Meu pai, Orlando, era um técnico eletrônico com segundo grau
incompleto, leitor de Shakespeare e Homero, que trabalhou a vida toda em
fábricas de caldeiras e equipamentos eletrônicos. Minha mãe, Lazara, era
secretária nas Indústrias Reunidas F. Matarazzo. Cursei o ensino fundamental e
o médio num colégio particular, adventista, no bairro de Moema – minha mãe
conseguiu uma bolsa de estudos de quase 100% para mim –, frequentado por filhos
da elite paulistana. Ela acreditava que, em tal instituição, eu receberia uma
boa formação educacional. As lembranças que eu tenho das aulas são péssimas:
ensino superficial, com método pedagógico defasado, voltado para o “mercado” –
por minha sorte, tive formação autodidata, devorando livros de história,
literatura, filosofia, política. Se pouco aprendi com os professores, muito
aprendi com meus colegas, filhos da mais ilustre burguesia paulistana: aprendi
o que era preconceito de classe, de etnia, de gênero, de orientação sexual e
até estética: obesos são discriminados? Magros também. Fui alvo de bullyng por
anos, mas nunca fui adepto da resistência pacífica, e espanquei sem dó vários
filhinhos de papai. Aos 16 anos, depois de conviver tanto tempo com a
doutrinação religiosa adventista (meus pais, aliás, eram católicos) e todo o
discurso ideológico de meus colegas – admiradores confessos da ditadura –,
passei a declarar-me ateu e marxista-leninista revolucionário, do que tenho
muito orgulho até os dias de hoje.
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