HINO AO JUIZ
Pelo Mar Vermelho vão, contra a maré,
Na galera a gemer os galés, um por um.
Com um rugido abafam o relincho dos ferros:
Clamam pela pátria perdida – o Peru.
Por um Peru – Paraíso – clamam os peruanos,
Onde havia mulheres, pássaros, danças,
E, sobre guirlandas de flores de laranja,
Baobás – até onde a vista alcança.
Bananas, ananás! Peitos felizes.
Vinho nas vasilhas seladas…
Mas eis que de repente com praga
No Peru imperam os juízes!
Encerraram num círculo de incisos
Os pássaros, as mulheres e o riso.
Boiões de lata, os olhos dos juízes
São faíscas num monte de lixo.
Sob o olhar de um juiz, duro como um jejum,
Caiu, por acaso, um pavão laranja-azul:
Na mesma hora virou cor de carvão
A espaventosa cauda do pavão.
No Peru voavam pelas campinas
Livres os pequeninos colibris;
Os juízes apreenderam-lhes as penas
E aos pobres colibris coibiram.
Já não há mais vulcões em parte alguma,
A todo monte ordenam que se cale.
Há uma tabuleta em cada vale:
“Só vale para quem não fuma.”
Nem os meus versos escapam à censura;
São interditos, sob pena de tortura.
Classificaram-nos como bebidas
Espirituosa: “venda proibida”.
O equador estremece sob o som dos ferros.
Sem pássaros, sem homens, o Peru está a zero.
Somente, acocorados com rancor sob os livros,
Ali jazem, deprimidos, os juízes.
Pobres peruanos sem esperança,
Levados sem razão à galera, um por um.
Os juízes cassam os pássaros, a dança,
A mim e a vocês e ao peru.
Tradução: Augusto de Campos
Que show...esse finalzinho me lembrou o Baudelaire com aquilo de se embriagar de poesia, virtude ou vinho (bem, não sei de onde é, só vi um trecho fragmentado). Muito interessante o Maiakowski. A minha turma tá vendo uns poemas dele na cadeira de teoria I
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