KNAATsépala
fibra de cristal
reflexo
de ouro branco
o musgo
na concha opala
e
o canto
oblíquo
do gafanhoto
tudo isso
— e nada disso —
é o Knaat
AKMAé
o sílex-
lírio-marfil-cimitarra,
gárgula
do incompreensível
silêncio:
é
a nãoverbena, o nãodiamante, o nãopolifemo
o não
anão
(sombra infracta)
o não
(sim!)
a sós
OS CÂNONES DA DORunhas nos sulcos
da pele, em todos
os poros da dor:
a dor que é pedra
no limiar da fala
que verte em suor.
o som do inaudível
uivo — uivo ósseo,
uivo epidérmico —
instila, inflama
todas as suturas
e corre, abissal
em verdes glóbulos
de sonora náusea
e dolorosa repulsa.
(Poemas do livro Sutra, edição do autor, 1992)
Estes poemas são de meu livro de estréia, que reúne peças escritas entre 1983 e 1992. Publiquei o livro pagando de meu próprio bolso, com uma tiragem pequena, de 500 exemplares. É claro que não houve distribuição alguma em livrarias nem saiu qualquer resenha na Folha, na Veja ou no Estadão. Esse livro foi um acontecimento quase clandestino, mas eu recebi duas cartas elogiosas do José Paulo Paes e do Augusto de Campos. Para mim, autor estreante com 30 anos de idade naquela época, isso já me deixou bem contente. Só tive livros resenhados e distribuídos em livrarias muito tempo depois, mas essa é outra história...
ResponderExcluirO que é o corpo para vc Cláudio, na sua poesia? Ele aparece de maneira aguda e em fratura, emergindo de uma sonda de imagens, apontando para uma ossatura de palavras...
ResponderExcluirBj!
Susannah, nunca pensei nisso, mas creio que o corpo aparece de duas maneiras em minha poesia: ou como recurso metonímico, para indicar a fratura da sociedade, dos valores, da vida (aí aparecem ossos, nervos, tendões etc.), ou como recurso metafórico, para indicar o princípio do prazer como sentido da vida (aí aparecem seios, cabelos, lábios, joelhos e outras figuras topográficas do corpo feminino). Em Letra Negra, aparecem as duas coisas. Beso do
ResponderExcluirCD
Pergunto sobre o corpo pois percebo que há uma presença violenta, muitas vezes mesclada a uma eroticidade, que visceralmente encontra na linguagem um modo de lançar sua (a do corpo que dói, a do corpo lancetado, a do corpo que fere porque ferido) resposta. E a imagem do labirinto que se tem nesse percurso descritivo e gestual revela esse eixo visceral, que é violento no tom com que coloca em questão o sujeito e sua dicção. O corpo se metamorfoseia aqui... e se fragmenta em imagens. (caminhando estou ainda, Cláudio).
ResponderExcluirSusannah, sim, há essa dimensão que você cita, já que é pelo corpo que sentimos o máximo de prazer e o máximo de dor (e utilizo essas imagens em vários sentidos, não apenas no plano físico, mas também na crítica cultural e política, p. ex.). Há também a idéia do poema como um corpo, com a sua arquitetura óssea, sua sensibilidade nervosa, enfim, construção e sensibilidade. O resto, deixo para você adivinhar! (rsss)... beso,
ResponderExcluirCD
Ou seja: "sinta quem lê!"
ResponderExcluirBjs! (Vi ses!)
... ou "o que em mim sente está pensando" (rsss)... beso,
ResponderExcluirCD
Claudio
ResponderExcluirQue coisa boa poder conhecer um pouco mais das diversas fases e faces da tua poesia. Estou aqui, me deleitando. Também adoro ouvir tuas convesras com Susannah. Aprendo tanto. :) beijo.