terça-feira, 31 de maio de 2011
POEMAS AMERÍNDIOS (I)
POEMAS ASTECAS
Não acabarão nunca as minhas flores, não acabarão os meus cantos.
Eu, cantor, levanto-os,
e eles espalham-se,
são flores que murcham e amarelecem
e são levadas para longe, para a dourada mansão das plumas.
*
Já amadurecem as flores: troquem-se por roupagens e jóias,
Ó príncipes: mostram o rosto luminoso, irradiam;
só na primavera colho a flor amarela.
Já amadureceram as flores nas faldas da montanha!
*
Até o jade se parte,
até o ouro se dobra,
até a plumagem de quetzal se despedaça...
Não se vive para sempre na terra!
Duramos apenas um instante!
*
Que não vão em vão!
Agarra o teu escudo: cântaro de água florida!
Teu pequeno jarro de asa,
já está de pé teu cântaro precioso cor de obsidiana,
com ele aos ombros levaremos a água,
vamos levá-la até longe, ao México,
daqui, das margens do lago.
Que não vão em vão,
filhos da água!
Faço correr a água,
oh, vamos todos!,
aos ombros levaremos a água,
vamos levá-la!
Ainda não amanhece.
Levantamos a nossa carga de água:
límpida, preciosa, cor de turquesa,
água que se move e ondeia.
Aproximem-se do lugar dos cântaros,
não vão em vão!
Talvez ainda esteja rumorejando,
talvez ainda não esteja aprisionada.
Ah, pintem o cântaro à maneira tolteca,
pintem essa forma preciosa com ouro e prata!
Juntos vamos agarrá-la,
vamo-nos aproximar da água branca.
Além, junto aos canais,
as gotas caem, as águas levantam-se.
Aquele que carrega a minha água florida
já ali vem, ele, vem para ma dar.
Esperem-no, não vão em vão.
A guerra florida, a flor do escudo,
abriram a sua corola.
Grande estrépito de entrechocar de escudos, de corolas:
por isso venho esconder aqui o ouro e a prata,
venho pedir que me guardem os livros de pinturas do ano.
Ó canal, com o meu cântaro corre a água!
Tradução: Herberto Helder
(Do livro Poemas Ameríndios. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997.)
Não acabarão nunca as minhas flores, não acabarão os meus cantos.
Eu, cantor, levanto-os,
e eles espalham-se,
são flores que murcham e amarelecem
e são levadas para longe, para a dourada mansão das plumas.
*
Já amadurecem as flores: troquem-se por roupagens e jóias,
Ó príncipes: mostram o rosto luminoso, irradiam;
só na primavera colho a flor amarela.
Já amadureceram as flores nas faldas da montanha!
*
Até o jade se parte,
até o ouro se dobra,
até a plumagem de quetzal se despedaça...
Não se vive para sempre na terra!
Duramos apenas um instante!
*
Que não vão em vão!
Agarra o teu escudo: cântaro de água florida!
Teu pequeno jarro de asa,
já está de pé teu cântaro precioso cor de obsidiana,
com ele aos ombros levaremos a água,
vamos levá-la até longe, ao México,
daqui, das margens do lago.
Que não vão em vão,
filhos da água!
Faço correr a água,
oh, vamos todos!,
aos ombros levaremos a água,
vamos levá-la!
Ainda não amanhece.
Levantamos a nossa carga de água:
límpida, preciosa, cor de turquesa,
água que se move e ondeia.
Aproximem-se do lugar dos cântaros,
não vão em vão!
Talvez ainda esteja rumorejando,
talvez ainda não esteja aprisionada.
Ah, pintem o cântaro à maneira tolteca,
pintem essa forma preciosa com ouro e prata!
Juntos vamos agarrá-la,
vamo-nos aproximar da água branca.
Além, junto aos canais,
as gotas caem, as águas levantam-se.
Aquele que carrega a minha água florida
já ali vem, ele, vem para ma dar.
Esperem-no, não vão em vão.
A guerra florida, a flor do escudo,
abriram a sua corola.
Grande estrépito de entrechocar de escudos, de corolas:
por isso venho esconder aqui o ouro e a prata,
venho pedir que me guardem os livros de pinturas do ano.
Ó canal, com o meu cântaro corre a água!
Tradução: Herberto Helder
(Do livro Poemas Ameríndios. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997.)
domingo, 29 de maio de 2011
UM POEMA DE ERNESTO CARDENAL
QUETZÁLCOATL (FRAGMENTOS)
Quetzalcoátl, a Serpente de Plumas
A serpente com plumas de quetzal.
Serpente-quetzal.
Terra e voo.
A serpente era a terra
devoradora de vida
e doadora de vida.
Serpente-pássaro = matéria alada.
União da terra com o céu.
Terra que sobe e céu que desce.
(Unidos no cimo da pirâmide.)
Cobra erguida e pássaro pousando.
Matéria ascendendo à luz.
A batalha da luz.
Vênus 90 dias invisível.
Depois arde 250 dias no céu da tarde.
Depois desaparece 8 dias
e torna a aparecer a leste como estrela da manhã.
(A descida aos infernos)
Quetzalcoátl oito dias entre os mortos.
*
Chamavam-no também Moyocuyatzin ayac oquiyocux, ayac oquipic,
que significa que ninguém o criou,
que se fez inteiro
(aquele que se pensa ou inventa a si próprio).
O rosto iluminado em tantos destroços na América Central.
Astro nascido das cinzas do rei de Tula.
Oito dias em Mictlan, a Região dos Mortos.
Foi lá à procura dos ossos dos homens.
Os preciosos ossos dos homens.
“Venho à procura dos ossos preciosos.”
Porque
“os Deuses querem que alguém viva na terra”.
Os ossos do homem e da mulher estavam misturados.
Regou-os com o sangue do seu pênis
E renasceram.
Tradução: Herberto Helder
(Do livro Poemas Ameríndios. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997.)
sexta-feira, 27 de maio de 2011
PROGRAMAÇÃO DE LITERATURA DE JUNHO NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
DIA 02 (quinta-feira)
Poesia dos 4 Cantos
Poesia dos Quatro Cantos é uma atividade mensal dedicada à divulgação da poesia internacional, num formato que inclui leituras poéticas, danças e músicas típicas de cada país. Em junho, será feita a apresentação de uma Noite Persa com Lélia Maria Romero, Alex Dias e Francesca Cricelli, que lerão poemas de autores clássicos e contemporâneos, em farsi e português.
Haverá exposição temática de literatura persa nos exibidores da Biblioteca Sérgio Milliet.
Das 20h30 às 22h, na Praça das Bibliotecas.
DIA 09 (quinta-feira)
Dois Dedos de Prosa: Leituras de Júlio Cortázar
Recital de contos do autor argentino Júlio Cortázar lidos por Nelson de Oliveira, Evandro Affonso Ferreira e Andréa Del Fuego, com acompanhamento musical do saxofonista Vinícius Dorin. O evento faz parte do ciclo Percursos Amarelos.
Das 19h30 às 21h, na Praça das Bibliotecas.
Haverá intérprete de Libras.
DIA 21 (terça-feira)
Poetas de Cabeceira
Marcelo Tápia fará uma palestra sobre o poeta Augusto de Campos, comentando a biografia do autor, sua época, características estéticas e, sobretudo, a sua experiência pessoal como leitor da poesia de Campos, que em 2011 comemora 80 anos de idade.
Das 19h30 às 21h, na Sala de Debates do Centro Cultural.
Haverá intérprete de Libras.
Poesia dos 4 Cantos
Poesia dos Quatro Cantos é uma atividade mensal dedicada à divulgação da poesia internacional, num formato que inclui leituras poéticas, danças e músicas típicas de cada país. Em junho, será feita a apresentação de uma Noite Persa com Lélia Maria Romero, Alex Dias e Francesca Cricelli, que lerão poemas de autores clássicos e contemporâneos, em farsi e português.
Haverá exposição temática de literatura persa nos exibidores da Biblioteca Sérgio Milliet.
Das 20h30 às 22h, na Praça das Bibliotecas.
DIA 09 (quinta-feira)
Dois Dedos de Prosa: Leituras de Júlio Cortázar
Recital de contos do autor argentino Júlio Cortázar lidos por Nelson de Oliveira, Evandro Affonso Ferreira e Andréa Del Fuego, com acompanhamento musical do saxofonista Vinícius Dorin. O evento faz parte do ciclo Percursos Amarelos.
Das 19h30 às 21h, na Praça das Bibliotecas.
Haverá intérprete de Libras.
DIA 21 (terça-feira)
Poetas de Cabeceira
Marcelo Tápia fará uma palestra sobre o poeta Augusto de Campos, comentando a biografia do autor, sua época, características estéticas e, sobretudo, a sua experiência pessoal como leitor da poesia de Campos, que em 2011 comemora 80 anos de idade.
Das 19h30 às 21h, na Sala de Debates do Centro Cultural.
Haverá intérprete de Libras.
AVISO AOS NAVEGANTES
Caros, publiquei aqui uma série de minipoemas em prosa narrativos, com o nome de Paisagens, que são os primeiros esboços para um futuro livro de fragmentos líricos, meio ficcionais, meio autobiográficos. Vou interromper a série agora, devido a um excesso de atividades de todo tipo (universidade, trabalho e um longo etc.), retornarei à criação dessas miniaturas poéticas assim que possível.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
PAISAGENS (XI)
LAFORGUE
"Praia de ossos", mamilo que traduz a lua; minúsculo esqueleto branco, Schopenhauer, música essa flor que saboreia minha língua.
(Quando?)
PAISAGENS (X)
PROUST
Cabeleira leonina, multiplicação de prismas, tanto deserto, Renée, música nenhuma, contornos que se desfazem, gravuras de bonecas espanholas, Renée, o movimento das falanges, palavras secas na fotografia, desmembrando.
(Atibaia, após 1985)
PAISAGENS (IX)
AEROPORTO
Roubava revistas de jardinagem e culinária japonesa com a tranquilidade de um colecionador de térmitas.
(Congonhas, s/d)
sexta-feira, 20 de maio de 2011
PAISAGENS (VIII)
JEUNESSE
Renée gostava de revólveres, conhaque, música de Bach, jogos de memória, lenços de seda indiana, livros de Jung.
(Sabiá, 1985)
Renée gostava de revólveres, conhaque, música de Bach, jogos de memória, lenços de seda indiana, livros de Jung.
(Sabiá, 1985)
quinta-feira, 19 de maio de 2011
PAISAGENS (VI)
INFÂNCIA
Caveira de macaco com rubis nas órbitas, reprodução de mapa de navegação do século XVI, estatuetas dos sete sábios da China, espátula de bronze na forma de demônio, brinquedos de infância.
(Moema, s/d)
Caveira de macaco com rubis nas órbitas, reprodução de mapa de navegação do século XVI, estatuetas dos sete sábios da China, espátula de bronze na forma de demônio, brinquedos de infância.
(Moema, s/d)
PAISAGENS (V)
OBSCURO
O sempre fascínio por essa gargalhada, essa fome, essa lâmina, música que destroi a floresta dos peixes.
(Universidade, 2011)
(Universidade, 2011)
PAISAGENS (IV)
ÓBVIO
O desprezo ao óbvio de anúncios, epitáfios, crônicas, bilhetes, memorandos, maus poemas, sociologias, cartões-postais.
(Universidade, 2011)
quarta-feira, 18 de maio de 2011
PAISAGENS (III)
DOMINGO
Vitrais; paisagem africana; cúpula-cogumelo; o cheiro do cachimbo; voz monótona; fatias de alcatra; um pão sem gosto de nada; relógio de pulso; imobilidade; súbito, enormes tetas brancas e olhos olhos olhos verdes.
(Casa do Senhor, 1972)
(Casa do Senhor, 1972)
PAISAGENS (II)
MÃE
Concerto para cordas, flores sintéticas, rosário nas mãos magras, caixão desce pelo fosso, no centro da plateia mal iluminada, até virar cinzas.
(Vila Alpina, 2005)
Concerto para cordas, flores sintéticas, rosário nas mãos magras, caixão desce pelo fosso, no centro da plateia mal iluminada, até virar cinzas.
(Vila Alpina, 2005)
terça-feira, 17 de maio de 2011
PAISAGENS (I)
FAZENDA
Num relâmpago, oculta-se entre as pedras do pequeno jardim japonês -- dourado como uma lâmina do sol -- o lagarto.
(Nova Gokula, verão de 1998.)
domingo, 15 de maio de 2011
POETAS DE CABECEIRA NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
Donizete Galvão fará uma palestra sobre o poeta Carlos Drummond de Andrade, comentando a biografia do autor, momento histórico, a importância do poeta para a renovação da literatura brasileira e, sobretudo, a sua experiência pessoal como leitor da poesia de Drummond. Haverá tradução simultânea para a linguagem Libras.
Dia 17 de maio, terça-feira, das 19h30 às 21h – Sala de Debates (na Biblioteca do Centro Cultural).
Dia 17 de maio, terça-feira, das 19h30 às 21h – Sala de Debates (na Biblioteca do Centro Cultural).
Endereço: rua Vergueiro, n. 1.000, próximo à estação do metrô.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
RELENDO MOI-MÊME (IV)
LIÇÃO DA ÁGUA
I
o
mar,
fêmea
possessa.
sua fala
de suave
lâmina
abissínia;
o ritmo
ondulado,
que flui
em espiral;
a precisão
especular
do teatro
aquático;
o secreto
pugilato
que sulca
as rochas.
II
o
mar,
leoa
furiosa,
ensina
ao poeta
sua arte
plumária;
a dança-
escultura
das vagas
incessantes;
a pulsação
do poema,
seus ciclos
menstruais.
o
mar
ensina
ao poeta
sua arte
sem arte.
1997
(Do livro Yumê. São Paulo: Ciência do Acidente, 1999.)
I
o
mar,
fêmea
possessa.
sua fala
de suave
lâmina
abissínia;
o ritmo
ondulado,
que flui
em espiral;
a precisão
especular
do teatro
aquático;
o secreto
pugilato
que sulca
as rochas.
II
o
mar,
leoa
furiosa,
ensina
ao poeta
sua arte
plumária;
a dança-
escultura
das vagas
incessantes;
a pulsação
do poema,
seus ciclos
menstruais.
o
mar
ensina
ao poeta
sua arte
sem arte.
1997
(Do livro Yumê. São Paulo: Ciência do Acidente, 1999.)
terça-feira, 10 de maio de 2011
RELENDO MOI-MÊME (III)
AKMA
é
o sílex-
lírio-marfil-cimitarra,
gárgula
do incompreensível
silêncio:
é
a nãoverbena, o nãodiamante, o nãopolifemo
o não
anão
(sombra infracta)
o não
(sim!)
a sós
1990
OS CÂNONES DA DOR
unhas nos sulcos
da pele, em todos
os poros da dor:
a dor que é pedra
no limiar da fala
que verte em suor.
o som do inaudível
uivo — uivo ósseo,
uivo epidérmico —
instila, inflama
todas as suturas
e corre, abissal
em verdes glóbulos
de sonora náusea
e dolorosa repulsa.
1991
AS DÁDIVAS
os dons
da água e do vento
silêncio de tigres
— o branco
areais
a areia sem tempo
— o branco
primícias
da sublime desmemória:
vôo de borboletas
1991
KNAAT
heléboro
— mandrágoras —
ecos
de grous, hienas, texugos, zibelinas, anfisbenas
o gris
cinza-esbranquiçado da concha musgo-turmalina
e
o canto
oblíquo
do gafanhoto
tudo isso
— e nada disso —
é o Knaat
2ª versão, 1989
(Poemas de meu livrfo de estreia, Sutra, publicado em 1992, em edição do autor. Poemas desse livro foram republicados em minha antologia pessoal Figuras Metálicas, que saiu pela Perspectiva, em 2005,)
sábado, 7 de maio de 2011
RELENDO MOI-MÊME (II)
LETRA NEGRA
XII
invento estranhos jogos, ó górgonas, busco uma saída para a insânia. crio nomes para as cores: azul é asmodeus, vermelho, belial, roxo, astaroth, branco, balam, violeta, astarté. alucino palavras até queimarem parietais, rótulas, tendões, nervos retorcidos em rude seqüência de mutações. renomeio teu corpo, matéria transfigurável, ao percorrê-lo de esperma: boca é amêijoa, dorso é fataça, vagina é lagamar, olhos são gavinhas, tetas são guantes, e assim até o extremo da pele. escrevo nomes para o teu nome: você é agramática majólica, replicante sexual, lince nervurada, ubíqua sulamita, ninfa alvaiade, náutila lupina, mielina menina da fronteira.
(Do poema-plaquete Letra Negra. São Paulo: Arqueria, 2010.)
RELENDO MOI-MÊME
SANGUE
Azul,
o que dói;
dentro, tua face,
diz a teu sangue.
Suplica, grita;
fala é menos que
gesto. Tempo
de sutura,
diz ao vermelho.
Olhe (dentro)
da carne animal:
só o avesso.
Fala, corte branco,
sol no espelho
da faca. Voz:
ruído de metal,
cascata de ecos,
ouve o teu silêncio.
Não a flor, nem
a hóstia; só o seco
esterco, estrume,
resíduo da fome.
Eis o tempo, soa
a hora. Dizer,
é o de menos: abre
a veia, e então
cauteriza, pacifica
o teu vermelho.
1999
(Do livro A Sombra do Leopardo. Segunda edição: Rio de Janeiro: ed. Multifoco – Selo Orpheu, 2010.)
quarta-feira, 4 de maio de 2011
GRUPO OSNÁUTICOS NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
Francesca Cricelli e Alex Dias, do grupo OSNÁUTICOS, lerão poemas de autores italianos traduzidos por Haroldo de Campos no evento Poesia dos 4 Cantos. O evento, que contará também com a participação da cantora Ligiana, acontecerá no dia 12 de MAIO, quinta-feira, das 20h30 às 22, na Praça das Bibliotecas do Centro Cultural Paulo, localizado na rua Vergueiro, 1.000, próximo à estação do metrô. A entrada é franca e não será necessário retirar convites.
terça-feira, 3 de maio de 2011
PROGRAMAÇÃO DE LITERATURA NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO, EM MAIO
CLUBE DE LEITURA DE POESIA
Dia 11/5 – quarta-feira, das 19h30 às 21h
O poeta e tradutor uruguaio Alfredo Fressia conversará com o público sobre sua carreira literária e fará leitura de seus poemas em espanhol e em português. Em seguida, o público será convidado a fazer perguntas, num bate-papo informal.
Entrada franca (sem necessidade de retirada de ingressos) - Restaurante Graffiti
POESIA DOS 4 CANTOS
Dia 12/5 – quinta-feira, das 20h30 às 22h
Recital poético-musical com OsNáuticos. O ciclo Poesia dos 4 Cantos, em sua edição de maio, apresentará um recital poético-musical dedicado a autores italianos traduzidos por Haroldo de Campos, dentro das comemorações do Ano da Itália no Brasil. O recital será apresentado pelo grupo Os Náuticos, formado por Alex Dias, Francesca Cricelli e com a participação da cantora Ligiana.
Entrada franca (sem necessidade de retirada de ingressos) - Praça das Bibliotecas
POETAS DE CABECEIRA
Dia 17/5 – terça-feira, das 19h30 às 21h
Donizete Galvão faz palestra sobre o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, comentando biografia, época e importância do autor para a renovação da literatura brasileira e, sobretudo, sua experiência pessoal como leitor da poesia de Drummond.
Entrada franca (sem necessidade de retirada de ingressos) - Sala de Debates da Biblioteca.
Dia 11/5 – quarta-feira, das 19h30 às 21h
O poeta e tradutor uruguaio Alfredo Fressia conversará com o público sobre sua carreira literária e fará leitura de seus poemas em espanhol e em português. Em seguida, o público será convidado a fazer perguntas, num bate-papo informal.
Entrada franca (sem necessidade de retirada de ingressos) - Restaurante Graffiti
POESIA DOS 4 CANTOS
Dia 12/5 – quinta-feira, das 20h30 às 22h
Recital poético-musical com OsNáuticos. O ciclo Poesia dos 4 Cantos, em sua edição de maio, apresentará um recital poético-musical dedicado a autores italianos traduzidos por Haroldo de Campos, dentro das comemorações do Ano da Itália no Brasil. O recital será apresentado pelo grupo Os Náuticos, formado por Alex Dias, Francesca Cricelli e com a participação da cantora Ligiana.
Entrada franca (sem necessidade de retirada de ingressos) - Praça das Bibliotecas
POETAS DE CABECEIRA
Dia 17/5 – terça-feira, das 19h30 às 21h
Donizete Galvão faz palestra sobre o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, comentando biografia, época e importância do autor para a renovação da literatura brasileira e, sobretudo, sua experiência pessoal como leitor da poesia de Drummond.
Entrada franca (sem necessidade de retirada de ingressos) - Sala de Debates da Biblioteca.
Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Rua Vergueiro, n. 1.000
(Próximo à estação Vergueiro do Metrô)
domingo, 1 de maio de 2011
POEMAS DE HENRI MICHAUX
MAGIA
I
Antigamente eu era muito nervoso. Agora estou num novo caminho:
Coloco uma maçã em cima da mesa. Depois me coloco dentro da maçã. Que tranquilidade!
Isso parece simples. Entretanto, havia vinte anos que tentava; e não teria conseguido, querendo começar por ali. Por que não? Talvez me sentisse humilhado em virtude de seu tamanho diminuto e de sua vida opaca e lenta. É provável. Os pensamentos da camada inferior raramente são belos.
Então comecei de outra forma e me uni ao Escalda.
Em Anvers, onde eu o encontrava, o Escalda é largo e importante e movimenta um grande fluxo. Ele recebe os navios de alto bordo que se aproximam. É um rio, um verdadeiro rio.
Decidi unir-me a ele. Permanecia no cais o dia inteiro. Mas eu me dispersava em numerosas e inúteis perspectivas.
E depois, à minha revelia, olhava as mulheres de vez em quando, e isso não condiz com um rio, nem com uma maçã, nem com nada na natureza.
Então o Escalda e mil sensações. O que fazer? Subitamente, tendo renunciado a tudo, encontrei-me..., não direi em seu lugar, pois, na verdade, nunca foi exatamente assim. Ele corre incessantemente (eis uma grande dificuldade) e desliza em direção à Holanda onde encontrará o mar e a altitude zero.
Retorno à maçã. Lá, novamente, houve tateios, experiências; é uma longa história. Partir é pouco cômodo, assim como falar sobre isso.
Mas, em uma palavra, posso dizer-lhes. Sofrer é a palavra.
Quando cheguei à maçã, estava congelado.
II
Assim que a vi, desejei-a.
De início, para seduzi-la, disseminei planícies e planícies. Planícies saídas do meu olhar estendiam-se doces, amáveis, reconfortantes.
As idéias de planície foram ao encontro dela e, sem o saber, ela as percorria, sentindo-se satisfeita.
Percebendo-a bem segura, eu a possuí.
Isso feito, depois de um pouco de repouso e quietude, voltando ao meu natural, deixei reaparecerem minhas lanças, meus trapos, meus precipícios.
Ela sentiu um grande frio e que tinha se enganado completamente a meu respeito.
Ela foi embora, a fisionomia desfeita e esvaziada, como se tivesse sido roubada.
III
I
Antigamente eu era muito nervoso. Agora estou num novo caminho:
Coloco uma maçã em cima da mesa. Depois me coloco dentro da maçã. Que tranquilidade!
Isso parece simples. Entretanto, havia vinte anos que tentava; e não teria conseguido, querendo começar por ali. Por que não? Talvez me sentisse humilhado em virtude de seu tamanho diminuto e de sua vida opaca e lenta. É provável. Os pensamentos da camada inferior raramente são belos.
Então comecei de outra forma e me uni ao Escalda.
Em Anvers, onde eu o encontrava, o Escalda é largo e importante e movimenta um grande fluxo. Ele recebe os navios de alto bordo que se aproximam. É um rio, um verdadeiro rio.
Decidi unir-me a ele. Permanecia no cais o dia inteiro. Mas eu me dispersava em numerosas e inúteis perspectivas.
E depois, à minha revelia, olhava as mulheres de vez em quando, e isso não condiz com um rio, nem com uma maçã, nem com nada na natureza.
Então o Escalda e mil sensações. O que fazer? Subitamente, tendo renunciado a tudo, encontrei-me..., não direi em seu lugar, pois, na verdade, nunca foi exatamente assim. Ele corre incessantemente (eis uma grande dificuldade) e desliza em direção à Holanda onde encontrará o mar e a altitude zero.
Retorno à maçã. Lá, novamente, houve tateios, experiências; é uma longa história. Partir é pouco cômodo, assim como falar sobre isso.
Mas, em uma palavra, posso dizer-lhes. Sofrer é a palavra.
Quando cheguei à maçã, estava congelado.
II
Assim que a vi, desejei-a.
De início, para seduzi-la, disseminei planícies e planícies. Planícies saídas do meu olhar estendiam-se doces, amáveis, reconfortantes.
As idéias de planície foram ao encontro dela e, sem o saber, ela as percorria, sentindo-se satisfeita.
Percebendo-a bem segura, eu a possuí.
Isso feito, depois de um pouco de repouso e quietude, voltando ao meu natural, deixei reaparecerem minhas lanças, meus trapos, meus precipícios.
Ela sentiu um grande frio e que tinha se enganado completamente a meu respeito.
Ela foi embora, a fisionomia desfeita e esvaziada, como se tivesse sido roubada.
III
Acho difícil acreditar que isso seja natural e conhecido por todos. Às vezes eu fico tão profundamente entranhado em mim mesmo numa bolha única e densa que, sentado sobre uma cadeira, a menos de dois metros da lâmpada colocada sobre a mesa de trabalho, é com grande dificuldade e após um longo tempo que, apesar dos olhos bem abertos, consigo lançar um olhar até ela.
Uma emoção estranha toma conta de mim quando dou esse depoimento sobre o círculo que me isola.
Parece-me que um obus ou até mesmo um raio não conseguiriam me atingir de tantas camadas de todas as partes que tenho aplicadas sobre mim.
Simplesmente, seria bom que a raiz da angústia estivesse enterrada por algum tempo.
Nesses momentos eu tenho a imobilidade de uma cova.
IV
Este dente da frente cariado me enfiava as suas agulhas muito acima da raiz, quase sob o nariz. Terrível sensação!
E a magia? Talvez, mas então é preciso alojar-se em bloco quase sob o nariz. Que desequilíbrio! E eu hesitava, ocupado com outras coisas, um estudo sobre a linguagem.
Nesse momento uma velha otite, que dormia há cinco anos, despertou com sua fina perfuração no fundo da orelha.
Portanto, eu precisava me decidir. Molhado, melhor lançar-se à água. Abalado em sua posição de equilíbrio, melhor procurar outra.
Abandono então o estudo e me concentro. Em três ou quatro minutos, elimino a dor da otite (eu conhecia o caminho). Quanto ao dente, precisaria do dobro de tempo. Ela ocupava um lugar tão ridículo, quase sob o nariz. Por fim ela desaparece.
É sempre assim; só a primeira vez é uma surpresa. A dificuldade é encontrar o lugar da dor. Assegurado o lugar, é só dirigir-se naquela direção, às apalpadelas na sua noite, procurando circunscrevê-lo (por não terem concentração, os ansiosos sentem a dor em todos os lugares), depois, à medida que é circundado, deve-se observá-lo mais cuidadosamente, pois ele se torna menor, menor, dez vezes menor que uma ponta de agulha; todavia, você o vigia sem descanso, com atenção crescente, projetando nele sua euforia até que não haja diante de você nenhum núcleo de dor. Você realmente o encontrou.
Agora, é preciso permanecer ali sem esforço. Cinco minutos de concentração devem produzir uma hora e meia ou duas horas de calma e insensibilidade. Falo em relação aos homens que não são especialmente fortes ou dotados; por sinal é o “meu tempo”.
(Por causa da inflamação dos tecidos, subsiste uma sensação de pressão, de pequeno volume isolado, como subsiste após a injeção de um líquido anestésico.)
V
Sou tão fraco (eu o era, sobretudo), que se pudesse coincidir em espírito com o que quer que fosse, eu seria imediatamente subjugado e engolido por ele e estaria inteiramente sob sua dependência; mas eu fico de olho, atento, antes aferrado a ser sempre muito exclusivamente eu.
Graças a essa disciplina, agora tenho chances cada vez maiores de nunca coincidir com nenhum espírito e de poder circular livremente nesse mundo.
Melhor assim! Tendo me fortalecido a esse ponto, lançarei um desafio ao mais poderoso dos homens. O que a sua vontade me faria? Eu me tornei tão agudo e circunstanciado que, estando diante dele, ele não conseguiria encontrar-me.
Uma emoção estranha toma conta de mim quando dou esse depoimento sobre o círculo que me isola.
Parece-me que um obus ou até mesmo um raio não conseguiriam me atingir de tantas camadas de todas as partes que tenho aplicadas sobre mim.
Simplesmente, seria bom que a raiz da angústia estivesse enterrada por algum tempo.
Nesses momentos eu tenho a imobilidade de uma cova.
IV
Este dente da frente cariado me enfiava as suas agulhas muito acima da raiz, quase sob o nariz. Terrível sensação!
E a magia? Talvez, mas então é preciso alojar-se em bloco quase sob o nariz. Que desequilíbrio! E eu hesitava, ocupado com outras coisas, um estudo sobre a linguagem.
Nesse momento uma velha otite, que dormia há cinco anos, despertou com sua fina perfuração no fundo da orelha.
Portanto, eu precisava me decidir. Molhado, melhor lançar-se à água. Abalado em sua posição de equilíbrio, melhor procurar outra.
Abandono então o estudo e me concentro. Em três ou quatro minutos, elimino a dor da otite (eu conhecia o caminho). Quanto ao dente, precisaria do dobro de tempo. Ela ocupava um lugar tão ridículo, quase sob o nariz. Por fim ela desaparece.
É sempre assim; só a primeira vez é uma surpresa. A dificuldade é encontrar o lugar da dor. Assegurado o lugar, é só dirigir-se naquela direção, às apalpadelas na sua noite, procurando circunscrevê-lo (por não terem concentração, os ansiosos sentem a dor em todos os lugares), depois, à medida que é circundado, deve-se observá-lo mais cuidadosamente, pois ele se torna menor, menor, dez vezes menor que uma ponta de agulha; todavia, você o vigia sem descanso, com atenção crescente, projetando nele sua euforia até que não haja diante de você nenhum núcleo de dor. Você realmente o encontrou.
Agora, é preciso permanecer ali sem esforço. Cinco minutos de concentração devem produzir uma hora e meia ou duas horas de calma e insensibilidade. Falo em relação aos homens que não são especialmente fortes ou dotados; por sinal é o “meu tempo”.
(Por causa da inflamação dos tecidos, subsiste uma sensação de pressão, de pequeno volume isolado, como subsiste após a injeção de um líquido anestésico.)
V
Sou tão fraco (eu o era, sobretudo), que se pudesse coincidir em espírito com o que quer que fosse, eu seria imediatamente subjugado e engolido por ele e estaria inteiramente sob sua dependência; mas eu fico de olho, atento, antes aferrado a ser sempre muito exclusivamente eu.
Graças a essa disciplina, agora tenho chances cada vez maiores de nunca coincidir com nenhum espírito e de poder circular livremente nesse mundo.
Melhor assim! Tendo me fortalecido a esse ponto, lançarei um desafio ao mais poderoso dos homens. O que a sua vontade me faria? Eu me tornei tão agudo e circunstanciado que, estando diante dele, ele não conseguiria encontrar-me.
Traduções: Izabela Leal