segunda-feira, 20 de julho de 2009
DO LIVRO POETA EM NOVA YORK (IX)
NORMA E PARAÍSO DOS NEGROS
Odeiam a sombra do pássaro
sobre a preamar da face branca
e o conflito de luz e vento
no salão da neve fria.
Odeiam a flecha sem corpo,
o lenço exato da despedida,
a agulha que mantém pressão e rosa
no gramíneo rubor do sorriso.
Amam o azul deserto,
as vacilantes expressões bovinas,
a mentirosa lua dos pólos,
a dança curva da água na margem.
Com a ciência do tronco e do rastro
povoam a argila de nervos luminosos
e patinam lúbricos por águas e areias
degustando o amargo frescor de sua milenar saliva.
É pelo azul crepitante,
azul sem um verme nem uma trilha adormecida,
onde os ovos de avestruz permanecem, eternos,
e perambulam intactas as chuvas dançarinas.
É pelo azul sem história,
azul de uma noite sem temor do dia,
azul onde a nudez do vento vai partindo
os camelos sonâmbulos das nuvens vazias.
É ali onde sonham os torsos sob a gula da erva.
Ali os corais empapam o desespero da tinta,
os adormecidos apagam seus perfis sob a madeixa dos caracóis
e permanece o oco da dança sobre as últimas cinzas.
Tradução: Claudio Daniel
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