, organizado e traduzido por Virna Teixeira, que saiu pela Lumme Editor.

Aliás, a barraquinha de livros do Real Gabinete esteve bem movimentada, vendendo livros de poesia lançados recentemente, inclusive os da coleção Caixa Preta: Fronteiras da pele, de Ana Maria Ramiro, Prática do Azul, de Jorge Lúcio de Campos, e Trânsitos, de Virna Teixeira.

Na sexta-feira, além da palestra de Costa Lima, aconteceu um debate sobre as revistas literárias, com a participação de André Vallias (Errática), Sérgio Cohn (Azougue), Claudio Daniel (Zunái) e Márcio-André (Confraria), além de um recital que reuniu Leonardo Gandolfi, Camila Vardarac, Virna Teixeira, Lígia Dabul, Luís Serguilha, Rodrigo de Souza Leão e Izabela Leal.

Depois do recital, fomos comemorar no Amarelinho, onde tive uma interessante conversa com André Vallias, que publicará em breve pela editora Perspectiva uma antologia com poemas de Heinrich Heine. Após algumas cervejas, o grupo foi até outro bar na Lapa (debaixo de chuva), onde ficamos até as duas da manhã.

No sábado, o evento começou com um debate sobre a atual poesia brasileira. Estavam na mesa Paulo Henriques Britto e moi même. A conversa foi bem animada; nós dois temos idéias diferentes sobre poesia, mas expressamos nossas opiniões de modo argumentativo, claro e objetivo, em clima fraternal e descontraído. No final, dei a ele de presente um exemplar de meu livro Fera Bifronte.

Após o debate, houve o lançamento de livros, um recital com os poetas Sylvio Back, Greta Benitez, Diana de Hollanda, Thiago Ponce de Moraes, Ismar Tirelli, Pablo Araújo, Victor Paes e Ronaldo Ferrito, uma apresentação de videopoesia de Gabriela Marcondes e a performance poético-polifônica para voz, violino e processamento eletrônico, de Márcio-André.

O último evento foi a leitura de Richard Price, que também conversou com o público a respeito de temas como a influência do concretismo brasileiro na poesia escocesa, sobretudo em autores como Ian Hamilton Finlay e Edwin Morgan. O encerramento foi emocionante, e depois fomos beber mais algumas cervejas e comer carne de cabrito com arroz e brócolis num restaurante da Lapa.

Quero registrar aqui o apoio firme dado pela Madalena Vaz Pinto, diretora do Real Gabinete, que se entusiasmou pelo projeto desde o início, e também pela colaboração da editora Confraria e de todos os poetas que aceitaram participar do evento.

Em 2010, faremos nova edição do Artimanhas Poéticas, dessa vez em São Paulo e no Rio de Janeiro!


sábado, 13 de junho de 2009

DIÁRIO DE UM VIAJANTE

Caros, estou no Rio de Janeiro, onde ficarei até domingo, participando do festival literário Artimanhas Poéticas, ao lado de Luiz Costa Lima, Paulo Henriques Britto, Virna Teixeira, Márcio-André, Leonardo Gandolfi e outras feras. Na volta, contarei as novidades. Lembrem-se de ler Paul Celan antes de dormir.
Besos,
CD

terça-feira, 9 de junho de 2009

A "DEMOCRACIA" DO PSDB







Polícia joga novas bombas contra manifestantes da USP; protesto pede retirada da PM

"Policiais militares que tentam reprimir um protesto na USP (Universidade de São Paulo) lançaram por volta das 17h50 desta terça-feira mais bombas de efeito moral contra os manifestantes, que bloquearam o acesso à universidade. Ainda não há informações sobre feridos ou sobre quantas pessoas participam do protesto.

Segundo informações preliminares da reitoria da USP, os manifestantes jogaram pedras e paus contra os PMs, que reagiram. O sindicato de funcionários, entretanto, nega que os manifestantes tenham iniciado e diz que a PM que deu início à briga ao atirar bombas de efeito moral.

Antes da confusão, estudantes e funcionários já haviam se reunido em frente à reitoria. Conforme o Sintusp (sindicato dos funcionários), o ato envolveria alunos, funcionários e professores da USP, Unesp e Unicamp, convocados pelo Fórum das Seis --que representa funcionários, professores e estudantes das três universidades paulistas. A reitoria informou que o confronto com a PM envolve apenas estudantes.

Os manifestantes protestam contra a presença da Polícia Militar no campus da USP. Em resposta à permanência da PM, professores e alunos, que não haviam aderido à paralisação, decidiram entrar em greve na última quinta-feira.

Nesta terça, o governador José Serra (PSDB) afirmou que o governo cumpre uma ordem judicial e, por isso, mantém a PM na universidade. "A questão é a seguinte: o governo está cumprindo ordem judicial. A reitora pediu segurança e o governo não tem outra alternativa se não cumprir a ordem judicial dada por um juiz", disse.

De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) o portão 1 de acesso à USP --localizada na rua Alvarenga -- foi bloqueada pelos manifestantes, mas não há informações sobre quantos estudantes participam do ato.

Os manifestantes pedem a reabertura das negociações com o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) e a retirada da PM do campus da USP. Desde o dia 1º, policiais militares permanecem na USP para evitar que funcionários, em greve desde 5 de maio, bloqueiem a entrada de prédios, incluindo o da reitoria, impedindo a entrada dos que não apoiam a greve.

Os grevistas querem reajuste salarial de 16%, mais R$ 200 fixos, além do fim de processos administrativos contra servidores e alunos que participaram de protesto anterior -- que resultou em dano ao patrimônio.

As negociações entre o Cruesp e o Fórum das Seis -- que representa funcionários, professores e estudantes das três universidades paulistas -- estão paradas desde 25 de maio.

Na ocasião, um grupo de estudantes invadiu a reitoria após os reitores impedirem parte dos alunos e um sindicalista de participar da reunião."

Fonte: Folha Online da Folha de S. Paulo

segunda-feira, 8 de junho de 2009

ARTIMANHAS POÉTICAS




















Caros, o evento Artimanhas Poéticas, que acontecerá nos dias 12 e 13 de junho no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, tem sido noticiado em vários portais de informação, como o IG (confiram a seção Minha Notícia, na página http://minhanoticia.ig.com.br/editoria/Cultura_Diversao/2009/06/04/festival+artimanhas+poeticas+2009+discute+literatura+e+poesia+no+rio+6511936.html), em rádios, como a CBN (http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/tempo-de-letras/2009/06/05/FESTIVAL-LITERARIO-ARTIMANHAS-POETICAS-COMECA-NA-PROXIMA-SEMANA-NO-RIO.htm), em sites como Cronópios, Germina, Digestivo Cultural, Portal Literal, em blogues e há pautas agendadas em jornais diários e emissoras de televisão. Aguardem mais informações a respeito no plantão de notícias da Pele de Lontra.

UM POEMA DE MARCO VASQUES

“E o sonho bateu asas”
(Nietzsche in Além do bem e do mal)

os movimentos dos corpos incineram
sobre a cama as secreções e excrementos
buscados em um anúncio de jornal
onde todos os prazeres são oferecidos
ao lado de uma manchete de estupro
e tudo se mistura no jardim de esqueletos
poluídos

garças brancas têm asas decapitadas pela
tinta das toalhas em que nos secamos
quando senhoras emparedadas costuram
as fraldas dos nenéns com suas cãs
carcomidas

adiante uma flauta em forma de pênis
solta a semente no ouvido de uma cifra
e cria-se voz e movimento entre o acelerar
e o gás carbônico de um escapamento

e mais um estupro nasce com promessa de vingança
e ainda chamam o filho de rebento

não bastasse isso ainda cresce
sob a luz de um poste prostituído
mais uma face cega para o mundo

(Poema do livro Elegias Urbanas, ed. Bem-te-vi, 2005)

sábado, 6 de junho de 2009

FERA BIFRONTE ESTÁ SOLTA NAS RUAS






Fera Bifronte, livro que reúne poemas escritos por mim entre 2004 e 2008, acaba de ser publicado, com posfácio do poeta português E. M. de Melo e Castro e projeto gráfico de Francisco dos Santos, da Lumme Editor. Este livro, que ganhou o prêmio da Funarte no ano passado, registra temas e técnicas diferentes de minha produção anterior, como a série de poemas intitulada Prismas, em que utilizo a permutação de palavras como princípio estrutural, o ciclo de Enigmas ou a peça Orum, que deve ser lida no espelho, à maneira da “escrita diabólica”. Há também textos referenciais, até satíricos, sobre a realidade urbana, mas sempre com o foco nos jogos de linguagem, como no tríptico Gabinetes de curiosidades. Alguns textos já foram publicados em meu site e em blogues de literatura, como o poema Fera, que saiu no Papel de Rascunho, ou Partitura, publicada em Palavra de Pantera. Quem quiser ler a Fera Bifronte pode encomendá-la na Livraria Cultura ou então enviar um e-mail para vendas@lummeeditor.com.


Em tempo: no Rio de Janeiro, o lançamento acontecerá no dia 13 de junho, às 15h, no Real Gabinete Português de Leitura, durante o festival Artimanhas Poéticas.

POESIA, AIKIDÔ E OUTROS BABADOS

Caros, a partir de hoje, sou mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo. A minha dissertação, com o título A estética do labirinto: barroco e modernidade em Ana Hatherly, foi aprovada pela banca, formada pelos professores Mário Lugarinho, Horácio Costa e Ana Maria Domingues, após uma ótima discussão de idéias. No domingo, passarei por outra prova, o exame de faixa amarela na Federação Paulista de Aikidô. E nos dias 12 e 13 de junho estarei no Rio de Janeiro, participando do festival Artimanhas Poéticas, de que sou curador. O evento faz parte das atividades do Laboratório de Criação Poética, e poderá ser realizado em outras cidades, desde que haja instituições interessadas em apoiar a sua organização. Esqueci de alguma coisa? Ah, sim, a Zunái agora tem um blog de notícias (confiram na lista de links ao lado), e acabou de sair da gráfica o meu livro Fera Bifronte, editado pela Lumme Editor, voltarei ao assunto em breve. Ufa, por ora é isto. Lembrem-se de ler Mallarmé antes de dormir!

Besos,

CD

quinta-feira, 4 de junho de 2009

ÚLTIMAS NOTÍCIAS (II)

Caros, recebi a revista Polichinello n. 10, editada em Belém. A publicação traz várias coisas interessantes, como o texto de Márcio-André sobre a tradução como exercício quântico, a prosa poética de Luís Serguilha, traduções de Paul Éluard, Victor Sosa, Efraín Rodriguez Santana, poemas de Antonio Moura, Vicente Franz Cecim, Ademir Demarchi, entre outros. As imagens publicadas neste número são do artista plástico Francisco dos Santos. Quem quiser contatar a revista pode escrever para revista.polichinello@gmail.com

ÚLTIMAS NOTÍCIAS


Hoje, a partir das 18h30, Claudio Willer lança o livro Geração Beat, publicado pela LP&M Editores, na Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 509, pertinho do metrô Brigadeiro. E no dia 05 de junho, às 22h, acontecerá o lançamento de Trânsitos, o terceiro livro de poemas de Virna Teixeira, pelo selo Caixa Preta, da Lumme Editor. Será no espaço Jazznosfundos, situado na rua João Moura, 1076, Pinheiros.

A Lumme Editor, aliás, lança nesse mês uma série de novos títulos de poesia:

Campo de ampliação, de Casé Lontra Marques

Máquina final, de Efraín Rodríguez Santana

Prática do azul, de Jorge Lúcio de Campos (selo Caixa Preta)

Fronteiras da pele, de Ana Maria Ramiro (selo Caixa Preta)

Quem tiver interesse em adquirir algum desses livros pode escrever para a editora, pelo e-mail vendas@lummeeditor.com.

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (VII)

VALS EN LAS RAMAS

Homenaje a Vicente Aleixandre por su poema El vals

Cayó una hoja
y dos
y tres.
Por la luna nadaba un pez.
El agua duerme una hora
y el mar blanco duerme cien.
La dama
estaba muerta en la rama.
La monja
cantaba dentro de la toronja.
La niña
iba por el pino a la piña.
Y el pino
buscaba la plumilla del trino.
Pero el ruiseñor
lloraba sus heridas alrededor.
Y yo también
porque cayó una hoja
y dos
y tres.
Y una cabeza de cristal
y un violín de papel
y la nieve podría con el mundo
si la nieve durmiera un mes,
y las ramas luchaban con el mundo
una a una,
dos a dos,
y tres a tres.
¡Oh duro marfil de carnes invisibles!
¡Oh golfo sin hormigas del amanecer!
Con el muuu de las ramas,
con el ay de las damas,
con el croo de las ranas,
y el gloo amarillo de la miel.
Llegará un torso de sombra
coronado de laurel.
Será el cielo para el viento
duro como una pared
y las ramas desgajadas
se irán bailando con él.
Una a una
alrededor de la luna,
dos a dos
alrededor del sol,
y tres a tres
para que los marfiles se duerman bien.

(Poema de Federico Garcia Lorca, do livro Poeta em Nova York)

VALSA NOS RAMOS

Homenagem a Vicente Aleixandre por seu poema O vale

Caiu uma folha
e duas
e três.
Um peixe nadava pela lua.
A água dorme uma hora
e o mar branco dorme cem.
A dama
estava morta no ramo.
A monja
cantava dentro da toronja.
A menina
ia do pinho à pinha.
E o pinho
buscava a pequena pluma do trinado.
Porém, o rouxinol
chorava suas feridas ao redor.
E eu também
porque caiu uma folha
e duas
e três.
E uma cabeça de cristal
e um violino de papel
e a neve apodrecia com o mundo
se a neve dormisse um mês,
e os ramos lutavam com o mundo
um a um
dos a dois
e três a três.
Oh duro marfim de carnes invisíveis!
Oh golfo sem formigas do amanhecer!
Com o muuu dos ramos,
com o ai das damas,
com o croo das rãs,
e o gloo amarelo do mel.
Chegará um torso de sombra
coroado de laurel.
Será o céu para o vento
duro como uma parede
e os ramos desgalhados
irão dançando com ele.
Um a um
ao redor da lua,
dois a dois
ao redor do sol,
e três a três
para que os marfins durmam bem.

Tradução: Claudio Daniel

VIAJANDO COM MALLARMÉ

Puras unhas no alto ar dedicando seus ônix,
A Angústia, sol nadir, sustém, lampadifária,
Tais sonhos vesperais queimados pela Fênix
Que não recolhe, ao fim, de ânfora cinerária

Sobre aras, no salão vazio: nenhum ptyx,
Falido bibelô de inanição sonora
(Que o Mestre foi haurir outros prantos no Styx
Com esse único ser de que o Nada se honora).

Mas junto à gelosia, ao norte vaga, um ouro
Agoniza talvez segundo o adorno, faísca
De licornes, coices de fogo ante o tesouro,

Ela, defunta nua num espelho, embora,
Que no olvido cabal do retângulo fixa
De outras cintilações o séptuor sem demora.

Tradução: Augusto de Campos