TREZE CANÇÕES DE AMOR E MORTE PARA ALEJANDRA PIZARNIK
A gaiola virou pássaro, enfaixei suas mãos e coloquei sobre elas pesadas pedras.
Amordacei-as, para que você não sinta dor.
Seus dedos tocam a chuva.
A jaula virou muro, quebraram-se as xícaras e tenho um milhão de cacos nos olhos.
Ceguei-os, para que você não sinta dor.
Chove e meus dedos tocam os seus.
Que a morte seja doce e nos vista de seda.
*
Crisálida pendurada no lustre da sala.
A luz de mercúrio não explica.
Noite adentro, asas dançam aos poucos
e vejo soar um ruflar imóvel.
*
Seu nome chão,
pai e pó.
Mãe,
seu nome.
Você chama.
Arde em mim Alejandra.
Alejandra,
Você,
Seu nome.
*
Um anjo sangra na sacada e ela,
ferida,
mergulha para dentro do sono.
Panos para sempre no varal da infância.
*
A ave sobre o banco do jardim
onde nos tocávamos.
Havia febre.
Sua ausência é essa chuva que me acompanha.
*
Ajoelhei-me para desamarrar as botas e percebi gotas de sangue no cadarço
Chamei por seu nome Alejandra,
enquanto procurava por vestígios nas frestas dos tacos.
*
Vidro líquido na retina
Corpo coberto de espelhos
Fogo Fátuo,
Hálito que perfuma meus pés.
*
O corpo lançado ao mar foi feito em pedaços por peixes famintos.
Nunca atraiu as românticas ostras,
que permaneceram fechadas sobre suas pérolas.
*
Um animal invade a noite trágica.
Com cólera de fera e sangue nos olhos,
rompe a margem do espelho.
*
Acabou o banquete dos mortos.
Na areia do deserto escrevo seu nome.
Alejandra,
Água viva
Sol aceso no céu da boca.
*
Punhos cerrados.
Escorre entre os dedos uma alma delicada de mulher.
*
Tenho medo de não saber nomear o que não existe.
Ela não existe.
*
Vem lua,
Vem sol e eu
jamais estive aqui nessa fogueira imprecisa.
Alejandra,
meu amor ,
me diga:
(Leiam mais poemas da Adriana na edição de agosto da Zunái.)
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