quinta-feira, 15 de julho de 2010
DOIS POEMAS DE CÉSAR MORO
A ÁGUA LENTA O CAMINHO LENTO
A água lenta o caminho lento os acidentes lentos
Uma queda suspensa no ar o vento lento
O passo lento do tempo lento
A noite não termina e o amor se faz lentamente
As pernas se cruzam e se juntam lentas para deitar raízes
a cabeça cai os braços se levantam
O céu da cama a sombra cai lenta
teu corpo moreno como uma catarata cai lento
No abismo
Giramos lentamente pelo ar quente do quarto cálido
As borboletas noturnas parecem grandes carneiros
Agora seria fácil destroçarmo-nos lentamente
tua cabeça gira tuas pernas me envolvem
tuas axilas brilham na noite com todos teus pêlos
tuas pernas nuas
No ângulo preciso
O cheiro de tuas pernas
A lentidão da percepção
O álcool lentamente me deixa alto
O álcool que brota de teus olhos e que mais tarde
Fará crescer tua sombra
Alisando o cabelo lentamente subo
Até teus lábios de fera
Tradução: Claudio Daniel
VIAGEM ATÉ A NOITE
É minha morada suprema, da qual não se retorna
Krishna, no Bhagavad Gita
Como uma mãe sustentada por galhos fluviais
De espanto e de luz da origem
Como um cavalo esquelético
Radiante de luz crepuscular
Atrás a ramagem densa de árvores e árvores de angústia
Cheio de sol o caminho de estrelas marinhas
O estoque fulgurante
De dados perdidos na noite cabal do passado
Como um ofegar eterno se sai à noite
Ao vento tranqüilo passam os javalis
As hienas fartas de rapina
Rompido ao largo o espetáculo mostra
Faces sangrentas de eclipse lunar
O corpo em labareda oscila
Pelo tempo
Sem espaço cambiante
Pois o eterno é o imóvel
E todas as pedras arrojadas
Ao vendaval aos quatro pontos cardeais
Voltam como pássaros solitários
Devorando lagoas de anos derruídos
Insondáveis teias de aranha de tempo caído e lenhoso
Vacuidades enferrujadas
No silêncio piramidal
Morticínio pestanejante esplendor
Para dizer-me que ainda vivo
Respondendo por cada poro de meu corpo
Ao poderio de teu nome oh poesia
Lima, a horrível, 24 de julho ou agosto de 1949.
Tradução: José Arnaldo Villar.
Claudio, o César Moro era magnífico, não era? Toda a obra dele. Eu tenho certa preferência pela "Tortuga ecuestre" -esse amor pelo tal Antonio, o mexicano- mas a longa etapa em Paris também contém poemas que deveriam ser mais conhedcidos no Brasil. (Há lembranças -imperdíveis- das aulas de francês dele, são do Mario Vargas Llosa, que foi seu aluno na Escola Militar de Lima, acham-se na internet, recomendo). Abraço,
ResponderExcluirAlfredo
Caríssimo Alfredo, é uma honra tê-lo a bordo da Pele de Lontra! Sim, o César Moro é um belíssimo poeta, que merecia ter livro traduzido no Brasil. Conheço dele apenas os poemas que saíram na antologia de poesia peruana organizada por Reynaldo Jiménez, e fiquei encantado. O abraço do
ResponderExcluirClaudio
Honra minha, Claudio. Eis o link da página do Vargas Llosa:
ResponderExcluirhttp://www.clubcultura.com/clubliteratura/clubescritores/vargasllosa/raros_cesar.htm
Mon cher Alfredo, je te remercie...
ResponderExcluirAmitiés,
CD