CROMO
andamos pelo mundo
experimentando a morte
dos brancos cabelos das palavras
atravessamos a vida com o nome do medo
e o consolo dalgum vinho que nos sustém
a urgência de escrever
não se sabe para quem
o fogo a seiva das plantas eivada de astros
a vida policopiada e distribuída assim
através da língua... gratuitamente
o amargo sabor deste país contaminado
as manchas de tinta na boca ferida dos tigres de papel
enquanto durmo à velocidade dos pipelines
esboço cromos para uma colecção de sonhos lunares
e ao acordar... a incoerente cidade odeia
quem deveria amar
o tempo escoa-se na música silente deste mar
ah meu amigo... como invejo essa tarde de fogo
em que apetecia morrer e voltar
(Do livro Salsugem, 1984)
Prezado Prof. Claudio Daniel
ResponderExcluirApetece mesmo degustar o sabor das palavras do poeta português. Formidável.
São justamente suas palavras as que nos "atravessam". Seus poemas nos fazem olhar os olhos da morte e de tudo que desafia a vida.
ResponderExcluir"Experimentar" um poema do Al Berto é se perder num imaginário que nos espanta, de tão real.
Cláudio, suas escolhas são sempre de um timbre maiúsculo.
Um abraço.
Katyuscia, grato pelo comentário!
ResponderExcluirBeso,
CD