ÚLTIMAS NOTÍCIAS (II)

Caros, iniciarei um curso de criação poética no próximo dia 09 de maio. O curso, dividido em vários módulos, com exposições teóricas e atividades práticas, será aos sábados, das 15 às 17h, no Ateliê do Centro, situado na rua Epitácio Pessoa, n. 91, Praça da República. Quem estiver interessado em participar, por favor, envie uma mensagem para mim, pelo e-mail claudio.dan@gmail.com. Ah, sim: e confiram minhas traduções de Garcia Lorca publicadas no site Cronópios.
Besos,

CD

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

O evento Encontros de Interrogação, promovido pelo Instituto Itaú Cultural, acontecerá entre os dias 21 e 23 de maio, com curadoria de Flávio Carneiro e Manuel da Costa Pinto. Eu estarei na mesa do dia 22, às 16h, que discutirá o tema “O espaço da crítica”. Entre outras questões, serão debatidas a diferença entre a crítica universitária e a jornalística, a crítica como gênero literário e a relação entre as poéticas clássicas, a estética como ramo da filosofia e as correntes atuais da crítica literária. O Itaú Cultural fica na Avenida Paulista, n. 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô.

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (V)


PAISAJE CON DOS TUMBAS Y UN PERRO ASIRIO

Amigo,
levántate para que oigas aullar
al perro asirio.
Las tres ninfas del cáncer han estado bailando,
hijo mío.
Trajeron unas montañas de lacre rojo
y unas sábanas duras donde estaba el cáncer dormido.
El caballo tenía un ojo en el cuello
y la luna estaba en un cielo tan frío
que tuvo que desgarrarse su monte de Venus
y ahogar en sangre y ceniza los cementerios antiguos.

Amigo,
despierta, que los montes todavía no respiran
y las hierbas de mí corazón están en otro sitio.
No importa que estés lleno de agua de mar.
Yo amé mucho tiempo a un niño
que tenía una plumilla en la lengua
y vivimos cien años dentro de un cuchillo.
Despierta. Calla. Escucha. Incorpórate un poco.
El aullido

es una larga lengua morada que deja
hormigas de espanto y licor de lirios.
Ya vienen hacia la roca.
¡No alargues tus raíces!
Se acerca. Gime. No solloces en sueños, amigo.

¡Amigo!
Levántate para que oigas aullar
al perro asirio.

(Poema do livro Poeta en Nueva York, de Federico García Lorca.)


PAISAGEM COM DUAS TUMBAS E UM CÃO ASSÍRIO

Amigo,
levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio.
As três ninfas do câncer estiveram dançando,
meu filho.
Trouxeram umas montanhas de lacre vermelho
e uns lençóis duros onde o câncer estava dormindo.
O cavalo tinha um olho no pescoço
e a lua estava num céu tão frio
que teve de rasgar seu monte de Vênus
e afogar em sangue e cinza os cemitérios antigos.

Amigo,
desperta, que os montes ainda não respiram
e as ervas de meu coração encontram-se em outro lugar.
Não importa que estejas cheio de água do mar.
Eu amei por muito tempo um garoto
que tinha uma plúmula na língua
e vivemos cem anos dentro de uma navalha.
Desperta. Cala. Escuta. Ergue-te um pouco.
O uivo
é uma longa língua roxa que deixa
formigas de espanto e licor de lírios.
Já vêm até a rocha. Não alargues tuas raízes!
Aproxima-se. Geme. Não soluces em sonho, amigo.

Amigo!
Levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio.

Tradução: Claudio Daniel

ARTIMANHAS POÉTICAS

Caros, estou organizando o festival Artimanhas Poéticas, que acontecerá nos dias 12 e 13 de junho, no Rio de Janeiro. O evento, que contará com a participação de críticos literários, poetas jovens e consagrados e editores de revistas, incluirá palestras, debates, recitais, lançamentos, exposição de poesia visual, performances musicais e de poesia sonora. Um dos objetivos do programa é mostrar que a poesia não se limita à escrita bidimensional e ao objeto livro. Aguardem mais informações aqui na Pele de Lontra, plim, plim!

domingo, 26 de abril de 2009

ÚLTIMAS NOTÍCIAS






Caros, a coleção de poesia Caixa Preta, organizada por mim para a Lumme Editor, terá novos títulos publicados no mês de junho: Fronteiras da pele, de Ana Maria Ramiro; Prática do azul, de Jorge Lúcio de Campos; e Trânsitos, de Virna Teixeira. Está para sair, também, o meu livro Fera Bifronte, que recebeu o prêmio da Funarte, em 2008. Aguardem mais informações no plantão de notícias da Pele de Lontra.

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (IV)

POEMA DOBLE DEL LAGO EDEM

Nuestro ganado pace, el viento espira
Garcilaso

Era mi voz antigua
ignorante de los densos jugos amargos.
La adivino lamiendo mis pies
bajo los frágiles helechos mojados.

¡Ay voz antigua de mi amor,
ay voz de mi verdad,
ay voz de mi abierto costado,
cuando todas las rosas manaban de mi lengua
y el césped no conocía la impasible dentadura del caballo!

Estás aquí bebiendo mi sangre,
bebiendo mi humor de niño pesado,
mientras mis ojos se quiebran en el viento
con el aluminio y las voces de los borrachos.

Déjame pasar la puerta
donde Eva come hormigas
y Adán fecunda peces deslumbrados.
Déjame pasar, hombrecillo de los cuernos,
al bosque de los desperezosy los alegrísimos saltos.

Yo sé el uso más secreto
que tiene un viejo alfiler oxidado
y sé del horror de unos ojos despiertos
sobre la superficie concreta del plato.

Pero no quiero mundo ni sueño, voz divina,
quiero mi libertad, mi amor humano
en el rincón más oscuro de la brisa que nadie quiera.
¡Mi amor humano!

Esos perros marinos se persiguen
y el viento acecha troncos descuidados.
¡Oh voz antigua, quema con tu lengua
esta voz de hojalata y de talco!

Quiero llorar porque me da la gana
como lloran los niños del último banco,
porque yo no soy un hombre, ni un poeta, ni una hoja,
pero sí un pulso herido que sonda las cosas del otro lado.

Quiero llorar diciendo mi nombre,
rosa, niño y abeto a la orilla de este lago,
para decir mi verdad de hombre de sangre
matando en mí la burla y la sugestión del vocablo.

No, no, yo no pregunto, yo deseo,
voz mía libertada que me lames las manos.
En el laberinto de biombos es mi desnudo el que recibe
la luna de castigo y el reloj encenizado.

Así hablaba yo.
Así hablaba yo cuando Saturno detuvo los trenes
y la bruma y el Sueño y la Muerte me estaban buscando.
Me estaban buscando
allí donde mugen las vacas que tienen patitas de paje
y allí donde flota mi cuerpo entre los equilibrios contrarios.

(Poema do livro Poeta en Nueva York, de Federico García Lorca.)


POEMA DUPLO DO LAGO EDEM

Nuestro ganado pace, el viento espira
Garcilaso


Era minha voz antiga
ignorante dos densos sumos amargos.
Eu a adivinho lambendo meus pés
sob as frágeis folhas molhadas.

Ai, voz antiga de meu amor,
ai, voz de minha verdade,
ai, voz de meu flanco aberto,
quando todas as rosas manavam de minha língua
e a céspede não conhecia a impassível dentadura do cavalo!

Está aqui bebendo meu sangue,
bebendo meu humor de menino pesado,
enquanto meus olhos se quebram no vento
com o alumínio e as vozes dos bêbados.

Deixai-me passar pela porta
onde Eva come formigas
e Adão fecunda peixes deslumbrados.
Deixai-me passar, homenzinhos de cornos,
ao bosque do espreguiçar
e dos alegríssimos saltos.

Eu sei o uso mais secreto
que tem um velho alfinete oxidado
e sei do horror de uns olhos despertos
sobre a superfície concreta do prato.

Porém não quero mundo nem sonho, voz divina,
quero minha liberdade, meu amor humano
no canto mais escuro da brisa que ninguém deseje.
Meu amor humano!

Esses cães marinhos se perseguem
e o vento espreita troncos descuidados.
Oh, voz antiga, queima com tua língua
esta voz de folha de Flandres e de talco!

Quero chorar porque tenho vontade
como choram os meninos do último banco,
porque eu não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que sonda as coisas do outro lado.

Quero chorar dizendo meu nome,
rosa, menino e abeto à margem deste lago,
para dizer minha verdade de homem de sangue
matando em mim a burla e a sugestão do vocábulo.

Não, não, eu não pergunto, eu desejo,
minha voz libertada que me lambe as mãos.
No labirinto de biombos é minha nudez quem recebe
a lua de castigo e o relógio coberto de cinzas.

Assim eu dizia.
Assim eu dizia quando Saturno deteve os trens
e a bruma e o Sonho e a Morte estavam me buscando.
Estavam me buscando
ali onde mugem as vacas que têm patinhas de pajem
e ali onde flutua meu corpo entre os equilíbrios contrários.

Tradução: Claudio Daniel

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A VOZ DA POESIA














Caros, no próximo dia 25, sábado, terá início o ciclo Parcerias: A voz da poesia, coordenado pelo poeta Ademir Assunção para a Biblioteca Alceu Amoroso Lima. A idéia é trazer, a cada encontro, um poeta e um compositor parceiros para um bate-papo de meia-hora sobre as relações entre poesia e música. Depois, o compositor fará o seu show. Serão oito encontros quinzenais, de abril a agosto, sempre aos sábados, às 18h30. No dia 25, os convidados são Madan e Mário Bortolotto. Para obter mais informações, é só acessar o blog Espelunca, do Ademir Assunção.

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (III)


FÁBULA Y RUEDA DE LOS TRES AMIGOS

Enrique,
Emilio,
Lorenzo.
Estaban los tres helados:

Enrique por el mundo de las camas;
Emilio por el mundo de los ojos y las heridas de las manos,
Lorenzo por el mundo de las universidades sin tejados.

Lorenzo,

Emilio,
Enrique.
Estaban los tres quemados:

Lorenzo por el mundo de las hojas y las bolas de billar;
Emilio por el mundo de la sangre y los alfileres blancos;
Enrique por el mundo de los muertos y los periódicos abandonados.

Lorenzo,
Emilio,

Enrique.
Estaban los tres enterrados:
Lorenzo en un seno de Flora;
Emilio en la yerta ginebra que se olvida en el vaso;
Enrique en la hormiga, en el mar y en los ojos vacíos de los pájaros.

Lorenzo,
Emilio,

Enrique,
fueron los tres en mis manos
tres montañas chinas,
tres sombras de caballo,
tres paisajes de nieve y una cabaña de azucenas
por los palomares donde la luna se pone plana bajo el gallo.

Uno
y uno

y uno.
Estaban los tres momificados,
con las moscas del invierno,
con los tinteros que orina el perro y desprecia el vilano,
con la brisa que hiela el corazón de todas las madres,
por los blancos derribos de Júpiter donde meriendan muerte los borrachos.

Tres
y dos

y uno.
Los vi perderse llorando y cantando
por un huevo de gallina,
por la noche que enseñaba su esqueleto de tabaco,
por mi dolor lleno de rostros y punzantes esquirlas de luna,
por mi alegría de ruedas dentadas y látigos,
por mi pecho turbado por las palomas,
por mi muerte desierta con un solo paseante equivocado.

Yo había matado la quinta luna

y bebían agua por las fuentes los abanicos y los aplausos,
Tibia leche encerrada de las recién paridas
agitaba las rosas con un largo dolor blanco.

Enrique,

Emilio,
Lorenzo.
Diana es dura
pero a veces tiene los pechos nublados.
Puede la piedra blanca latir con la sangre del ciervo
y el ciervo puede soñar por los ojos de un caballo.

Cuando se hundieron las formas puras

bajo el cri cri de las margaritas,
comprendí que me habían asesinado.
Recorrieron los cafés y los cementerios y las iglesias,
abrieron los toneles y los armarios,
destrozaron tres esqueletos para arrancar sus dientes de oro.
Ya no me encontraron.
¿No me encontraron?
No. No me encontraron.
Pero se supo que la sexta luna huyó torrente arriba,
y que el mar recordó ¡de pronto!
los nombres de todos sus ahogados.

(Poema do livro Poeta en Nueva York, de Federico García Lorca.)


FÁBULA E RODA DOS TRÊS AMIGOS

Henrique,
Emílio,
Lorenzo.
Estavam os três gelados:
Henrique pelo mundo das camas;
Emilio pelo mundo dos olhos e das feridas das mãos,
Lorenzo pelo mundo das universidades sem telhados.

Lorenzo,
Emilio,
Henrique.
Estavam os três queimados:
Lorenzo pelo mundo das folhas e das bolas de bilhar;
Emílio pelo mundo do sangue e dos alfinetes brancos;
Henrique pelo mundo dos mortos e dos jornais abandonados.

Lorenzo,
Emílio,
Henrique.
Estavam os três enterrados:
Lorenzo em um seio de Flora;
Emílio na hirta genebra que se esquece no copo;
Henrique na formiga, no mar e nos olhos vazios dos pássaros.

Lorenzo,
Emílio,
Henrique,
foram os três em minhas mãos
três montanhas chinesas,
três sombras de cavalo,
três paisagens de neve e uma cabana de açucenas
pelos pombais onde a lua pousa plana sob o galo.

Um
e um
e um.
Estavam os três mumificados,
com as moscas do inverno,
com os tinteiros que o cão urina e o vilão despreza,
com a brisa que gela o coração de todas as mães,
pelas brancas quedas de Júpiter onde os bêbados merendam a morte.

Três
e dois
e um.
Eu os vi perdidos chorando e cantando
por um ovo de galinha,
pela noite que mostrava seu esqueleto de tabaco,
por minha dor cheia de rostos e pungentes lascas da lua,
por minha alegria de rodas dentadas e látegos,
por meu peito turvado pelas pombas,
por minha morte deserta com um só passeador equivocado.

Eu havia matado a quinta lua
e bebiam água pelas fontes os leques e os aplausos,
Leite morno encerrado das recém-paridas
agitava as rosas com uma larga dor branca.

Henrique,
Emílio,
Lorenzo.
Diana é dura
mas às vezes tem as tetas nubladas.
Pode a pedra branca pulsar com o sangue do cervo
e o cervo pode sonhar pelos olhos de um cavalo.

Quando se fundiram as formas puras
sob o cri cri das margaridas,
compreendi que haviam me assassinado.
Percorreram os cafés e os cemitérios e as igrejas,
abriram os tonéis e os armários,
destroçaram três esqueletos para arrancar seus dentes de ouro.
Já não me encontraram.
Não me encontraram?
Não. Não me encontraram.
Porém se soube que a sexta lua fugiu torrente acima,
e que o mar recordou de imediato
os nomes de todos os seus afogados.

Tradução: Claudio Daniel

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (II)

1910

Intermedio

Aquellos ojos míos de mil novecientos diez
no vieron enterrar a los muertos
ni la feria de ceniza del que llora por la madrugada
ni el corazón que tiembla arrinconado como un caballito de mar.

Aquellos ojos míos de mil novecientos diez
vieron la blanca pared donde orinaban las niñas,
el hocico del toro, la seta venenosa
y una luna incomprensible que iluminaba por los rincones
los pedazos de limón seco bajo el negro duro de las botellas.

Aquellos ojos míos en el cuello de la jaca,
en el seno traspasado de Santa Rosa dormida,
en los tejados del amor con gemidos y frescas manos,
en un jardín donde los gatos se comían a las ranas.

Desván donde el polvo viejo congrega estatuas y musgos.
Cajas que guardan silencios de cangrejos devorados.
En el sitio donde el sueño tropezaba con su realidad.
Allí mis pequeños ojos.

No preguntarme nada. He visto que las cosas
cuando buscan su pulso encuentran su vacío.
Hay un dolor de huecos por el aire sin gente
y en mis ojos criaturas vestidas. ¡sin desnudo!

(Poema do livro Poeta en Nueva York, de Federico García Lorca.)


1910

Intermédio

Aqueles meus olhos de mil novecentos e dez
não viram enterrar os mortos
nem a feira de cinza de quem chora pela madrugada
nem o coração que treme encurralado como um cavalo-marinho.

Aqueles meus olhos de mil novecentos e dez
viram a parede branca onde mijavam as meninas,
o focinho do touro, a seta venenosa
e uma lua incompreensível que iluminava pelos cantos
os pedaços de limão seco sob o negro duro das garrafas.

Aqueles meus olhos no pescoço da égua,
no seio trespassado de Santa Rosa adormecida,
nos telhados do amor com gemidos e frescas mãos,
em um jardim onde os gatos comiam as rãs.

Desvão onde a velha poeira congrega estátuas e musgos.
Caixas que guardam silêncios de caranguejos devorados.
No lugar onde o sonho tropeçava com sua realidade.
Ali meus pequenos olhos.

Não me perguntem nada. Eu vi que as coisas
quando buscam seu pulso encontram seu vazio.
Há uma dor de ocos pelo ar sem ninguém
e nos meus olhos criaturas vestidas. Sem nudez!

Tradução: Claudio Daniel

DO LIVRO POETA EM NOVA YORK

VUELTA DE PASEO

Asesinado por el cielo,
entre las formas que van hacia la sierpe
y las formas que buscan el cristal,
dejaré crecer mis cabellos.

Con el árbol de muñones que no canta
y el niño con el blanco rostro de huevo.

Con los animalitos de cabeza rota
y el agua harapienta de los pies secos.

Con todo lo que tiene cansancio sordomudo
y mariposa ahogada en el tintero.

Tropezando con mi rostro distinto de cada día.
¡Asesinado por el cielo!

(Poema do livro Poeta en Nueva York, de Federico García Lorca.)


VOLTA DE PASSEIO

Assassinado pelo céu,
entre as formas que vão até a serpente
e as formas que buscam o cristal,
deixarei crescer meus cabelos.

Com a árvore de cotos que não canta
e o menino com o branco rosto de ovo.

Com os animaizinhos de cabeça rota
e a agua esfarrapada dos pés secos.

Com tudo o que tem cansaço surdo-mudo
e borboleta afogada no tinteiro.

Tropeçando com meu rosto diferente de cada dia.
Assassinado pelo céu!


Tradução: Claudio Daniel

domingo, 19 de abril de 2009

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Caros, foi publicada na Venezuela a antologia de poesia jovem latino-americana Tránsito del fuego, organizada por Raquel Molina e editada pela Casa Nacional de las Letras Andrés Bello. O livro é bilíngüe e as versões do espanhol para o português foram feitas pela poeta Gladys Mendia. Entre os poetas reunidos no livro estão o brasileiro Leonardo Gandolfi, a argentina María Eugenia López, a chilena Carmen Martin e a colombiana Martha Carolina Dávila. Uma boa seleção de textos e de autores; com certeza, o livro merece uma versão ampliada, que faça um mapeamento rigoroso do que se faz de mais inventivo e qualitativo, no continente, pelas novas gerações.

UM POEMA DE ANDRÉ DICK

NUM QUADRO DE EDWARD HOPPER

a vida destrói
um sol
quase esquecido
numa tela de hopper:

o posto de gasolina
abandonado,

onde um senhor,
talvez o dono,

em seu ócio,
rega a grama

com sua bomba
de petróleo.

(Poema do livro Grafias. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2003)

UM POEMA DE RICARDO ALEIXO

LOA DA MENINA DEUSA

já perto do poente

o cabelo ornado

com invisíveis fios

de ouro

a menina uma

putinha da areia uma

menina deusa

qualquer

inventa a um

simples meneio

dos dedos

um outro sol

e some

rápida

reconvertida

em água

(Poema do livro Trívio. Belo Horizonte: Scriptum Livros, 2001)

DOIS POEMAS DE VIRNA TEIXEIRA

RUA DA CONSOLAÇÃO

No trajeto
o azul nos
cabelos
lembra
ausência.


VIAGEM

ruas noturnas
sábado

pés cansados

táxi nenhum
espera

lugar no ônibus
duplo
repleto de
caras bêbados

idiomas

minha cabeça
caindo

seu ombro

onde
adormeço

(Poemas do livro Visita: 7 Letras, 2000)

UM POEMA DE RONALD POLITO

UMA CONJECTURA

Todos os textos
e nenhum.
Ou o fardo de
tudo ser dito de
novo. E todas as palavras
virem comparecer aqui,
com sua fortaleza e
vontade, fundeando,
ao acaso, numa perspectiva
de respiração,
portos, rotas, mãos que
ainda acenam mesmo
de muito longe. E
todos os gritos e balbucios,
inclusive os contidos
nos gestos, nas autômatas
contrações das pupilas,
em uníssono no estrondo
de um grande ruído
capaz de (em algum lugar
está dito) se
situar acima do ubíquo
silêncio,
aniquilando-o.

(Poema do livro Terminal. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006)

PORQUE VOCÊ É O MEU ANJO

solitários, caminhamos em terra ignorada e idêntica,
espectros de nós mesmos.

há uma letra em cada unha,
mas nenhuma para traduzir estrela.

há uma lua em cada seio,
e um seio em cada palma
que aperta cicatrizes.

há uma cicatriz em cada imagem que não cala,
em cada memória que recusa o olvido.

porém, a delícia de caminharmos lado a lado,
sem destino, nessa terra ignorada e idêntica,
onde lagartos devoram cicatrizes.

e então, mais uma vez, você é para mim um anjo,
e eu a sua sombra.

(para Tiuíse, 2009)

UM POEMA DE RODRIGO GARCIA LOPES

M

1

Improvisação pessoal.
Essa noite sou um jazzman
com dentes de ouro & swing
pra raiar o dia.
Troco a mobília de dentro, só,
pra ver como ficamos.
Táxis negros dão rasantes
sobre suicidas.
Sou apenas um fantasma clandestino
procurando o que beber
nessa noite fria.
Amo a lua, submisso,
embrulhado num lençol chinês.
Spyder-man tecendo
essa novela de personagens
tão confusas.
Desarrumo tudo.
Paciente,
espero os ilustres convidados que, eu sei,
não vão chegar.


2

Descendo pelas escadas de emergência
do maior edifício do mundo.
Escuro.
A idiota que eu amo está lá em cima,
dormindo, suando frio,
morrendo um pouco. Pego o fone.
O silêncio com seu cínico sorriso.
Não importa: minhas mãos
negras, negras,
tremem como coelhos.
Digo: “É mesmo impossível sentir frio
com esses cobertores alemães
”.
Kris quebrou a perna,
o indiano da quitanda teve um filho
o resto são arrependimentos
terríveis de serem contados.
(Mas me amarro nos mastros
de alguém que é um naufrágio.
Destroços de ondas que a corrente leva,
Orgulhosa.)


3

Misteriosas vozes escapam
do esgoto.
Bêbados brigam por uísque.
Ratos fogem, nojo.
Um rádio toca Vivaldi.
O casal ao lado espanca-se,
em silêncio.

Tomado pelo pânico
tropeço em gatos amarelos
perdido em minha própria obsessão.


4

Ouço passos apressados
a mil degraus.
Vem subindo alguém,
Como uma febre, alguém que se quer muito.
A Loucura arromba a porta.
Revira os olhos. Vasculha a sala.
Vidraças, aos gritos, se atiram lá de cima.

Com um canivete enterrado nas costas
Ainda disco o último número.

(Poema do livro Solarium. São Paulo: Iluminuras, 1994)

TRÊS POEMAS DE CLAUDIA ROQUETTE-PINTO

água madura saturando em âmbar
água-ouro (vinagre do sol)
pedra almiscarada intenta num galope
a cigarra seu mantra marrom
aranhas pálidas num rebanho
o olho tonto do gerânio
nuvens cegas, às manadas
(marradas-relâmpago)


* * *

gualde amarelo amarelo andante em verde
partitura oscilante das flores o vento
(ralento até o silêncio)
mas ouça: na lousa da noite
os grilos vão deixando reticências


***

há uma prata indecisa na copa destas árvores
há um lalique que — diáfano — cola às asas
da borboleta
há um grilo que retine
sílabas
às estrelas


(Poemas do livro Zona de sombra. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997)

PENSAMENTO DO DIA

“O artista não tem que se importar com o fim social da arte, ou, antes, com o papel da arte adentro da vida social. Preocupação esta que compete ao sociólogo e não ao artista. O artista tem só que fazer arte. Pode, é certo, especular sobre o fim da arte na vida das sociedades, mas, ao fazê-lo, não está sendo artista, mas sim sociólogo; não é um artista quem faz especulação, é um sociólogo simplesmente.”

(Fernando Pessoa, citado por Leyla Perrone-Moisés no ótimo livro Aquém do eu, além do outro.)

DOIS POEMAS DE OLVIDO GARCÍA VALDÉS

amarillo sobrenatural
en agosto, lo sobre
natural es del rastrojo, rastro
bajo los cerros blancos, lo
sobrenatural es la cebada
que no hay y que deja
en el campo el color; un pino
y un ciprés ponen el negro
para que dore luz y suba leve
aire al sol que ya no está; yo
estoy y lo veo por Mota
del Marqués y conduzco
deprisa y no me mato

* * *

La muerte florece una vez, la flor
de la muerte pide otro cuidado, como hilo
de voz. Sustancia del afecto
se entreteje leve o retirada
a la muerte la voz.

(Poemas do livro Y todos estábamos vivos. Barcelona: Tusquets Editores, 2007)

DOIS POEMAS DE RODOLFO HASLER

O MURO

falta aire,
respirar el aire,
fuelle de la fragua,
la población, los clavos,
el suelo desaparece
bajo las huellas,
la tierra blanca, calcárea,
se excava,
límpido olivar,
su fruto verde, negro,
el olivar y la enramada
mueren sin ser socorridos,
busca un deseo
que sea fruto borde,
un deseo de virtud
en una tierra arrasada
por la raíz de la nada,
no digas nada,
no puedes decir,
qué decir,
el olivar rugoso,
las manos tiemblan
de tanto peso muerto.
la cosecha arrancada
y aplastada,
no es así la vida,
lágrima del ojo
que no puede mentir.
dejar de existir,
¿para quién? ¿qué es?
desviar los párpados
de la colina encendida,
el joven que cava
en el huerto, sueña,
no sólo sueña,
su deber es perpetuar,
dejar la risa y el esfuerzo
en la escena del dolor,
cielo encapotado,
pero no llueve,
es niebla en el olivar.

* * *

la puerta de damasco,
la piedra de jaffo,
el montículo de la esperanza
hundido entre zarzas,
el fuego te lastima
con su golpe celeste,
no puedo caminar,
no hay por dónde ir,
cierra la puerta
y no escuches la voz,
sigue sin voz
un camino solitario,
una vereda torcida,
la miel se descompone
en el panal olvidado,
la reina de la estirpe
se apodera del granado.
belleza que te serena,
el pozo está seco,
brusco sobresalto
entre rocas afiladas,
"huerto cerrado,
fuente sellada",
cae de un lado, del lado
que equivale a más,
un desperdicio el suelo,
muerte inútil,
cuentas lo que no tienes,
piedras que raspan,
vuelve a levantar la voz
por un trago de agua.
la vida disminuye
su fuerza donde no cabe,
una flor de hibisco
y un mazo de perejil
son el ripio,
la destrucción.

(Fragmentos iniciais do poema, dividido em seis partes; a versão integral será publicada na edição de agosto da Zunái, juntamente com os poemas de Chus Pato, num caderno de poesia espanhola contemporânea.)

UM POEMA DE CHUS PATO

POEMA Nº 1

A voz era pánico
e desexaba, insistía, ter hábito(s) no poema
.........................

pero non todo pode ser transportado (non a voz, desde logo)

si o espírito que invade ao bardo, entre as uces irtas

e porque chove, os habitantes do poema teñen que abrir os seus paraugas // sacan o que levan dentro e búscanlle acomodo fóra

[só porque ti pousas a mirada no texto podo comezar coas solucións]

isto é o que consegue Cabaleiro Amábel, facer que seres alienados se presenten ante o mundo, e moi ao seu pesar, como persoas ceibes

pero só a voz empasta as tres historias
a voz que a escritura non acubilla

así pois, un poeta é un ser ancián.

Máis que entrar o mundo dentro do poema
botar por fóra a escritura, como unha lava lene e transparente, muselina

tanto ceo
tanta primavera

ves, isto é un acto político: torcerlles a vontade aos que obedecen

pero falta o contexto.

E que dicir dos soportes!, cando xa o papel non atura e só é concibíbel unha parede e a proxección de letras dixitais (seguramente nun museo ou nos paneis da autoestrada) ou esas mesmas frases envolvendo como cintas luminosas os corpos dos viandantes que dialogan sobre o voar das aves ou os bucles dos miñatos que se mimetizan coas árbores cando estenden as ás coma un niño

a teoría é esa violencia ética do intanxíbel

e está o problema do eu, cantos? e das situacións

prefiro o meu pánico a entrar nas librerías, excluíndote a ti, que me abandonas en calquera lugar, sen cartos, ou dentro do coche sen freo de man. Visitamos unha cidade para lembrar os edificios das cidades

os soños non son teoría, e agora temos que quedar aquí porque ti non queres espertar, neste palacete de urbanización privada, con outros moitos e moitas da nosa condición. Esta noite os nosos asasinos están bébedos ou pechados no váter

dunha vez para sempre nada hermético, nin críptico (que nunca nosoutros escribimos) e pono xa en órbita, con todos os nosos espléndidos matos e carqueixas.

E fíxate como se torna doce a verdade, cando descalza te mantés, ingrávida? na placenta dos amieiros

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as sinapses volven, a inquietante floración de abril

PROJETO “POESIA NO PARQUE”

Caros, no dia 18 de junho (sábado), das 14 às 16h, estarei no Parque Trianon, na Avenida Paulista, iniciando um novo curso de criação poética. Vou falar sobre Mallarmé, Pound, Maiakovsky, Valéry e outros mestres-samurais da poesia. Haverá também exercícios criativos e discussão dos poemas dos alunos. A mensalidade é de R$ 30,00 e o curso tem duração indeterminada. Quem tiver interesse em participar, por favor, envie um e-mail para mim, claudio.dan@gmail.com.

Há besos,

CD

QUAL É A TUA, OBAMA?


A eleição de Barak Obama para a presidência dos Estados Unidos teve uma forte importância simbólica, por ser o primeiro negro a ocupar esse cargo num país que, até a década de 1960, vivia um regime de segregação racial semelhante ao apartheid da África do Sul. O fato de Obama ser filho de pai queniano e descendente de muçulmanos apontava ainda para uma mudança de direção na política interna e externa, com maior ênfase no combate às desigualdades sociais e no convívio (e não conflito) de civilizações.

As primeiras medidas tomadas pelo novo presidente, de fato, foram ousadas, no âmbito da política norte-americana: anunciou o fechamento do campo de concentração de Guantánamo, a retirada das tropas do Iraque, o aumento dos impostos dos mais ricos, o estímulo à pesquisa em células-tronco (contrariando os psicopatas da Igreja Católica) e a elevação dos gastos públicos com a educação. Por conta disso, foi chamado de “camarada Obama” pelos tiranosauros da direita em seu país.

A esperança de mudanças profundas no país do Pato Donald, porém, aos poucos está se revelando inócua: é verdade que Obama irá retirar os soldados do Iraque, sim, mas para enviá-los ao Afeganistão, ampliando a guerra nesse país, sem o risco de manter duas frentes de batalha (que já custou mais de 4 mil soldados mortos às Forças Armadas dos EUA). Ao mesmo tempo, ameaça bombardear bases rebeldes no Paquistão (cujo governo, vassalo obediente de Washington, não consegue controlar a própria população descontente) e dá ultimatos ao Irã, por causa de seu programa nuclear (sem fazer a menor censura ao arsenal de 200 ogivas nucleares de Israel).

Obama mantém o apoio incondicional ao governo israelense, hoje dirigido pelo líder de extrema-direita Netanyahu, que declara querer anexar Jerusalém Oriental, aumentar a colonização nos territórios palestinos ocupados e negar a esse povo oprimido há 60 anos um Estado soberano e independente. A suposta “face humana” do imperialismo, sob o governo de Barak Obama, é a mesma face cruel e despótica de seus antecessores. Não por acaso, Gore Vidal, comparando os EUA à antiga União Soviética, declarou que, em ambos os países, governava um partido único, mas que, nos EUA, esse partido único tinha dois nomes: Republicano e Democrata...

Barak Obama tem ainda o desafio de lidar com a mais grave crise do capitalismo desde a II Guerra Mundial, e sua receita para isso é clara: ressuscitar o modelo de Keynes e utilizar recursos do Estado para revitalizar a economia de mercado. Conforme noticiou a UOL, “o governo Barack Obama concederá mais ajuda financeira a General Motors e Chrysler em troca de novas concessões, noticiou hoje em seu site o jornal americano The New York Times. As duas montadoras receberam US$ 17,4 bilhões em ajuda pública desde dezembro de 2008 e já solicitaram outros US$ 21,6 bilhões extras para manter suas operações”. Claro, essa injeção financeira é dada sob a alegação da proteção dos empregos dos trabalhadores americanos. Mas por que o Estado só deveria intervir (na lógica capitalista) para socorrer empresas falidas, e, quando o faz em benefício de gastos sociais, saúde, educação, distribuição de renda, isso é chamado de “populismo”? Enfim, pouca coisa mudou na Casa Branca, além da cor da pele de seu novo dirigente. Que preferiu trair seus antepassados e adaptar-se à lógica da senzala, a um poder tirânico, fossilizado, que incorpora pequenas mudanças cosméticas para permanecer sempre o mesmo.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

PROGRAMA DE ÍNDIO













Caros, no dia 19 de abril, a partir das 15h, acontecerá o I Sarau das Poéticas Indígenas, na Casa das Rosas. Este evento é muito bem-vindo, pois há pouquíssimas traduções e estudos de poética indígena publicados no Brasil, entre eles os Cadernos de Ameríndia, com traduções de Josely Vianna Baptista, e Kosmofonia mbya guarani, com traduções de Douglas Diegues, além dos estudos de Antonio Risério e Sérgio Medeiros. O evento acontecerá até as 21h e, claro, a entrada é franca.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Caros, vou ministrar um curso de criação poética na Academia Internacional de Cinema, entre os dias 8 e 29 de abril (sempre às quartas-feiras), das 19h30 às 22h30. A AIC fica na rua Dr. Gabriel dos Santos, 142, Higienópolis, próxima à estação de metrô Marechal Deodoro. Quem estiver interessado em fazer o curso pode contatar a AIC pelo tel. (11) 3826 7883, ou pelo e-mail info@aicinema.com.br.