Para Rodrigo de Souza Leão
Flor occipital é o nome da cabeça.
Linhas, volumes.
Uma escrita de ossos, nervos,
orbes, lembranças.
Palavras que se perderam em algum lugar
que você evita.
Cenários que surgem de repente
como lagos, cristais,
pequenas facas
brancas.
Uma cobra que não é o Nome que escorre em seus lábios.
Árvore que não diz mais nem menos
do que
isto.
Há um aprendizado para a loucura?
Você esmaga um inseto entre os dedos
mas a sensação
permanece.
É um calafrio que você não pode explicar.
Fibras, tudo são fibras de um tecido miraculoso.
Um tapete oriental
em forma de rim,
no qual somos um minúsculo detalhe,
formiga que cavalga o dorso de um dragão.
Na palma, no pulso, na pele,
você pensou ter sentido os jogos da noite,
mãos fugidias, voz emudecida,
nenhum tabuleiro
ou peão.
Esta não é a face de um sonho,
menos luz, nenhuma membrana,
caralho, você grita
aos miolos de pão.
Formigas de ninguém atravessam de um lado a outro
o canteiro
do jardim.
Existe a ilusão do amor e dentes, dentes, dentes.
Porque tudo é real.
A pedra que explode nas têmporas.
A Terra em forma de cálice.
A palavra que se reproduz como as aves no Palácio da Deusa da Lua.
O sentido é apenas a sombra.
Sou a fome de uma claridade que não haverá jamais.
Porque os ritmos, os ritmos, os ritmos.
Porque o riso da cadela.
Celan e a “loucura aberta de um poro”.
Nenhuma saída para parte alguma.
Caranguejos à deriva na chuva, um retrato, um nome
que não é a cobra
que não escorre
em teus lábios.
Jogar-se na sombra em busca do sentido de mascar folhas de cobre.
Jogar-se na sombra em busca do íntimo escaravelho
tatuado na buceta
da Senhora Linguagem.
Jogar-se na sombra porque pedra é mais do que grito é mais do que esquilo
é mais do que o turvo
uivo
da lacraia.
Escrever poesia não é um trabalho para homens delicados.
Flor occipital é o nome da cabeça.
Aqui estão todos os jogos, todos os mapas, todas as palavras,
inclusive aquelas por inventar.
Flor occipital é o nome da cabeça.
Tua voz.
Tuas faces.
Tuas mandalas de ternura e escárnio.
A desfiguração de linhas no corpo convulsivo, explodindo lêmures.
Esmeralda.
Tudo se inicia e termina com a encantação da esmeralda.
2011
Ainda é permitido dizer alguma coisa? Comentar não seria já começar a destruir essa mandala tão bem construída? Tantas palavras, como um mapa, um trajeto, uma sugestão, uma iniciação: flor occipal,insetos esmagados, tapete em forma de rim, formiga no dorso de dragão, íntimo escaravelho tatatuado na buceta da senhora linguagem, uivo de lacraia, início e termino, esmeralda.
ResponderExcluirAinda é permitido dizer alguma coisa?
Caro Diogo, pode comentar à vontade.
ResponderExcluirAbraço,
CD
Adorei e muito! Se apresentado, em leitura em voz alta, há uma interpretação interessante.
ResponderExcluirTem muito ritmo e consegue-se formar as imagens...
Excelente.
Senti o Rod... Obrigada por isso.
ResponderExcluirRosa Pena
"Flor occipital é o nome da cabeça."
ResponderExcluirUma anatomia desvelada pela estrutura do texto, que se vai sedimentando; imagens ora singelas, ora rudes, algo comoventes; a linguagem e a coisa... Agradou-me. Poema bonito.
Desculpe uma intrusão.
Cheguei aqui pelo blog da Mariana Campos.
"Flor occipital é o nome da cabeça" é genial!
ResponderExcluir