No dia 07 de maio, visitei a igreja de São Roque, uma construção do século XVI, localizada no Chiado. A igreja, uma das mais belas de Lisboa, começou como uma simples ermida, que D. Manuel I mandou erigir para abrigar uma relíquia do santo, trazida de Veneza após um surto de peste, em 1505. Quando a Companhia de Jesus chegou a Portugal, em 1540, a ermida foi transformada em igreja, e nos anos seguintes passou por diversas modificações, que podem ser percebidas na mescla de elementos arquitetônicos renascentistas e barrocos. A Capela de Nossa Senhora da Doutrina, decorada com talhas douradas e mármores de influência italiana, recorda algumas igrejas barrocas brasileiras, como as de Recife e Olinda. O excesso visual, a dramaticidade das imagens, toda a atmosfera do lugar parece nos transportar a uma outra dimensão, que seduz os sentidos do espectador pela festa de cores e formas. A estratégia da arte barroca, aliás, era exatamente esta, levar a mensagem da Contra-Reforma aos fiéis apelando para as sensações visuais, auditivas e olfativas (a missa barroca era um verdadeiro teatro, que de certo modo antecipou a "obra de arte total" de Wagner, somando a arquitetura, a música, as artes visuais e outras formas de expressão no ritual de encenação da saga de Cristo). No Museu de São Roque, além de um acervo com peças de arte religiosa, em que se destacam obras como as esculturas de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier em madeira policromada (que chamaram a minha atenção pela vivacidade dos rostos e pelos detalhes das vestes, que simulam movimentos espiralados), é possível ver obras de arte oriental, como uma arca de Macau datada do século XVIII, construída em madeira com incrustações de madrepérola e ferragens metálicas, detalhes com figuras de serpentes e dragões. Uma peça fascinante, que me deixou perturbado por sua beleza. Saindo do museu, perambulei sem rumo pelas ruas do Chiado, e encontrei uma livraria especializada em gravuras e livros antigos. Uma pena eu estar com poucos euros no bolso! À noite, voltei à Casa Fernando Pessoa, para o encerramento do Festival Tordesilhas, com o debate "A poesia de língua portuguesa na era da globalização", com João Miguel Henriques (Portugal), Virna Teixeira e Eduardo Jorge (Brasil). Em seguida, houve um recital com esses poetas e o português Ruy Ventura, e por fim o lançamento do livro Ravenalas, de Horácio Costa, que saiu pela Demônio Negro, e da plaquete Entulho, de João Miguel Henriques, que saiu pela Arqueria Editorial. O final do evento mereceu comemoração em alto estilo, num ótimo restaurante português, com direito a bacalhau, queijos e vinhos.
Bela crônica! Devia se especializar em escrever crônicas de viagem! E bela igreja barroca. Eu amo o barroco! Abraço!
ResponderExcluirClaudio, tenho lido todas as tuas "Crónicas de Lisboa".
ResponderExcluirSó hoje decidi comentar, porque o bacalhau, queijos e vinho...já embarcaram, ou será...j´emborcaram!
Que pena não ter podido aparecer por Lisboa, mas à semana não me é fácil, mas claro, mais pena é não participar num "Tratado" destes.
Espero pelo menos "vingar-me" um pouco, no inicio de Junho, em Vila Nova de Famalicão, no PORTUGUESIA II - 2010, organizada pelo Wilmar Silva e one a festa Lusófona irá brilhar.
Um grande abraço de Coimbra,
joão rasteiro
P.S. - Quem quiser, pode passar pelo "Blog Radioativo", do Márcio André, que já possui a programação da "Portuguesia 2010".
j.r.
Caro Hilton, meu sonho é ser repórter da National Geographic! Abraço,
ResponderExcluirCD
Caro João, ótimo saber do Portuguesia, é preciso estreitar cada vez mais os laços entre os poetas brasileiros e portugueses. Espero poder visitá-lo um dia em Coimbra! O abraço do
ResponderExcluirCD
Prezado CD
ResponderExcluirOs artistas barrocos pareciam mesmo tomados pela incandescência artítica. É realmente perturbador a busca dos detalhes nas obras dessa escola. Quando puder comece a soltar os versos do encontro que mediou e participou.