GRITOS
Me deixa te amar
Amo o gosto do teu sangue espesso
Por longo tempo o conservo em minha boca sem dentes
Seu ardor me incendeia a garganta
Amo o teu suor
Amo acariciar tuas axilas
Banhadas de alegria
Me deixa te amar
Me deixa lamber os teus olhos fechados
Me deixa furá-los com a minha língua pontuda
E lhes encher as órbitas com a minha saliva
Me deixa te cegar
* * *
Queres o meu ventre para te nutrires
Queres meus cabelos para te fartares
Queres meus rins meus seios minha cabeça raspada
Queres que eu morra lentamente lentamente
Que eu mumure morrendo palavras de criança
Tradução: José Paulo Paes
Esta tradução foi publicada na antologia Poesia Erótica, organizada e traduzida por José Paulo Paes. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006.
ResponderExcluirDesculpe o radicalismo. Mas para mim, poesia deve ser feita assim. E tenho dito!(rs)
ResponderExcluirClaudio, tenho sido sequestrado com frequência por teus versos, para mim foi uma lufada de insalubridade e surpresa, nesta floresta do "mesmo" que é a produção literária contemporânea.
Caro Rafael, agradeço pela mensagem. E poesia, para mim, tem de ser radical mesmo, o resto são modos de usar o marketing e a mídia... abraço,
ResponderExcluirClaudio
Claudio, o que é uma poesia radical?
ResponderExcluirDora
Dora, o Mallarmé falava no "poder encantatório das palavras"; Jakobson, na capacidade do texto poético em causar a sensação de estranheza no leitor, em contraposição à fala cotidiana, já automatizada e incapaz de gerar surpresa. Basta você ler um poema de Herberto Helder, Paul Celan ou Lezama Lima, por exemplo, e depois comparar com um poema de Adília Lopes, Nicanor Parra ou Antônio Cisneros... enquanto alguns poetas fazem da linguagem poética um rigoroso tecido estrutural, explorando todas as possibilidades de som e imagem para ir além do prosaico, da experiência imediata, do sentido habitual, construindo novas realidades estéticas, outros poetas se contentam com o discurso cotidiano, rotineiro, mimético, sem surpreender o leitor. A poesia que importa, para mim, é aquela que transtorna o idioma e vai (muito) além do lugar-comum... beso do
ResponderExcluirClaudio
Claudio, certamente você não iria se incluir entre Helder, Celan e Lezama Lima para exemplificar a poesia radical. Falar de si próprio normalmente não é lá de muito bom gosto. Mas eu posso fazer isso.
ResponderExcluirDora: os poemas do CD são exemplos de capacidade de nos causar deslumbramento, arrebatamento, estranheza, arrepio, etc. O CD se alinha com aqueles três poetas mencionados. Leia, por exemplo, Letra Negra, do CD. Esse tipo de poesia nada explícita, difícil, às vezes até referida como hermética, exige muita habilidade mental e intelectual para ser escrita.
Dos outros, gosto do Cisneros pelo humor irônico dele.
Abraços,
Chico
Caro Chico, eu citei o Helder, o Celan e o Lezama para ilustrar um conceito de poesia; de maneira nenhuma eu pensaria em me alinhar junto a eles, seria muito narcisismo. Claro que aprendi muito com eles, assim como aprendi com Haroldo, Khlébnikov e outros mestres, e acho suficiente deixá-los assim, como referências de minha escrita e de uma concepção de poesia, nothing more... o abraço do
ResponderExcluirClaudio