BALADA
(Em memória de uma poeta suicida)
Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o fato
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mais intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura),
Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirma-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência, mas tanta ternura!
Cruel foi teu triunfo, torpe mar.
Celebrara-te tanto, te adorava
De fundo atroz à superfície, altar
De seus deuses solares - tanto amava
Teu dorso cavalgado de tortura!
Com que fervor enfim te penetrou
No mergulho fatal com que mostrou
Tanta violência, mas tanta ternura!
Envoi
Senhor, que perdão tem o meu amigo
Por tão clara aventura, mas tão dura?
Não está mais comigo. Nem conTigo.
Tanta violência. Mas tanta ternura.
o mário foi também um dos maiores críticos de poesia do brasil (direto, jornalístico, drástico, claro). na transcrição deste poema, balada, há um verso errado - De monstros cegos contra só um delfim - é De monstros cegos contra um só delfim. e faltou a parte do envoi, quatro versos. um dos melhores poemas brasileiros do século, sem dúvida, como atestam várias antologias
ResponderExcluirCaro Edson, grato pelas correções ao poema, já realizadas. Sim, o Mário Faustino foi um dos maiores poetas-críticos brasileiros. Os seus artigos publicados na imprensa e depois reunidos no volume Poesia-Experiência foram essenciais em minha primeira formação literária (eu os li quando tinha 17 ou 18 anos). A Companhia das Letras publicou, em 2003 ou 2004, dois volumes com todos os seus textos de crítica, voltarei ao assunto aqui no blog. É um autor para se reler sempre.
ResponderExcluirAbraço,
CD