Caros, tenho de ler vinte obras de literatura portuguesa até o final do ano, para prestar o exame de ingresso no doutorado na USP. Desde os cancioneiros dos trovadores, Os Lusíadas de Camões, Gil Vicente, Padre Vieira, até Herberto Helder e Saramago. Por um lado, esse é um “castigo” quase tão terrível quanto ficar preso numa cela com Angelina Jolie durante uma semana. Por outro lado, tira o meu tempo para outras leituras. O pior de tudo é que estou recebendo muita coisa boa, enviada pelos amigos: Sérgio Medeiros enviou-me o seu livro de poemas mais recente, Sexo Vegetal, um dos trabalhos mais originais de nossa poesia mais recente; Jacineide Travassos, que encontrei em Recife, entregou-me o seu belo Livro dos Ventos; os mexicanos Rodolfo Mata e Ernesto Lumbreras, que encontrei num café em Sampa, presentearam-me com Temporal (livro de Rodolfo) e Caballos en praderas magentas (livro de Ernesto); o português Jorge Melícias enviou-me, há tempos, uma reunião de sua obra poética, intitulada Disrupção; ainda de Portugal, recebi vários títulos de João Rasteiro e Casimiro de Brito; e a Mônica Simas deu-me várias preciosidades, como os poemas de Gao Ge traduzidos por Fernanda Dias (ela própria uma das poetas mais notáveis de Macau, autora de livros como Chá Verde) e um importante livro de sua autoria, Margem do destino: Macau e a literatura em língua portuguesa. Recebi vários outros livros, que não citarei aqui (correndo o risco da injustiça), pois a lista seria longa. Claro que será impossível para mim ler e comentar tudo; só Os Lusíadas já exigem a minha atenção integral há dois meses, uma vez que é leitura que exige consulta constante a dicionários, enciclopédias e obras de referência, para o entendimento mínimo das centenas de referências e citações feitas no poema. Porém, aos poucos, irei comentando na Pele de Lontra algumas coisas interessantes que tenho lido, rápida e esparsamente, enquanto almoço ou tomo o café (hábito incorporado há alguns anos, comer lendo poesia, ou será ler comendo poesia?). Por fim: soube hoje, pela amiga Virna Teixeira, que perdemos 90% da obra de Hélio Oiticica num incêndio ocorrido no Rio de Janeiro, incluindo bólides, parangolés, livros, quadros, filmes e outros documentos e objetos produzidos pelo artista. É um dia de luto para a cultura brasileira (vale a pena perguntar: o que aconteria na França se um incêndio destruísse 90% da obra de Marcel Duchamp, por exemplo?). Confiram um belo poema de protesto publicado por Marcelo Sahea em seu blog, na lista de links ao lado.
Besos,
CD
Taí o ruim... Não é que você queira tirar algum minuto os olhos da Jolie (quem quereria?), mas tem outras que são também tão interessantes! Uma pena pedir que se retirem...
ResponderExcluir"Por fim: soube hoje, pela amiga Virna Teixeira, que perdemos 90% da obra de Hélio Oiticica...". Caralho, 90% é muita, muita coisa... De quanto nós ficamos privados!
Fiquei curiosa quanto ao Sexo Vegetal, do Sérgio Medeiros... Coloca uma hora algum dele aqui.
Eis uma das vantagens da literatura frente às artes plásticas: ela se perpetua nas cópias com a mesma intensidade do original (muito embora uma primeira edição adquira um caráter aurático). É triste perder um acervo que conta a nossa história; as cópias (se tivermos todas) aludem apenas à materialidade dos originais.
ResponderExcluir... há há há há! a brincadeira foi justamente neste sentido: ler Camões (ou dividir uma cela com Angelina Jolie) pode ser ótimo, mas nos priva de outras leituras ou convivências... em meu caso específico, deixo de ler poesia contemporânea e outros textos que me interessam, para me preparar bem para o exame... vou postar algo do livro do Sérgio Medeiros aqui, assim que possível. E perder 90% da obra de um artista como Hélio Oiticica é realmente um crime cultural: as obras deveriam estar seguras num museu, e não na casa do irmão dele, uma total falta de responsabilidade... que absurdo... beso,
ResponderExcluirClaudio
Susanna, é verdade, este é o poder das palavras, que prescindem de um suporte material único para se perpetuarem... o livro pode ter várias edições, em diferentes formatos, idiomas, e até ser adaptado a suportes eletrônicos como o CD... espero que haja fotografias precisas que permitam a reconstrução de parte do acervo de Hélio Oiticica... aí, claro, teremos a seguinte discussão conceital: uma instalação de Oiticica recriada a partir de fotos pode ser considerada obra de Oiticica? Como ficará o conceito de obra "original" numa situação dessas? Beso do
ResponderExcluirClaudio
Oi Claudio, BOA AVENTURA! Eu estou trabalhando com Os Lusíadas, na Graduação, e está sendo fascinante ... Se precisar de algo ... Não tem a Jolie, mas tem a Vênus, a Maria para os mais recatados ...
ResponderExcluirbj,
Monica
... Mônica, me avise quando a nau sairá para o mar desconhecido, e reserve a minha vaga, tenho interesse na expedição, sim. Beso,
ResponderExcluirCD