esta é a maneira de sermos brutais,
com a aspereza
de quem caminha
pelas ruas,
mascando lascas.
não preciso dar explicações
com palavras de madeira,
porque sou impuro
e espontâneo
como a fera.
esta é minha sombra magra, confesso,
estes, os meus passos desordenados.
nenhuma estrela para definir o dramatismo da noite
ao longo da jornada,
nem os ramos
de uma árvore inclinada.
quem considere imprecisa a descrição,
que escreva o seu próprio
rascunho,
com a fúria
violeta
do escaravelho.
sem contar nove vezes
menos um eco,
sigo minha jornada bípede,
de energúmeno.
nada aqui faz sentido para os meus lábios
vociferantes;
e como não venero
deuses de esterco,
nem as clausuras
cíclicas da história,
sigo andando
com minhas omoplatas,
minhas axilas,
meu caralho,
minha testa
desenhada
com símbolos alquímicos,
e um poema
escrito para ninguém
nas linhas torcidas
de meus pulsos.
(Fragmento do poema longo Letra Negra, de Claudio Daniel, que será publicado em breve pelo selo Arqueria.)
Este poema (Letra Negra), que já tive a oportunidade de ler na íntegra é, provavelmente, o mais contundente de todos os poemas que li nos últimos anos. Obter esse grau de contundência sem apelar ao excesso de palavrões e ainda oferecer imagens formidáveis como "a fúria violeta do escaravelho" é tarefa para poucos. Não é um poema fácil nem explícito, mas é de uma riquesa raramente pareada.
ResponderExcluirAvisa quando sair na Arqueria, Claudio.
Caro Chico, agradeço por seu comentário. Escrevi esse poema em pouco mais de uma semana; apesar disso, considero o melhor poema que já escrevi. Com certeza, é o mais sincero. Além da experiência de linguagem (que incorpora recursos como o labirinto de versos), é um documento da minha "temporada no inferno". Avisarei quando estiver publicado. O abraço do
ResponderExcluirClaudio