O garoto de
recados é uma figura folclórica dos meios literários. Trata-se de aspirante a
poeta, com ou sem livro publicado (o que não importa, já que ninguém o lê), ausente
em todas as antologias de poesia contemporânea, que nunca recebeu atenção da crítica
especializada ou de seus pares consagrados. Este fracasso, devido apenas à
insuficiência imaginativa de sua obra – para não falar em falta de qualidade, o
que soaria agressivo – torna tal tipo profundamente ressentido e disposto à
vingança contra os autores “famosos” que, a seu ver, são responsáveis por sua
desgraça. O garoto de recados só consegue sair, temporariamente, do anonimato,
e ver o seu nome circulando na praça (ainda que negativamente) quando encontra
um senhor a quem servir – por exemplo, um juiz tão louco e ressentido quanto
ele. O garoto recebe então tarefas: falar mal de X, Y, ou Z, em artigos mal
escritos, grosseiros, sem argumentação e com um sarcasmo que mal esconde a sua
inveja. Ele sente um prazer quase erótico ao ver o seu nominho estampado no tabloide
virtual publicado pelo juiz, considera-se importante, a ponto de “julgar” e “condenar”
aqueles que antes o "condenaram" ao justo anonimato. Acusa, difama, calunia, faz
o trabalho sujo pelo juiz, que pode assim eximir-se da tarefa ostensivamente
antiética e posar de neutro editor que garante a “liberdade de opinião”, no
melhor estilo PIG. O garoto de recados acredita que, em troca de seus préstimos
de mau-caráter, receberá o tão esperado lugar ao sol, sendo então lido e
elogiado como o grande (e injustiçado) poeta que julga ser. O que não lhe
ocorre é que a sua “obra poética”, sendo Lodo, já o condenou ao definitivo e
irremediável esquecimento..
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