No céu, a mão esquerda da alvorada: eu sonho.
Na taverna, uma voz escuto na algazarra
Despertai meu pequenos, e enchei bem o copo
Antes que seque o vinho da vida em sua jarra.
Ah enche o copo! De que serve repetir
Que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo?
O amanhã não nasceu e o ontem já morreu,
Por que me hei de importar se o dia de hoje é lindo?
E ao côncavo invertido que se chama o céu,
Sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu,
Não erga tuas mãos, tu que oras. Ele é impotente
No seu guiar, tal qual o somos tu e eu.
O dedo que se move escreve, e tendo escrito,
Se vai. E toda argúcia e piedade, entretanto,
Não o trarão de volta a mudar meia linha,
Nem as palavras podes apagar com o pranto.
E se o vinho que bebes, o lábio que beijas
Finda nesse nada que a tudo dá sumiço,
Imagina, então, que és; não podes ser senão
O que hás de ser – Nada! Não serás menos que isso.
Tradução: Alexandre S. Rocha
(Leiam outros poetas persas na edição de maio da Zunái.)
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