Antonio Candido, em sua obra clássica Formação da Literatura Brasileira, criou o conceito de SISTEMA LITERÁRIO, formado por três elementos – o autor, o livro e o leitor – sem os quais não haveria literatura. O conceito, válido de acordo com o método adotado pelo autor para o estudo crítico da literatura, é questionável, entre outros motivos, por não ser aplicável às literaturas orais – por exemplo, a poesia cantada e as narrativas mitológicas dos povos indígenas e africanos, transmitidas de geração a geração por meio da fala e do canto, e também às literaturas digitais, que utilizam outros suportes, diferentes do livro, como o CD, o DVD ou as ferramentas oferecidas pela internet. Na era contemporânea, também podemos pensar em outros elementos que participam da difusão de obras literárias, como as editoras (subentendidas por Candido quando se refere ao livro), a imprensa, as redes sociais e os grupos que exercem o poder literário. Um autor será lido não apenas pela qualidade de seu texto, por seu domínio do engenho poético e por sua imaginação fabulatória, mas sobretudo se for publicado por uma editora “importante”, como a Record, a 7 Letras, a ex-Cosac&Naif ou a Companhia das Letras, se obter divulgação eficiente nos jornais e redes sociais e mais ainda se for “apadrinhado” por um lobby poderoso, com eficiente máquina de marketing, que exerça influência em concursos e bolsas literárias, como a da Petrobrás, na crítica literária e na universidade: nesse caso, mesmo um(a) autor(a) medíocre será transformad@ em celebridade da noite para o dia e terá a unanimidade da mídia e das instituições culturais a seu favor, mesmo que suas obras sejam irrelevantes. Já um(a) autor(a) que desenvolva um trabalho sério, mas que não tenha o apoio de todos os elementos do novo sistema literário, circulará apenas no meio underground de seus pares, colegas e amigos. É injusto? Sim, é injusto e quem critica o sistema é colocado automaticamente fora dele, boicotado e excluído, quando não é caluniado e difamado. Porém, não há marketing que dure para sempre: o Tempo é o maior de todos os críticos literários e não pode ser bajulado ou corrompido: cabe a ele separar o joio do trigo, as obras “premiadas” que cairão no esquecimento e as obras rejeitadas que receberão novo olhar crítico.
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