Conversei com Mário Schenberg uma única
vez, nos remotos anos 1980. Ele morava numa casa ampla, com quadros e obras de
arte por todos os lados. Surpreendeu-me ouvir de um dos maiores físicos da
segunda metade do século XX e marxista convicto, membro do Comitê Central do
antigo PCB, um discurso semelhante ao de Erich von Daniken, autor de "Eram
os deuses astronautas?". Mário acreditava que houve intercâmbio entre
alienígenas e antigas civilizações, como as dos maias e astecas, e acompanhava a
ufologia com interesse. Também estudava religiões orientais, como o taoísmo e o
zen-budismo (após o seu falecimento, conforme instruções que deixou à família,
recebeu cerimônia fúnebre em um templo budista). Mário também era grande
interessado em poesia e, após ler minhas tímidas e arrogantes produções de
mocidade, fez um único comentário: que após o Modernismo os poetas usavam e
abusavam dos substantivos, mas se esqueceram dos verbos. Nunca me esqueci dessa
lição e até hoje, em meus poemas, busco a diversidade de verbos e tempos
verbais. Também aprendi com ele a não ser sectário, manter a mente aberta e
entender o marxismo como ciência social útil para a compreensão de diversos
aspectos da realidade, mas não a sua totalidade. Sou marxista em política, em
economia, o que não me impede de flertar com outras filosofias e formas de
compreensão do mundo, em campos que escapam ao repertório teórico, métodos e
estratégias do marxismo – e não vejo nisso nenhuma heresia ou contradição: o
próprio Marx considerava que o socialismo não seria a destruição de todas as
conquistas culturais do passado, mas, ao contrário, seria a conclusão lógica do
avanço das forças produtivas, ciência, tecnologia e cultura desenvolvidos pela
humanidade.
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