terça-feira, 20 de outubro de 2009
POETAS DE MACAU (VII)
EXALTAÇÃO DAS TARDES
o sol cai, ouro líquido,
nos lagos de Nam Van
o céu atrás do leque de água
jade e nácar da neblina.
o chá verde, um aroma
e a música que fazes,
rosto e timbre da tarde.
LIÇÃO DE CHÁ
o corpo dela tinha um pacto
com a seda púrpura, vermelha às vezes
a orla do chá na taça, disse o mestre
deve brilhar como um anel.
CHÁ VERDE
pelo olho da libélula
e pelo cão andaluz
pela ladainha em sânscrito
pelo buço de Frida Kahlo
pelos juncos do Rio do Oeste
por um estilhaço de luz
pelos lábios de Hui Neng
pela orquídea de Gong Bei
na cabaia de veludo
debruada a carmim cru
pelo raio de lua no leque
pela insônia do chá
pelos teus cabelos de ébano
derramados no meu colo
pela tua rosa heráldica
nas noites brancas do delta
pela fria, muda espera
das noites quando não vens
pelo eco dos pregões
no pátio do perdedor
pelos noventa guerreiros
que hão-de vir em dois mil
exorcizar os arcanjos
das bandeiras cor de anil
pelas folhas de baniana
pela raiz do ginseng
pelo teu corpo nu dormindo
na madrugada intocado
pela iminência do adeus
pelas asas do pavor
de acordar e não te ver
pela cabaia de damasco
cor de fúcsia e açafrão
pelos bambus em contra-luz
pelo templo de Tou-Tei
quando partir, ficarei
nunca irei quando me for
(Poemas do livro Chá Verde, de Fernanda Dias. Círculo dos Amigos da Cultura de Macau, 2002.)
... quem me apresentou à poesia de Fernanda Dias foi a Mônica Simas, professora de Literatura Portuguesa na USP e especialista em Macau...
ResponderExcluiré muita poesia, muita poesia. quase que resolve a vida.
ResponderExcluirGosto principalmente da composição da cena do primeiro, muito sutil... :-).
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