No dia 06 de maio, acordei cedo, peguei o metrô até o Cais do Sodré e fiz um passeio de barco sobre o rio Tejo. Após chegar à outra margem, desci para tomar uma cerveja e fiquei observando as placas com os nomes curiosos de alguns bares: “Atira-te ao rio” e “Ponto final”. Descobri um elevador que conduzia até o alto de um mirante, chamado “Boca do Vento”, e não resisti à tentação de subir, para contemplar bem do alto a paisagem portuária. Depois, caminhei sem destino até chegar ao bairro da Almada, com suas ruas estreitas, casas antigas com ladrilhos nas paredes e sacadas nas janelas. Encontrei um cinema chamado “Cine Incrível”, a sede da “Sociedade Filarmônica Incrível Almadense” e um pequeno museu dedicado à Revolução dos Cravos, que ostentava na fachada a frase “O povo é quem mais ordena”, extraída da canção Grândola Vila Morena. Era um dia de sol, e caminhar de modo aleatório por aquelas ruas, notando estas cenas cotidianas, mas inusitadas para mim, parecia uma aventura fascinante. Consegui, não sei como, chegar até uma estação de metrô, que levou-me até a Praça Marquês de Pombal. Fiz nova visita à feira de livros, onde comprei A Ampola Miraculosa, romance visual do poeta surrealista português Alexandre O'Neill, que recorda um pouco as experiências de narrativa visual de Valêncio Xavier (O Mez da Grippe) e de Sebastião Nunes (Antologias Mamalucas) e ainda outra obra bem singular, Acaba de Aparecer o Quadrado Azul, de Almada Negreiros, o mais construtivista dos poetas da geração de Orpheu. Por fim, voltei ao hotel e descansei por algumas horas antes de ir para o Festival Tordesilhas, na Casa Fernando Pessoa, onde fui mediador num debate sobre o tema “A poesia contemporânea de língua portuguesa na África”, com os poetas Jorge Arrimar (Angola), Jorge Viegas e Delmar Maia Gonçalves (Moçambique). Após o debate, aconteceu uma breve leitura da poeta portuguesa Catarina Nunes de Almeida, a exibição de um vídeo de Eduardo Jorge e a apresentação de meu livro Escrito em Osso, publicado em Portugal pela editora Cosmorama. No final do evento, saí com Eduardo Jorge, Virna Teixeira e João Henriques para uma noitada num bar da rua das Salgadeiras, frequentado por jovens que se vestem de preto, gostam de botas de cano longo, piercings e fumam excessivamente. A coisa toda foi até as duas horas da madrugada; confesso que já estou meio velho para baladas.
Cláudio, somente um pequeno reparo: Almada é um município, e não bairro de Lisboa. Também muitas vezes fiz o mesmo passeio que tu. Vi que estiveste muito perto da Casa da Cerca, um museu de arte contemporânea com um jardim muito bonito de onde se vê toda a Lisboa, não sei se chegaste a conhecê-la. Mas pronto, tens aí mais um motivo para retornar. O Ponto Final é um lugar muito importante para mim. Foi ali, naquele restaurante, numa mesinha à beira-Tejo, que começou a história que me trouxe a Pamplona. Ler as tuas crónicas alfacinhas me traz bonitas recordações. Eu morava ali perto das Salgadeiras, na rua da Rosa.
ResponderExcluirAbraços,
Oscar
Caro Oscar, grato pela correção.
ResponderExcluirAbraço,
Claudio
claudio, de lisboa trouxe 'poemas ameríndios' (1997), de herberto helder, que certamente você iria gostar. uma jóia. helder trouxe para o português uma centena de poemas de várias culturas indígenas (navajo, papagos, wintus, asteca, entre outras). um trabalho etnopoético incrível. a leitura deste livro está sendo decisiva para o meu livro-poema 'curare' que escrevo no momento. esse livro está sendo a minha lembrança de lisboa. parabéns pelas crônicas lisboetas, que estão deliciosas. abraço!
ResponderExcluirCaro Ricardo, grato pelo comentário! O livro do Helder saiu por qual editora? Abração,
ResponderExcluirCD
Saiu pela Assívio & Alvim, Claudio.
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