Recebi, com imensa tristeza, a
notícia do falecimento de Ana Hatherly. Poeta, romancista, ensaísta,
desenhista, pintora, cineasta, musicista, foi uma das mais completas artistas
portuguesas contemporâneas. Durante a Revolução dos Cravos, não ficou em cima do
muro: criou cartazes de agitação política e colocou-se ao lado dos estudantes,
soldados e trabalhadores que derrubaram a ditadura salazarista. Escrevi sobre
ela em meu livro "A estética do labirinto -- barroco e modernidade em
Ana Hatherly" (dissertação de mestrado), e também em
minha tese de doutorado, "A recepção da poesia japonesa em Portugal".
Entre outros feitos notáveis, Ana Hatherly organizou a antologia "A
experiência do prodígio", com poemas visuais do barroco português, reeditou
livros de autores barrocos há muito tempo fora de circulação, divulgou o haicai
e o koan, organizou exposições e performances da Poesia Experimental
Portuguesa, dirigiu um programa de televisão. Um espírito raro, destes que
fazem falta, muita falta, no panorama cultural contemporâneo.
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