O SONO
Amaldiçoados, veneno escuro,
Sono branco!
Este jardim estranhíssimo
De árvores entardecentes
Fartas de serpentes, falenas,
Aranhas, morcegos.
Forasteiro!
Tua sombra perdida
No crepúsculo,
Um obscuro corsário
No mar salgado da tribulação.
Esvoaçam pássaros brancos na aba da noite
Sobre cadentes cidades
De aço.
CLAMOR
Sono e morte, as águias da sombra
Esvoaçam noite adentro nesta fronte:
O dourado retrato dos homens
Teriam-no tragado as ondas gélidas
Da eternidade.
Em recife horrível
Esfacela-se a carne púrpura
E a voz escura clama
Sobre o mar.
Irmã de irada angústia, mira:
Uma frágil jangada naufraga
Sob estrelas, face
A face da noite que se cala.
Traduções: André Vallias
George Trakl, poeta austríaco, nasceu em Salzburgo, em 1887. É um dos mais importantes nomes da poesia de língua alemã do século XX. Sua juventude foi marcada pela leitura dos poetas malditos franceses, como Rimbaud e Baudelaire. Consumidor regular de entorpecentes, nutriu paixão incestuosa pela irmã. Após diplomar-se em Farmácia, serviu no front em Grodek, durante a I Guerra Mundial, fato que o marcou profundamente, levando-o ao suicídio, por overdose de cocaína, em 1914. Deixou dois volumes de versos, Poemas e Sebastião em Sonho.
ResponderExcluir