IGREJA ABANDONADA
(BALADA DA GRANDE GUERRA)
Eu tinha um filho que se chamava João.
Eu tinha um filho.
Perdeu-se pelos arcos numa sexta-feira de todos os mortos.
Eu o vi brincar nos últimos degraus da missa
e jogava um cubinho de folha-de-flandres no coração do sacerdote.
Golpeei os ataúdes. Meu filho! Meu filho! Meu filho!
Saquei uma pata de galinha por trás da lua e logo
comprendi que minha menina era um peixe
por onde se afastam as carretas.
Eu tinha uma menina.
Eu tinha um peixe morto sob a cinza dos incensários.
Eu tinha um mar. De quê? Meu Deus! Um mar!
Subi a tocar os sinos, mas as frutas tinham vermes
e os fósforos apagados
comiam os trigos da primavera.
Eu vi a transparente cegonha de álcool
aparar as negras cabeças dos soldados agonizantes
e vi as cabanas de borracha
onde giravam as taças cheias de lágrimas.
Nas anêmonas do ofertório te encontrarei, meu coração!,
quando o sacerdote levanta a mula e o boi com seus fortes braços,
para espantar os sapos noturnos que rondam as paisagens geladas do cálice.
Eu tinha um filho que era um gigante,
mas os mortos são mais fortes e sabem devorar pedaços de céu.
Se me filho tivesse sido um urso,
eu não temeria o sigilo dos caimães,
nem teria visto o mar amarrado às árvores
para ser ferido e fodido pelo tropel dos regimentos.
Se meu menino tivesse sido um urso!
Me cobrirei com esta lona dura para não sentir o frio dos musgos.
Sei muito bem que me darão uma manga ou a gravata;
mas no centro da missa eu quebrarei o timão e depois
virá até a pedra a loucura de pinguins e gaviotas,
que dirão aos que dormem e aos que cantam pelas esquinas:
ele tinha um filho.Um filho! Um filho! Um filho
que não era mais que seu, porque era seu filho!
Seu filho! Seu filho! Seu filho!
Tradução: Claudio Daniel
Oi, adorei a poesia... há tempos a procuro... vc sabe onde posso encontrar esse original?
ResponderExcluirObrigado,
E.
Caro, você pode encontrar o livro Poeta en Nueva York, do Federico García Lorca, na livraria Cortez ou na Letraviva, por exemplo; há duas traduções das Obras Completas do poeta espanhol para o português, que eu saiba, mas que não me agradam em termos de resultados estéticos; acho preferível ler em espanhol. O abraço do
ResponderExcluirCD