domingo, 23 de maio de 2010
UM POEMA DE ALFREDO FRESSIA
HORA DE SAL
Esta é a hora amarela dos lobos.
Esta é a hora dos ossos incendiados
como colunas ocas ao pé de sua queda.
(Há duas mil pistas de sabujos
até as unhas profanadas de todas as estátuas.)
Esta é a hora composta em que o ator suado
grita seu penúltimo monólogo
— e na praia a rocha não resiste sua horrível nudez,
a areia assobia seu delírio
na boca esquelética do peixe morto e seco.
O grito do ator cava um túnel de medo
porque esta é a hora dos lobos,
porque esta é a hora do sal ameaçando
as costas esgotadas das cruzes.
Esta é a hora em que viram de costas os relógios.
Esta é a hora em que o osso não resiste seu desvario de séculos.
Aqui já não suporta o pó suas colunas.
Derrubam-se as torres em sal e dinamite
para romper o último grito da estátua.
Aqui a boca quebrada das pedras.
Tradução: Fábio Aristimunho Vargas.
(Do livro Canto desalojado, de Alfredo Fressia. Bauru: Lumme Editor, 2010.)
Em tempo: os livros da Lumme Editor podem ser encomendados pelo e-mail vendas@lummeeditor.com
ResponderExcluirExcelente poema! Forte como um cavalo pisoteando lobos!
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