CAVALO DO CAOS
este que desfia tais demências
é meu hóspede, um demônio perdulário
ou serei eu, vapor de virulência
seu hóspede inconcluso
argamassa de medo amando morsas
gritaria gozando em sóis-fracassos
numa esquina, soberbo multiplica
espasmo outrora entrave e correnteza
subterrânea seringa que me singra
e sorve naufrágios frutificando fratricídios
APRISCO DE TARAS
1
canção de gume engastado
na guelra das galáxias
brinca de abrir brechas
no corpo da manhã
2
arquipélago pulsante perambula pelo poeta
mútua marcha de morangos
AS FENDAS DO MURO
Seus cabelos são uma matilha de casarões entre os ventos de meus dedos
Um lago fita infâncias nos seus lábios
Todas as janelas foragidas
Vejo um tango de icebergs nos carrilhões dos seus olhos
Aí certamente adormecem os nômades do basalto
Aí saltam girassóis de cachecol chamejante
Um martírio de morangos em suas orelhas
Os pedestres gritam greves azuis pelos seus poros
Uma lâmina estende mesquitas de néon pela explosão da avenida
Persiste um planeta de puro amor
Nos gestos de seu colar ancestral
Na máscara prismática do imprevisto
Na pele incandescente, na surdez das planícies
Este dia desliza pelo clamor sem raízes
Seu rosto é um pomar de tigres
Duas fontes de mãos dadas descem a calçada
Crivando as rotas com ritmo de rinoceronte
Há um jardim que afirma no fim de cada teu gesto
Que o ferrolho do infinito
Outorga-nos horóscopos
De puro orvalho
REFÉM DO ORVALHO
réstea de sol que lambe a mala
ABARROTADA.
vigor é ventania de vícios na volta.
espirais de desejo, evocações,
meus livros;
uns passos pelo pólen dos lapsos.
este peso no peito
é sabor de se despojar,
deixar pedaços nas pensões do tempo,
se sentir crivado de acréscimo
como relva
que se rumina em rapsódia
Fabrício Clemente é poeta e publicou na Zunái.
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