Quando eu iniciei a carreira
literária, no início da década de 1980, costumava visitar alguns poetas,
críticos literários, artistas e intelectuais que eu respeitava, para conversar.
Queria apresentar o meu trabalho, trocar experiências, saber mais sobre as
pesquisas que eles realizavam na poesia e em outras artes e ramos do
conhecimento. Eu era jovem e ainda imaturo. Fui bem recebido por Mário
Schenberg, José Celso Martinez Corrêa, Jorge Schwartz, para citar poucos nomes,
e troquei cartas (na época não havia e-mail) com
Augusto de Campos e José Paulo Paes. Com alguma frequência, ouvi a pergunta:
"Você é filho de quem?". Confesso que na época fiquei surpreso com a
questão, não entendi a sua relevância, mas respondia: "Meu pai se chama
Orlando, e minha mãe, Lázara". Eles ouviam a resposta com curiosíssimas
expressões faciais. Muitos anos depois, ao folhear uma revista literária --
cujos editores eram, todos eles, filhos de ministros da área econômica e
grandes empresários -- entendi, finalmente, a pergunta. Poetas iniciantes
"deveriam" ser filhos de importantes artistas plásticos, homens de
negócios, atores renomados, professores da USP, críticos importantes, enfim,
"gente de bem". Eu era a ovelha negra -- aliás, vermelha -- no
rebanho. Hoje, sempre que posso, digo com orgulho: sou filho de Orlando, um
técnico eletrônico com segundo grau incompleto, que trabalhou a vida toda em
fábricas de caldeiras e de equipamentos eletrônicos, e de Lázara, uma
secretária das Indústrias Reunidas F. Matarazzo. Foi com eles que adquiri o
gosto pela leitura. Tudo o que consegui na vida literária, em mais de 30 anos
de carreira, conquistei por mim mesmo.
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