domingo, 29 de maio de 2011
UM POEMA DE ERNESTO CARDENAL
QUETZÁLCOATL (FRAGMENTOS)
Quetzalcoátl, a Serpente de Plumas
A serpente com plumas de quetzal.
Serpente-quetzal.
Terra e voo.
A serpente era a terra
devoradora de vida
e doadora de vida.
Serpente-pássaro = matéria alada.
União da terra com o céu.
Terra que sobe e céu que desce.
(Unidos no cimo da pirâmide.)
Cobra erguida e pássaro pousando.
Matéria ascendendo à luz.
A batalha da luz.
Vênus 90 dias invisível.
Depois arde 250 dias no céu da tarde.
Depois desaparece 8 dias
e torna a aparecer a leste como estrela da manhã.
(A descida aos infernos)
Quetzalcoátl oito dias entre os mortos.
*
Chamavam-no também Moyocuyatzin ayac oquiyocux, ayac oquipic,
que significa que ninguém o criou,
que se fez inteiro
(aquele que se pensa ou inventa a si próprio).
O rosto iluminado em tantos destroços na América Central.
Astro nascido das cinzas do rei de Tula.
Oito dias em Mictlan, a Região dos Mortos.
Foi lá à procura dos ossos dos homens.
Os preciosos ossos dos homens.
“Venho à procura dos ossos preciosos.”
Porque
“os Deuses querem que alguém viva na terra”.
Os ossos do homem e da mulher estavam misturados.
Regou-os com o sangue do seu pênis
E renasceram.
Tradução: Herberto Helder
(Do livro Poemas Ameríndios. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997.)
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