Perplexidade, raios de um sol
que redesenha seu centro;
essa matéria tão delicada,
ferozes epitélios da flor;
deslizando das pupilas, 
revoluta, para outro mar, 
após tingir o flanco da noite. 
Fosse apenas o perambular
em outra relva, seria tema
de chanson;  dissociada de mim,
reclinada em lua minguante,
seria musa de retrato fauvista,
excedendo o rubro tigrino.
De todo modo, um dia vou
felinizá-la em partitura.
RAPTO
Para iniciar uma lua pelos filamentos, em articulações
de répteis. 
Obliterar os arredores 
ao esquadrinhar a pele. 
Descrever 
joelhos como náutilos, 
seios como escabelos, 
esse é o meu hibridismo, 
minha fome vertebrada. 
Acontece que 
a expansão do branco 
bifurca-se, espraia-se 
esqualidamente
do lábio ao umbigo, 
em simulado rapto. 
Ame o mapa de meu rosto,
sua caligrafia de incinerações.
ESCRITO EM FLOR
paisagem musical
onde o amarelo 
dá sentido ao vermelho:
esta é uma canção
de amor.
*
lábio (pétala) 
submerge 
em topázio-tigre,
até sangrar as ilhas 
do desejo.
*
esfinge do espelho 
ou cegueira:
(real) imaginária. 
*
uma flor (a lebre), partículas do
mundo nas retinas.
*
cada abelha sonha 
uma rosa imantada. 
*
violetas indagam 
onde trópicos noturnos, 
ritmos bruxos, 
areias núbeis 
de contato.
*
no avesso das pálpebras:
onde ver o porto 
da viagem, 
do mistério ao desatino. 
NOITE-SEIOS
luazulada
alvíssima
deslinda-
se no céu
finíssima
auréola:
pó de luz
que cintila
nos róseos
mamilos
desnudados
— lua
em luas
refletida,
prata
em prata
lucilada
NOITE-ESPERMA
esbranquiçadas
estrelas
prateiam
o negrume
cetinoso
com lácteos
jatos
(deslumbre
de luzes)
YUMÊ
 tu-
as pál-
pebras: me-
chas de té-
pida seda
escura;
— o charme
sutil da lua
trêmula, em
rápidos
        traços
de pincel.
no tumul-
to de teus
pequenos
pés, o salto
do felino e
o ágil rumor
                   de asas
                               da butterfly
GOYA
maja
desnuda
se
espraia
e
adensa
na
cambraia
de
provença
SUTRA
para
Reginabhen
pálpebras de alfazema
cintilantes luas sem enigma
sob o céu anúbis-tânger-cicatriz
na seda cor de nuvem que simula o desejo
serpenteiam formas de dançarina moura
de seios tamarindo e lábios sabor anis
o seu púbis shiva kali irrompe como rosa
cítara que emudece o pensar do amante
e lhe toca o coração
no mais cálido êxtase de santos dervixes
mulher sem álgebra, sem mitologia, sem cabala
ou neurocibernética quântica
a mais-que-perfeita expressão do verbo
que resume à sua maneira schopenhauer
os manuscritos de alexandria
os fabulosos cálculos dos astrônomos
e os acordes finais e um pianista de blues
dama feita para mim e o meu desejo de outro
que em tuas mãos é um leão domesticado
e no entanto és apenas uma mulher
deitada no lado esquerdo da cama

Belos!
ResponderExcluirAbraços
Gosto tanto de te ler
ResponderExcluirMuito bom
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